Abril, concertos MIL, mas também Abril, àguas mil, por isso não é de surpreender que o último dia de MIL no Cais do Sodré se tenho mostrado a espaços com uma chuva irritante, mas que não foi capaz de desmotivar todos os que por ali iriam circular para assistir a alguns dos muitos concertos que iam acontecer entre as 20h e 00h. Pode ser o último dia, mas não soa a despedida. O fim desta segunda edição do MIL fez-se no mesmo tom do dia anterior, cheio de música, muita energia e muita movimentação pelo Cais do Sodré, nos diferentes espaços musicais que compõem a Rua Cor de Rosa e suas adjacentes. Sean Riley, Bruno Pernadas, Keep Razor Sharps, Ko Ko Mo foram alguns nomes que compuseram uma noite que se fez fria lá fora, mas quente cá dentro.
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Zulu Zulu
Os espanhoís Zulu Zulu apresentaram-se no Europa às 20h. E quem são os Zulu Zulu? São Fi-Lyon, M. Zebra e Girafa, ou dito de outra forma são um leão, uma zebra e uma girafa que têm vindo a explorar as conexões entre a música espanhola e as sonoridades africanas e lançaram o seu primeiro disco durante o ano de 2017. Novamente o MIL apostou no que não está ao alcance de todos, casas cheias de gente a descobrir novas sonoridades, algo que possivelmente não aonteceria se os Zulu Zulu passasem por cá fora deste circuito.Um concerto divertido e cheio de cor e ritmos numa linguagem indecifravél mas com um apelo às nossa raízes mais tribais.
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Process Of Guilt
Encontrámos os Process of Guilt num Music Box ainda a meio gás mas a ganhar velocidade à medida que o concerto avançava. Os Process Of Guilt no seu registo habitual, que é o deles, denso e pesado, como se estivessem preparados para engolir o mundo de um só trago, mostraram ali naquele inicio de noite, a matéria de são feitos. Um concerto dominado pelos riffs poderosos e duros das guitarras assentes numa bateria e num baixo demolidores, quase capazes de nos tirar o ar tal a densidade sonora.
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Labaq
Logo de seguida e a precisar de ar depois da incursão no poder sonoro dos Process of Guilt dirigimo-nos ao Lounge para conhecer Labaq. Labaq descalça e descontraída preparava ainda as suas coisas quando chegámos ao Lounge que se encontrava ainda com pouco gente no interior, cenário esse que mudou drasticamente em pouco minutos. A voz suave e encantadora de Labaq combina com a simplicidade com que trata a sua guitarra e os seus pedais. A criar loops sobre os quais assentará solos e vocalizações limpidas e harmoniosas encanta toda a sala de uma forma bastante intensa. Um concerto com uma sonoridade suave e encantadora, imprescindivél às almas sensiveis e sonhadoras.
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Sean Riley
Uma viagem no tempo. É como podemos definir em quatro palavras o concerto de Afonso Rodrigues, que agora abraça Sean Riley a solo e a acústico. Num palco muito sui generis, o Viking, tivemos a escutar alguns dos temas do California que está quase a conhecer a luz do dia, como o LA. Este trabalho foi o resultado de uma viagem com o The Legendary Tigerman, aquando da composição do Misfit, apresentado na véspera. Mas não invalidou de tocar outros temas, dos tempos dos The Slowriders. Em 45 minutos escutamos aquelas músicas que esperamos ouvir às 4 da manhã, no Viking, encostados a um canto com um whisky na mão.
Ko Ko Mo
O duo francês Ko Ko Mo despertou-me o interesse desde o momento em que o MIL anunciou o cartaz. A banda tocar no Sabotage Club fez todo o sentido. A verdade soa um pouco forçada mas ao olhar para o nome da banda sem conseguir ir buscar qualquer memória da mesma, fui pesquisar e fiquei agradavélmente surpreendida mas ao mesmo tempo não fiquei convencida. Toda a energia e movimento que perpassava das músicas de Technicolor Life parecia estancada. Havia nisto uma forte possibilidade de surpresa e a grande probabilidade de isto nos rebentar no peito ao vivo. Assim foi. Um baterista excentrico e um guitarrista com uma tal energia que mais parecia que estavam dois ou três em palco incendiaram literalmente o Sabotage Club com riffs maniacos e ritmos loucos. O público respondeu à altura das provocações lançadas pela banda em tom de brincadeira. Um concerto completamente incendiário e explosivo do principio ao fim, e uma das melhores surpresas desta edição do MIL.
