Biznaga, flor de Málaga que se faz com Jasmim pelos ciganos e que é um dos símbolos da cidade de Picasso. Álvaro García (voz e guitarra), Jorge Navarro (baixo e voz), Pablo Garnelo (guitarra e coros) e Milky (bateria), vivem em Madrid e têm em comum a paixão pela música. Apesar de madrileños têm origens andaluzas, Jorge e Álvaro são malagueños. Não têm propriamente um rótulo musical definido e, muitas vezes quando insistem, denominam-se por uma banda Pop. Não vivem da música nem querem viver. A liberdade é o que mais prezam e não estão para ficar presos a exigências editoriais ou a conselhos comerciais de managers.
Estão juntos desde 2011, mas foi apenas em 2014 que lançaram o seu primeiro álbum, “Centro Dramático Nacional”, que apesar de considerarem um bom álbum, não esperavam ter uma recepção tão calorosa, tanto da parte do público como da parte da crítica. “Fue el principio del fín”, como diz Álvaro numa entrevista à revista de música espanhola Compact Cheese Music.
Se já tinham tido o cuidado no refinamento das letras quanto à crítica social e política, “Sentido del Espectáculo” o seu segundo longa duração editado pela norte americana Slovenly Recordings em 2017, trouxe ainda mais rebelião. Um ritmo más popero na opinião dos próprios, assertivo na batida indie-rock e encrustado na atitude enérgica do punk. O primeiro álbum levou-os a atravessar fronteiras em actuações em festivais de rock (Barreiro Rocks 2016) e salas de média dimensão na Alemanha, p.ex. Com “Sentido del Espectáculo” a coisa tornou-se maior e tiveram que interiorizar que já eram uma banda “mais a sério”, Estados Unidos da América e México foram os países onde estiveram em digressão.
Na sexta-feira passada estiveram no 6º Aniversário do Sabotage (muitos parabéns família Sabotage!) e partilharam a noite com os hilariantes The Parkinsons. Quatro chícos simpáticos com uma jovialidade bem-parecida e uma entrada um pouco tímida. Mas ao terceiro tema do alinhamento, em “Fiebre”, a timidez foi ultrapassada pela energia de Milky (bateria) e pela entrega total de Álvaro Garcia (guitarrista e vocalista). Apresentação da banda pelo baixista Jorge Navarro, que também faz os coros com Álvaro. Uma batida certeira pouco dada a desvios momentâneos ou a erros de improviso. Acordes melódicos das guitarras que saiam direitinhos e com garra de palco. Um alinhamento cronológico, em que percorreram meia dúzia de temas do seu primeiro álbum, “Centro Dramático Nacional”, para rasgarem pano praticamente o resto do concerto com “Sentido del Espectáculo”.
Despediram-se com “Mediocridade y conforto”, o single do segundo álbum e um dos temas (a juntar aos outros) de forte crítica social “Y si todo es prestidigitacíon? Y si nada es real, solo simulacro?” Os Biznaga são, sem sombra de dúvida, uma banda de intervenção social e politica. Estrofes complexas, que conseguem encaixar na métrica perfeita do punk rock (pop rock?). O tema “Una ciudad cualquiera” foi dedicado a Lisboa, mas não pelo deslumbramento, na verdade poderia ser a qualquer outra: “Una ciudad tan buena…Para morir como otra cualquiera”. Os Biznaga têm tudo para continuarem a ser o perfume de Jasmim na cena musical madrileña.
Seria impossível o Sabotage Club fazer a sua festa de aniversário sem os The Parkinsons! Os londrino-conimbricenses (que palavrão…) estiveram de volta ao venue do Cais Sodré para mais uma vez tornarem esta festa memorável. A sala que parece ser perfeita para a actuação da maior banda punk rock do Mundo (com M grande), torna-se pequena para a energia que os quatro emanam daqueles corpos. Com quase vinte anos de rodagem, os The Parkinsons dispensam apresentações. “The Shape of Nothing to Come” é o seu mais recente álbum, saiu para as lojas no final de Abril do ano passado. Contam na discografia com cinco e mais duas mãos cheias de singles e compilações.
Na passada sexta-feira não tivemos teclas nem Cazuza, mas essas ausências não foram razão para que não dessem um concerto do caraças! Cada vez que estes rapazes se juntam em palco é como se não houvesse amanhã e, aquele momento, fosse o último das nossas vidas. A paixão libertina pelo rock é sentida em cada pulsar de veias do Afonso Pinto nos uivos do lobo (“Bad Wolf”) ou em cada cerrar de dentes do Ricardo Brito que liberta a raiva (romântica) na bateria, que nunca se matem inteira até ao final da noite. Victor Torpedo a dar o compasso e a meter a coisa na ordem com uma subtileza de mestre, não fosse ele um senhor da guitarra! Pedro Chau, no seu equilíbrio do baixo, partilhou o micro com Afonso mais do que o razoável pois demoraram tempo substitui-lo. Mas se há banda preparada para o improviso são eles, venham mais umas malhas que cantamos todos!
O alinhamento correu todos os álbuns, “Long Way to Nowhere” (2002), “Down with the old world” (2005), “Reason to Resist” (2004), “Back to Life” (2012) e “The Shape of Nothing to Come” (2018). Os fans dos The Parkinsons são um prolongamento deles próprios, cantam as música todas cada vez que o Afonso lhes passa o microfone. E eles fazem questão de lhes retribuir todo a dedicação, no toque e nos sorrisos sinceros, numa cumplicidade afectiva enorme. “So Lonely” esteve para ser a última, mas ainda tivemos o bónus de mais três para pular. Como noite de festa ainda cantámos os parabéns ao Sabotage (ao Carlitos e à Eliana), não tivesse sido esta noite a segunda noite do 6º Aniversário. E foi tão bom festejar mais um ano da “nossa casa”!