Concertos Reportagens

PiL (Public Image Ltd) e Corsage Fulgurantes em Lisboa no LAV

Foi com grande expectativa que me dirigi para o LAV para ver os PiL, leia-se Public Image Ltd, a lendária banda de John Lydon aka Johnny Rotten, célebre vocalista dos Sex Pistols que dispensa apresentações, e que contínua activo em novas aventuras de estúdio com o novo disco dos PiL, ‘End of The World’, que nesta digressão, é o mote.

Na Música em DX, estamos habituados às escolhas certeiras da promotora At The Rollarcoaster, para concertos de média dimensão a fugirem do calendário dos festivais de Verão, seja pela qualidade de artistas emergentes que cá trazem ou outros já mais estabelecidos no mercado, e neste caso apresentar um concerto dos PiL tanto em Lisboa como no Porto é excelente, permitindo assim que o público destas duas cidades tenha oportunidade de testemunhar concertos da nova digressão destes britânicos, não vou dizer súbditos de sua majestade pois certamente John Lydon “rasgaria” esta crónica. 

Apresentando uma banda portuguesa como os Corsage a abrir ambos os concertos parece certamente uma escolha acertada também. E nesta noite em Lisboa, o público não faltou à chamada. Embora não esgotada a Sala 2 do LAV, embora à hora de entrada em palco dos Corsage ainda estivesse a menos de meia lotação, o espaço rapidamente encheu com um público devoto aos PiL, das suas canções que ao vivo são estratosféricas armas de arremesso sonoro e se existiam dúvidas se John Lydon se mantém ou não em boa forma vocal, rapidamente foram dissipadas.

E o que dizer dos Corsage, foi a segunda vez que os vi ao vivo, e aqui pareciam estar no seu elemento. Divertidos e bem dispostos num palco que lhes fez justiça, às suas canções de espirito pop rock onde a prestação vocal irrepreensível de Henrique Amoroso, que embala as canções num registo melodioso, me fez pensar enquanto assistia ao concerto que este devia ter sido o cantor que os BAN deviam ter tido nos anos 80, ou se fizermos o exercício de imaginação ao contrário, se esta banda fosse tele-transportada para os anos 80, teriam vendido muitos mais discos que muitos artistas portugueses célebres da época. É que os Corsage têm a semelhante ingenuidade pop rock dessa época, seja pela crítica social ou pelo caracter mordaz das letras, e nesse registo pop rock, são ao mesmo tempo uma banda que arriscou fechar este concerto com um tema extenso a roçar o psicadelismo kraut e onde o vocalista deixa os restantes músicos progredirem para um crescendo, onde somente no último minuto fica o baterista em palco sozinho a reafirmar o ritmo no kit de bateria, despedido-se a banda assim mesmo com um vasto aplauso da audiência. Antes, já tínhamos ouvido umas boas canções como o clássico “Adeus Europa” do recentemente reeditado album ‘Música Bipolar Portuguesa’, esta canção de 2012, salvo erro, é na minha opinião uma digna sucessora de um “Portugal na CEE” dos GNR como hino de integração ou desintegração na Europa deste burgo à beira mar plantado. E por falar em bandas emblemáticas ouvimos para além de canções com títulos como “Laissez Tomber”, ou “Café Leopardo”,  uma interpretação ao vivo da recente versão de “O Canto e o Gelo”, um original da Sétima Legião, versão recentemente gravada pelos Corsage e editada na compilação ‘Saudades De Uma Voz no Deserto’, da label Anti-Demos-Cracia que homenageia essa mítica banda portuguesa. Foi portanto uma excelente primeira parte que aqueceu e deixou bem dispostos os presentes para o que viria a seguir.

E o que viria a seguir foi a confirmação de que os PiL vivem um excelente momento artístico, iniciando o concerto com “Penge”, tema que abre também o atrás referido novo disco de originais , com o seu empolgado refrão «…welcome to penge…», revisitando  logo de seguida o passado com “Albatross” e na sequência seguinte de temas colados uns aos outros: “Being Stupid Again” do novo disco, depois os dois clássicos “This is Not a Love Song” e “Poptones”  já naturalmente a banda tinha a noite ganha com a sua audiência.  Seguiu-se o genial “Death Disco” com a sua guitarra contagiante, “The Room I Am In” com o  seu registo spoken word, e talvez a única canção em que Lydon não fez uso permanente do seu fulgurante registo vocal, e digo fulgurante porque o homem deu sempre 110% em cima do palco. Daí até ao final da função, leia-se, ao fim concerto propriamente dito, antes do tradicional encore , seguiram-se temas tão eclécticos como “Flowers Of Romance”, tema originalmente tocado pelos Sex pistols ao vivo e recuperado para o álbum do mesmo nome gravado por Lydon na altura com o guitarrista Keith Levine num registo misantropo e quase gótico depressivo, aqui a soar bem mais bonito e simples do que na versão em disco, “Memories”, a nova “Car Chase”, “The Body”, a potente “Warrior”, e “Shoom”, concluíram antes da saída em palco dos músicos, antes de retornarem, claro, para o obrigatório encore com as quase obrigatórias canções “Public Image”, “Open Up” dos Letfield, onde Lydon emprestava originalmente a voz e para fechar, o meu tema menos favorito dos PiL, o clássico “Rise”, embora reconheça que a letra «…anger is an energy», soa bem, cantada a plenos pulmões por Lydon e a multidão em uníssono. Foi um bonito final, para uma noite cheia de energia com um John Lydon bem disposto, comunicativo, uns PiL ultra competentes com uma fantástica química entre os músicos em palco. Por mim, que voltem mais vezes.