Concertos

A Place To Bury Strangers e MДQUIИД no Musicbox Lisboa. Inesquecível, é o que fica para memória futura

Noite de Verão em Lisboa. Na zona do Cais do Sodré, as propostas musicais prometem e geram expectativa elevada, a diversão sónica na Musicbox, pelo menos a banda que se anuncia como “the loudest band on the planet” está de volta a Portugal, e dada a escassez de ofertas de rock indie na capital, típica da altura do ano, parece-me uma boa ideia ir conferir se esse mito é verdade. – Nota: este vosso cronista, embora tenha acompanhado as notícias nesta última década de alguns concertos que a banda deu em Portugal, ainda tem os ouvidos virgens de tamanha exploração sónica, ou seja, é o meu primeiro concerto de A Place To Bury Strangers (APTBS), – e já sei que trazem como aperitivo, temas do mais recente disco ´See Through You’.

Antes, tocaram os MДQUIИД, banda que se apresenta como sendo de Lisboa, com um simpático e cordial frontman, de sotaque brasileiro, que após um primeiro e longo tema, assim apresentou a banda. Como descrever o som deste trio? – É simples: colhe extensos aplausos dos presentes, e convenhamos, a esta hora a sala já estava praticamente cheia. O som é poderoso, e após um longuíssimo tema onde o uso do baixo, guitarra e bateria se prolonga ao longo de vocalizações repetidas a espaços numa espécie de mantra animado com efeito de delay – parece efectivamente que estamos numa rave rock, – e é como digo, o som é poderoso e fizeram uma primeira parte muito bem acolhida pelo público. Os restantes temas pareceram uma repetição do primeiro com um andamento ou bpm ligeiramente diferente apenas, é original, não obstante, a prestação deste trio. Não desdenharia estar numa capital europeia como Lisboa, e entrar por acidente num clube rock e avistar tamanho espectáculo, em contraste com o ambiente kitsch que se vivia e se vive lá fora, aqui nesta Lisboa, atualmente.

O que dizer, sinceramente do concerto que se seguiu dos A Place To Bury Strangers? Confirmo que foi espectacular! Foi um concerto espectacular e digno de nota nessa perspectiva – se gostei? Ainda hoje tenho dúvidas. Existe uma diferença entre ser uma experiência agradável e o que fica para memória futura. Os meus ouvidos dizem-me ainda hoje que a experiência não foi sempre agradável e que a guitarra de Oliver Ackermann, tornou-se a espaços uma experiência dolorosa, que me perdoem os mais fiéis desta igreja de corrupção de tímpanos, mas há limites para o razoável mesmo numa banda que no website oficial se anuncia como “a mais ruidosa do planeta”. Certamente não os podemos acusar de mentirem. Oliver Ackermann, líder e imagem de marca desta banda, que logo no primeiro tema de largo sorriso no rosto, interagiu com o público, permitindo aos presentes na primeira fila arranharem as cordas do braço da sua guitarra ligada aos pedais que tanto contribuem para esta distorção sónica, não desiludiu, como era previsível. Gosto da voz de de Chris, e sei que a estética é a mesma: estar submersa na mistura de som acompanhado pela baterista Sandra Fedowitz, e pelo baixista John Fedowitz, e existem laivos de post punk ao longo da cimentada carreira desta banda, que me agradam muito. Foi um concerto deveras espectacular, se eu repetia a dose? …Não sei, provavelmente sim, mas não para já, os meus ouvidos precisam de descansar. Quando cheguei a casa poderia repetir uma das letras dos APTBS: “(…) close eyes, thank god! End pain, please help (…)” da canção “My Head Is Bleeding”.

Em suma, uma noite inesquecível, é o que fica para memória futura para todos os presentes certamente, eu incluído. Perdoem-me ainda assim os pruridos com os níveis de distorção sónica debitados pelos geniais músicos, os resultados dos exames de capacidade auditiva ficam para depois.