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Festival Extramuralhas’19, dia 30 – “It’s All Over Now”. O Adeus a Siglo XX.

Ainda a recuperar da noite anterior rumámos até ao Museu de Leiria para assistir a uma estreia em Portugal – Les Fragments de La Nuit. Esta banda apresentou-se no festival em Leiria com Ombeline Chardes (primeiro violino, voz), Béatrice Lopez (segundo violino), Clara Lefèvre-Perriot (viola de arco), Delva Léna (violoncelo) e Dessislava Patrouilleau (piano). Às 17h o pátio do museu já se encontrava cheio para receber este quinteto francês. Sentámo-nos e o concerto começou. Mais uma vez o espaço e a música fundiram-se de uma forma soberba. As arcadas deste local prenderam-nos o olhar e as melodias irromperam os ouvidos, o museu, os arredores. O dramatismo, a melancolia acertaram-nos em cheio. Se fechássemos os olhos podíamos construir a imagem do que elas nos iam cantando. Já o espetáculo ia a meio quando nos pediram para imaginar que estávamos num bosque à noite, para recriarmos esse ambiente para elas atuarem. Infelizmente não temos tanto talento quanto as artistas a tocaram mas tentámos. A primeira violista, vocalista e compositora Ombeline Chardes foi uma ótima anfitriã ao longo daquela hora. Com tamanha delicadeza deu-nos a mão ao longo daqueles magníficos minutos e nós, rendidos, fomos com ela, com elas.

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Neste segundo dia de EXTRAMURALHAS os concertos no Teatro José Lúcio começaram mais cedo, do que é habitual, e às 20h30 já estávamos devidamente instalados para testemunhar o último concerto da carreira dos emblemáticos belgas Siglo XX. Esta banda formou-se em 1978 e terminou na noite de 30 de Agosto de 2019 um ciclo. Nós, privilegiados, assistimos ao final. Dissemos adeus. Tal como a grande maioria da plateia também os seis elementos da banda estavam vestidos de preto. O momento era solene, era história. A postura, a atitude do vocalista prendeu-nos a atenção. A similitude da sua voz com a do Ian Curtis, Joy Division, é notória. A energia, a destreza, a qualidade com que tocaram fizeram-nos esquecer que já têm 40 de existência, que há 25 anos que não pisavam um palco. No tema “Sister Suicide” uma espetadora que se encontrava à frente, levantou-se e dançou desinibidamente. O poder da música, quando nos toca, é esse mesmo. Deixa-nos levar. Na parede era visível a projeção da sua sombra, da sombra do vocalista. São momentos como estes que ficam tatuados na retina e sobrevivem à passagem do tempo. Após uma merecida ovação de pé a banda regressou para o encore e terminaram com a música “It´s All Over Now”. Assim chegámos ao fim, vimos o fim.

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Respirámos fundo, viemos até à entrada descomprimir e passado um quarto de hora retomámos as festividades. Era hora dos Test Dept agitarem consciências. Que potente, sonora, crua bizarria industrial. Que despertar contra o consumismo, o conservadorismo da cultura política e musical dominante. Que tomada de posição a alto e bom som. Utilizaram desperdícios industriais como instrumentos de percussão criando uma atmosfera metálica, acutilante. Tudo isto juntamente com a bateria, os martelos, o tambor e os vídeos desconcertantes que transmitiam na tela desmascararam toda a hipocrisia, crueldade do mundo em que habitamos. Sabemos que o mundo é sanguinário mas tantas vezes preferimos não pensar nisso. Esta banda inglesa fez-nos acordar, abanar, pensar, não esquecer. Dificilmente nos esqueceremos que este foi um dos melhores concertos desta edição, dificilmente nos esqueceremos que este concerto foi uma tomada de posição. Para sermos melhores. Quando acabaram o silêncio que se instalou na plateia foi ensurdecedor.

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Entorpecidos seguimos até ao Jardim Luís de Camões. Quando chegámos já estava a atuar o sueco Henric De La Cour, a sua voz singular já enchia os recantos dos jardins. Mais uma estreia no nosso país de um dos nomes de destaque da música escandinava.

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No entanto o melhor ainda estava para vir como nos comprovou a Shannon Funchess com o seu novo projeto Light Asylum. Que estrondo. Esta multi-instrumentista e pujante vocalista cativou completamente o público. Rendemo-nos ao seu talento, à sua energia, ao seu poder eletrizante. O tema“Dark Allies” levou a plateia ao êxtase. Bem alto cantámos, gritámos “I`ll wait for you, forever/ And ever, and ever/ And ever.” Sublime. Volta, nós esperamos.

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Recuperámos o fôlego e fomos à Stereogun ver os The Lust Syndicate. Este trio tem uma sonoridade pop industrial e apresentaram uma atitude muito revolucionária contra o capitalismo incrustado no mundo ocidental. Ao ritmo da sua percussão marcante terminámos um dia célebre (e célere de mais).

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Todos os artigos estão disponíveis em:

DIA 29

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DIA 30

Festival Extramuralhas’19, dia 30 – “It’s All Over Now”. O Adeus a Siglo XX.
Extramuralhas’19 Dia 30 Les Fragments de la Nuit
Extramuralhas’19 Dia 30 Siglo XX
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Extramuralhas’19 Dia 30 Henric de la Cour
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DIA 31

Festival Extramuralhas´19, dia 31 – Um Festival que é uma Revolução Sonora
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