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Cola e Hause Plants, primavera morna à espera do caos

Nesta última sexta-feira de primavera tínhamos no calendário o concerto dos portugueses Hause Plants e dos canadianos Cola (acrónimo de Cost of Living Adjustment) no Music Box. Cá fora noite morna e agradável assim como lá dentro. Foi nesse ambiente morno, mas agradável por assim o ser, que os Hause Plants de Guilherme Machado Correia e companhia ( João Simões, Dany Royo e JAntónio Nunes da Silva)  brindaram a assistência com uma sonoridade que bebe de fontes diversas e navegaram entre o EP de estreia de 2020 (City Vocabulary) e os últimos singles lançados já em 2023 com a habilidade de quem tem objectivos maiores.

HAUSE PLANTS

Um “aquecimento” apropriado para os canadianos Cola de Tim Darcy e Ben Stidworthy, provenientes dos Ought, banda muito acarinhada pelos apreciadores das sonoridades mais perto do pós punk que se fez na última década, e que após o fim deste colectivo se juntaram a Evan Cartwright para fazerem algo, que não se desvincula totalmente desse passado, mas mostra ao mesmo tempo uma direcção um pouco diferente. Pelo menos para já com o primeiro álbum lançado no ano passado, “Deep in View“, nome inspirado no livro de 1964 The “Deep-in” View, A conversation with Alan Watts.

Uma timidez cerimoniosa parece ser transversal a toda a banda e mesmo ao seu público, quando  olhamos para os três. Se os observarmos individualmente as coisas já são ligeiramente diferentes, Darcy possui o à-vontade de quase todos os vocalistas do gênero mas sem se dar a grandes movimentos em palco. Ben Stidworthy no lado oposto do palco, não tão estático como Darcy parece encontrar-se no meio da escala entre Darcy e Cartwright, sim é suposto os bateristas mexerem-se um bocado mais, mas também os há mais estáticos. Parecem tão timidamente inexperientes por causa dessa maneira cerimonial como se comportam, quando olhamos apenas para o conjunto, mas depois quando nos abstraímos da sua presença em palco e nos concentramos na música, o que ouvimos é uma banda perfeitamente alinhada.  É verdade que as músicas em si não tem nada de muito explosivo ou algo do gênero, mas parecem oscilar numa melancolia feliz, temperada por ocasionais notas de euforia no meio de um público jovem e aparentemente conhecedor de “Deep in View”, que balançou o corpo numa espécie de dança/transe praticamente durante todo o concerto.

O alinhamento do concerto está muito próximo do alinhamento do próprio álbum e com exceção de duas músicas novas que Tim Darcy anuncia timidamente, sem que nos seja possível perceber o nome. O público parece mimetizar a postura um pouco estática de Tim Darcy, mas esta vai-se esbatendo à medida que o concerto decorre, e parece atingir o pico da própria performance com Water Table e Mint, momento em que o público já se desprendeu muito mais.

Um concerto curto, sem muita história, onde os Cola parecem fazer do mote “menos é mais“, o seu modo de estar na música. Não seria possível muito mais que os 45 minutos que tocaram e mesmo assim apresentaram duas músicas novas, e o entusiasmo do público na medida justa, não pediu encore. Talvez na próxima vez que cá passem, com mais um álbum na bagagem, (já anda aí o novo single, Keys Down if you Stay), as coisas aqueçam um pouco mais, porque parece que ficou ali a faltar qualquer coisa pelo meio. Parece que meio de tanta competência técnica, é um facto, ao nível de qualquer um dos três músicos, faltou ali um pouco de caos.

COLA