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Luís Severo
Um dos nomes bonitos da música actual cá em Portugal encheu o Rive Rouge. Infelizmente o dom da ubiquidade não existe, pelo que não deu para apanhar todo o concerto do cantautor, mas do pouco que apanhámos, deu para perceber a relação íntima e próxima de público e o Luís. Mesmo quando se engana a meio da música, com o soltar de um singelo “f***-se”, percebe-se que é tudo na boa e que aqui estamos para celebrar a música, com temas como o Planície (Tudo Igual) ou Escola, que fazem parte do último álbum, homónimo.
Keep Razors Sharp
O Music Box encheu literalmente para ver os Keep Razors Sharp. Já era expectavél que acontecesse isto, e por isso tentámos chegar à sala alguns minutos antes do inicio do concerto e essa foi uma aposta acertada pois ainda os quarteto não tinha posto pé no palco e a sala já se encontrava completa. Com a garra que já anteriormente presenciàmos os Keep Razors Sharp agarraram o seu público e o público do MIL. O público dos Keep Razors Sharp vêm atrás das novas melodias do disco que está quase sair, o público MIL vêm à descoberta. A verdade é que nem uns nem outros arredaram mais pé e os Keep Razors Sharp ainda nos ofereceram um pequeno encore, coisa que nestas ocasiões está reservada apenas aos melhores.
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Bruno Pernadas
O b.leza viu-se demasiado pequeno para acolher tanta gente. Um ambiente demasiado quente escaldou ainda mais quando Bruno Pernadas e a sua super banda entraram em palco para tocar temas do último álbum, abreviadamente conhecido por Crocodiles. Durante 45 minutos, ou cerca de 7 músicas, a festa fez-se ao som do jazz de Spaceway 70, Problem number 6 ou ainda o Ahhhhh, ainda do álbum de 2015, How Can We Be Joyful in a World Full of Knowledge?. De barriga cheia, felizes e suados, foi assim que saímos do b.leza. Ainda bem que existem indivíduos como o Bruno para criar músicas assim.
Dark Times
Os Dark Times vieram trazer uma lufada de irreverência e juventude à noite de sexta-feira e desta vez no Europa. A sua sonoridade algures entre o punk e outras paragens, assente no som cru da bateria e da guitarra, e na voz estridente da vocalista obrigou-nos a superar as várias horas de concerto em concerto que pesavam já sobre os nossos corpos. Não é uma formula nova a que os Dark Times professam mas a convicção com que o fazem torna a sua irreverência sonora muito genuína e isso é algo que não se encontra por aí todos os dias.
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Gonçalo
Algum leigo ou curioso que entre no Rive Rouge, pensa que vai assistir a um concerto a solo de um rapaz chamado Gonçalo. Na verdade até é Gonçalo Alvarez que assume as rédeas, mas é uma banda que faz a festa harmoniosa. Afastado das lides do Long Way To Alaska, mostra uma faceta contemplativa, calma e feliz. Pelos carrosséis do Boavista (último álbum, não o clube), é a maneira subtil de terminar a segunda edição do MIL.
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Aeromoças e Tenistas Russas
O trio oriundo do Brasil com o explêndido nome Aeromoças e Tenistas Russas já tocava há bastante tempo quando regressei ao Sabotage Club. O clube encontrava-se totalmente cheio e foi com alguma dificuldade que encontrei forma de cruzar a sala para poder ver a banda. Infelizmente estas eram as duas últimas músicas e o testemunho de três músicos que sentem na pele o dificil momento do seu país natal e o quiseram partilhar connosco. No entanto, essas duas músicas foram suficientes para perceber que a maioria da sala se encontrava completamente em sintonia com a banda.
A noite seguiu com a o after party protagonizado pelos dj’s da Floresta Encantada; Tiago Castro e Candy Diaz, e esta noite com a participação de A Boy Named Sue.
Em jeito de balanço, há que parabenizar toda a organização do MIL pela forma como decorreram estas três noites cheias de música nacional e internacional, com um elevado nivél de estreias em Portugal. Num evento desta envergadura e extensão facilmente as coisas podem de repente correr menos bem e perder rapidamente qualidade. O rigor com que a maioria dos horários foi cumprido, as apostas ganhas em termos de artistas escolhidos para protagonizar esta edição, elevando sobretudo a fasquia para próximas edições que nos surpreendam da mesma forma, tanto a nivél das escolhas como da temática que leva a essas mesma escolhas. Esperamos que 2019 nos traga mais MIL e que as conexões estabelecidas se fortaleçam e dêm origem a novos pólos de informação e divulgação da música e de tudo o que com ela se relaciona. Que todos os conhecimentos travados nestes dias se perpetuem como a música.
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Texto – Carlos Sousa Vieira e Isabel Maria
Fotografia – Luis Sousa e MIL’18
