2015 Festivais Jameson Urban Routes Reportagens

Jameson Urban Routes’15 dia 31, Cápsula orbital

E eis que chegámos ao último dia do Jameson Urban Routes no Musicbox Lisboa. Uma noite onde assistimos a actuações bastante distintas dos dias anteriores, com batidas definitivamente mais arrojadas. Se em todas as sessões (noites) deste festival houve um equilíbrio e tentativa de categorizar o registo/género das bandas, esta última noite foi sem dúvida a mais homogénea. O Musicbox transformou-se numa espécie de capsula orbital, em que fomos projectados para a uma dimensão espacial à velocidade da luz. Os ritmos minimalistas, vintage electrónica e xamanismos dominaram a noite.

Ricardo Remédio (DJ) assegurou que a “cápsula” estava em conformidade e apresentou-nos alguns temas do seu CD “Natureza Morta” (lançamento em 2016). Classificado como house music, o registo de Ricardo está muito para além deste género musical. Os rasgos agudos introduzidos na batida ritmada e desalinhada, deixaram-nos colados ao chão em movimentos introspectivos. Um planeta terra com rosto monstruoso, que se junta a duas medusas que se colam em espelho. Uma das belas imagens projectadas no ecrã, num domínio de estórias que iam passando na textura do cinzento. Sons numa orbita terrena, numa espécie de ajuste de contas do self , sem complacência.

 

Sunns and Jerusalem in My Heart, eram a grande expectatitva da noite! Os canadianos Sunns juntaram-se ao libanês (e não israelita…) Radwan Moumneh e em 2015 editam o álbum homónimo. Radwan, apesar de libanês nunca viveu no Líbano, e desde 1993 que vive também em Montreal. Os Sunns com significativa expressão em Portugal trouxeram os seus fãs ao Musicbox que, na generalidade, apreciaram bastante esta junção. Com duas bobines no fundo da sala, projectavam-se as mesmas imagens que podemos ver nos videoclipes, simulação de acidente de carro em bonecos de borracha, fitas aparentemente gastas e corroídas pelo tempo (ou pela guerra). A actuação destes 5 músicos foi um momento de pura transcendência! Uns acordes negros saídos do teclado (Max Henry), com sons monocórdicos do baixo (Joe Yarmush) que alternavam com a guitarra e voz (árabe) de Radwan e a guitarra minimal de Ben Shemie. Uma comunhão intensamente incrível, entre cada um e as notas que dos seus instrumentos saíam. Da estranheza, passaram rapidamente à contemplação dos sons pejados de sentidos divinos.

 

Depois de algum tempo de mudança de palco (uma parafernália de instrumentos), seguiram-se os hipnóticos HHY & The Macumbas. Não sendo estreantes na sala do Musicbox, a “orquestra” de Jonathan Uliel Saldanha subiu ao palco com 7 músicos! “Throat Permission Cut” é um álbum de recolha das experiências tocadas ao vivo. O colectivo do Porto conseguiu surpreender o público com autênticas sonoridades xamânicas. As percussões, em instrumentos transformados (como um bombo com barras de madeira) que cruzam com um clarinete com adaptações (uma espécie de copos, de borracha?), resultando em exorcismos melódicos. Uma simples máscara vermelha colocada na parte de trás da cabeça, os efeitos incríveis que pode provocar, qual Vodoo-Rave! Os HHY & The Macumbas animaram o público e mantiveram a sala composta, deixada pelos seus antecessores (os próprios estavam a assistir!). Criatividade nos instrumentos, liberdade na composição (?) sonora, mas muita seriedade artística dos músicos.

Chegaria mais tarde o norte-americano RP BOO e, para os mais resistentes e a finalizar a edição do Jameson Urban Routes 2015, o português Blastah onde dominou, uma vez mais, os ritmos orientais na música electrónica. Foi uma noite muito intensa em ritmos e em performances. Regressámos a “terra” fisicamente intactos mas com o espirito em orbita. Foram 5 noites cheias de música para quase todos os gostos e todos os géneros, onde ouvimos o que de novo e melhor se se tem feito, tanto ao nível nacional como internacional (Europa, América e Ásia). Resta-nos agradecer ao Musicbox pelas excelentes escolhas e dizer “até para o ano”!

Reportagens dos restantes dias do festival:
Dia 22 – JAMESON URBAN ROUTES’15 DIA 22, O QUE É NACIONAL É BOM
Dia 23 – JAMESON URBAN ROUTES’15 DIA 23, BEATS QUE ENCHEM A ALMA
Dia 24 – JAMESON URBAN ROUTES’15 DIA 24, EXPLOSÕES DE PERCUSSÃO
Dia 30 – JAMESON URBAN ROUTES’15 DIA 30, E AO QUARTO DIA RESSUSCITOU!

Texto – Carla Sancho
Fotografia – Luis Sousa
Promotor – Musicbox Lisboa