2018 Concertos Festivais Reportagens Vodafone Paredes de Coura

Vodafone Paredes de Coura’18, Dia 16 – Jungle e o manto mágico de sedução

O segundo dia de festival, dia 16, acabaria por se revelar no dia com mais surpresas e dinâmicas satisfatórias que nos levariam a não parar um segundo desde a tarde até à noite.

Começo pela Music Session do dia. Uma das melhores e mais significantes onde estive em 4 anos de festival. Seriam uma 15h25 quando chegávamos a um jardim de uma casa particular. À nossa frente, os The Mystery Lights e uma piscina. Foi a minha primeira pool party com concerto e, na verdade, senti-me parte de uma cultura americana de rock e boas energias que tão cedo não irei esquecer. Os The Mystery Lights também têm esse encanto, o encanto de cativar e prender qualquer pessoa à sua energia, boa disposição e ondas sonoras quentes e de perdição mental. Naqueles minutos, diante de nós, abraçaram-nos, abanaram-nos e ofereceram-nos uma qualidade musical irrepreensível.
Ao mesmo tempo, havia na margem do rio o Jazz na Relva com Galo Cant’às Duas e S. Pedro.

fotos na galeria Vodafone Paredes de Coura 2018 dia 16 Music Session c/ The Mystery Lights

O dia prometia ser longo tanto em energia como em concertos com um certo grau de densidade e loucura. A abrir o festival, no Palco Vodafone FM, os nortenhos Fugly com uma qualidade de som muito superior à última vez que vi um concerto deles, em Braga. Com músicas rápidas, atrevidas e com uma exuberância de riffs estrondosos, os Fugly passeiam entre o garage e o surf rock. Ainda que de ressaca, conforme afirmaram, a energia não lhes faltava e a capacidade de meter o público a saltar com ele, tampouco.

fotos na galeria Vodafone Paredes de Coura 2018 dia 16 Fugly

Do outro lado, com um ritmo também electrizante, mas de intensidades diferentes, X-Wife de regresso ao palco de Paredes de Coura após 15 anos. Os anos passaram e a maturidade e definição sonoras aumentaram. Os X-Wife estão mais coesos e com certezas acerca da sua identidade. A condizer com o toque aveludado dos raios de sol mais fracos, um disco suave com carisma 80’s adaptado à modernidade fazia-nos abanar. Duas vozes femininas e 2 instrumentos de sopro, davam congruência à música e solidificavam o prazer. O Homónimo foi bem recebido e primou neste concerto.

© Hugo Lima | fb.me/hugolimaphotography | hugolima.com
© Hugo Lima | fb.me/hugolimaphotography | hugolima.com

À nossa espera, e pela segunda vez, estavam os The Mystery Lights que tocaram demasiado cedo! Uma banda de garage com travos psicadélicos e um encanto próprio requer um toque escuro e não a claridade da tarde. Ainda assim, voltaram a dar o seu melhor tornando-se num dos concertos com mais adrenalina deste segundo dia. A introdução de um teclista, veio melhorar a composição e o poder da destruição. O coração saltava com eles à medida em que os minutos iam passando e a vontade de ficarmos presos ao mistério das luzes que irradiam aumentava. As guitarras arrepiam e a voz penetra em cada poro do corpo como se tivesse vida própria. A América tem destas coisas e o que mais apetecia era ir dançar com eles para o deserto, semi-nús, como já nos encontrávamos interiormente. “Too Many Girls”, “Melt” e “What Happens When You Turn The Devil Down?”, entre outras, fizeram as nossas delícias.

fotos na galeria Vodafone Paredes de Coura 2018 dia 16 The Mystery Lights

Da adrenalina para a sujidade decadente, louca e, ao mesmo tempo, saborosa. Os Shame estavam no palco principal prestes a dar mais um dos grandes concertos deste dia. Não fosse o excesso de álcool da parte deles e a surpresa teria sido ainda mais marcante. Vergonha é coisa que não existe no corpo daqueles rapazes e nenhuma falta faz. Pouco depois do início do concerto, Eddie já andava em cima do público e aos beijos às meninas da frente. O post punk cru e sujo faz maravilhas e a voz ligeiramente revolucionária e muito rebelde puxa-nos de rompante para uma bolha de caos da qual não queremos sair. O único álbum que têm “Songs Of Praise” fora apresentado, tal como uma música nova ainda sem nome. Houve uma faísca de poder que nos ia tocando e fazendo com que os espasmos mentais e corporais acompanhassem o concerto.

fotos na galeria Vodafone Paredes de Coura 2018 dia 16 Shame

Naquilo a que eu chamaria erro de de colocação, caminhámos até à suavidade de Japanese Breakfast que, depois de tanta energia e adrenalina fez uma bocadinho de confusão ao corpo. A melodia era límpida, suave e agradável, no entanto uma chapada de pureza depois de uma descarga de energia, não era bem aquilo que estávamos à espera. Com todas as qualidades que Michelle possui, efectivamente, o pequeno almoço já tinha passado há muitas horas e o indie pop saberia muito melhor mais cedo. Perto do fim, o concerto ficou ligeiramente mais estranho com “Dreams” de The Cranberries.

fotos na galeria Vodafone Paredes de Coura 2018 dia 16 Japanese Breakfast

De regresso ao rock’n’roll e à libertação da alma, Paulo Furtado aguardava-nos para mais um concerto de The Legendary Tigerman. Problemas técnicos impediram que o concerto atingisse a plenitude do costume, mas não foi isso que impossibilitou o mesmo de nos fazer sentir felizes e degustar cada riff, cada sopro, cada distorção ou, até, cada batida com a maior intensidade que o rock’n’blues nos permite. O deserto fez-lhe bem e Misfit é o reflexo disso, “Black Hole”, “Motorcycle Boy” e “Fix Of Rock’n’Roll” entraram maravilhosamente bem pelos nossos ouvidos fazendo-nos abanar os ombros e a anca. Os clássicos “Nacked Blues”, “These Boots Are Made For Walkin’” de Lee Hazlewood e “21st Century Rock’n’Roll” levaram o público ao rubro, recebendo Paulo em braços já no final.

fotos na galeria Vodafone Paredes de Coura 2018 dia 16 The Legendary Tigerman

A encerrar o palco secundário, o encanto magnético de Surma e a sua entrega genuína a cada alma presente. Com uma evolução gritante desde o primeiro momento em que a vi em cima do palco, Surma tem a capacidade de tocar música de golfinhos sem se tornar aborrecida. Toda ela constrói um rendilhado de complexidade e leveza em cada faixa que faz com que sejamos absorvidos sempre para o interior de um casulo de seda. Débora traz consigo um véu de purificação melódica que nos faz sorrir e transmitir felicidade. Trouxe algumas surpresas de percussão e maior densidade ao espetáculo.

fotos na galeria Vodafone Paredes de Coura 2018 dia 16 Surma

Com esta calmaria transitávamos para um concerto extremamente belo e, ao mesmo tempo, fora de lugar. Falo de Fleet Foxes e que os 6 elementos em cima daquele palco mereciam um ambiente mais intimista e introspectivo. A melodia das montanhas combinava o country com o folk melancólico e penetrante, moldando-o com uma intensidade brutal que passou despercebida a quase todos os presentes. Em poucos minutos, deixou de se ter silêncio e o burburinho misturou-se com aquilo que devia ser uma melancolia elegante e brutalmente única. Crack-up não é um álbum de fácil digestão e os Fleet Foxes escolheram o anfiteatro natural para o mostrar às pessoas. Mal escolhido tanto da parte deles como da parte da organização porque, efectivamente, não estávamos num anfiteatro fechado com cadeiras. Da minha parte, recebi “I Am All I Need/ Arroyo Seco/ Thumbprint Scar”, “Cassius,-”, -Naids, Cassadies”, “Fool’s Errand”, “On Another Ocean (January/June)”, “Mearcstapa”, “If You Need To, Keep Time On Me” e “Third Of May/Odaigahare” da melhor maneira possível, não sentindo, no entanto, a plenitude das músicas como a dádiva que eles nos queriam oferecer, pois não era o local apropriado.

fotos na galeria Vodafone Paredes de Coura 2018 dia 16 Fleet Foxes

Jungle dariam o embalo perfeito para o encerramento de uma noite repleta de emoções de todos os tipos. Uma panóplia de instrumentos e texturas construía todo um cenário idílico e contemplativo de som e ritmo que nos ia guiar através de uma onda gigante de sensualidade e sedução. Onda tal resultante da soul moderna que misturam tão bem com um leve travo a funk e um beat lento e apetecível. A conjugação do coro de vozes femininas e masculinas assemelhava-se a uma oferenda a deuses. A mescla de culturas e ambiências resultante do instrumental, por vezes demasiado colado entre as faixas, fazia apoderar-se de nós um sentimento de calmaria e elegância que nos impelia a suaves movimentos de anca e satisfação mental. “Lemonade Lake” fora dedicada a Aretha Franklin e “Platoon”, “The Heat”, “Cherry”, “Busy Earnin’” e “Time” causadoras de euforia sã entre nós. Apresentaram “Cassio” que faz parte do novo álbum a sair no próximo mês e mostraram que se vão manter fiéis a eles próprios e nós a eles!

fotos na galeria Vodafone Paredes de Coura 2018 dia 16 Jungle

O sorriso foi companhia até casa e a leveza resultante da satisfação, também.

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Texto – Eliana Berto
Fotografia – Jorge Buco | Hugo Lima (Vodafone Paredes de Coura)
Evento – Vodafone Paredes de Coura’18