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Mötley Crüe, Def Leppard e The Quartet of Woah! O passado e o futuro juntos em Algés

Um final de semana bastante quente, onde as cervejas frescas dos copos altos eram a esperança para refrescar os sons agudos que se adivinhavam no Passeio Marítimo de Algés. Uma tour mundial negociada pelos amigos de longa data, que prometia uma noite de revivalismos e promessas de que o Rock’n’Roll de 1980 ainda daria cartas e levaria o público ao rubro. A primeira parte esteve lá, mas a segunda desvaneceu-se numa realidade que já não tem sustentabilidade, o Sex, Drugs and Rock´n´Roll está cada vez mais esbatido noutros movimentos e nem mesmo os que lá foram para o ‘salvar’ se atravessaram de forma determinada e expressiva.

Expectativas em alta, mais que não fosse pelo regresso de uma das maiores bandas anglosaxónicas (ou duas?) do Hard/Pop Rock de sempre, quem já está no meio século de vida sabe bem disso, os Def Leppard (1977). Um regresso aos nossos anos de ouro, em que o efémero não existia no nosso léxico e o céu era o limite. ‘Take What You Want‘ na soltura de uma contagem decrescente ainda com o sol no reflexo do Tejo, em ligação direta para ‘Let´s get Rocked‘ onde mergulhámos na energia inocente da nossa adolescência e onde ficámos quase duas horas. Com o deslumbramento da secura dos bíceps de Phil Cohen (guitarra) e de Vivian Campbell (guitarra) mas também pela limpeza cristalina das cordas vocais de Joe Elliot (o branco fica-lhe tão bem!). Confesso que por vezes nos levou à dúvida existencial, “será isto play back?”. A juntar àqueles acordes de guitarra certeiros (se fechássemos os olhos podíamos estar a ouvir o CD), o sorriso tranquilo de Rick Allen (bateria) que acompanhava a única baqueta nos pratos fazendo passar a mensagem que nem as limitações físicas nos demovem de prosseguir os nossos sonhos!

Por detrás do quinteto de músicos, surgiam imagens de uma vida de palco (quase cinco décadas!) que todos eles se podem orgulhar. Longe dos grandes escândalos, os Def Leppard foram fazendo o seu caminho, ultrapassando algumas adversidades como a morte prematura do guitarrista Steve Clark (Viviane Campbell substitui-o em 1992) o acidente de viação do baterista Rick Allen (1984) e, mais recentemente, a doença oncológica de Vivian Campbell. Em 2022 regressaram com o seu décimo segundo disco de originais, “Diamond Star Halos”, e ‘Kick‘ e ‘This Guitar‘ fizeram parte do alinhamento de 6ªfeira que não deixou de ser um alinhamento saudosista.‘Love Bites‘ (1978) a deixar um nó na garganta, ‘Rocket‘  e ‘Hysteria‘ (1987) que deixaram o público numa maior proximidade com Joe Eliot. Fatiotas e penteados qb (uns amarelos e uns rosas mais excêntricos..), embaixadores do Reino Unido em que se evidenciavam os símbolos patrióticos em alguns dos instrumentos. E quando o sol já estava mesmo na linha do mar, baixaram a imagem da banda que promove esta tour e não regressaram para um encore. Pelos sorrisos que ficaram em suspenso, a maioria das pessoas gostaria de ter ouvido mais um tema ou outro, pois não senti nada a ansiedade pelos cabeça de cartaz. Joe Eliot despediu-se assim do público português com um “não se esqueçam de nós que não nos esqueceremos de vocês”. Poderá ser que esse tema que ficou por tocar, os faça voltar dentro em breve!

E eis que chegara o momento dos ‘roqueiros’ norte-americanos, Mötley Crüe. A banda de Vince Neil (voz) e Tommy Lee (guitarra) esforçou-se na produção e deu um espetáculo de luz, adereços, gaijas e decibéis ensurdecedores! Em tentativas sucessivas de recuperar o lado mais negro da malvadez do hard rock, lançam em 2022 o seu último original “Turn me Loose”, motivo pelo qual decidem fazer esta tour mundial e convidar os ingleses Def Leppard.

Uma família de cruedheads a gritar desde 1981 e que na 6ª feira conseguiu o seu momento de maior agitação no público com um medley de versões, onde os Sex Pistols e os Ramones foram ligeiramente ‘mal tratados’, mas enfim. Não fosse Tommy Lee um adepto fervoroso de seios femininos, suponho que os da sua própria esposa, Pamela Anderson, mas pelos vistos também de outras esposas. E lá mandou o charme às moças que se encostavam às grades ou que se encavalitavam nos machos suados, pedindo-lhes que os mostrassem. Sim os próprios seios, pois então, não “fossemos todos uma grande família” e entre familiares não há que ter esse prurido. Para acalmar os ânimos, Lee sentou-se ao piano e puxou o seu lado mais sentimental, com “Home Sweet Home”.

Duas bailarinas com adereços a rigor, em que as suas performances oscilavam entre os movimentos sensuais da pole dance e os mais energéticos, como os da dança jazz (tão anos 1980!) Uma loira e uma morena ‘tal e qual um homem quer’ (a fazerem justiça ao nosso Marco Paulo), que entravam e saiam de palco sempre com a mesma energia sensual. E já a caminho do final, o tema “Girls, girls, girls” num momento apoteótico onde as ancas acentuadas das bonecas gigantes suspensas no palco (e das verdadeiras) faziam babar os que ainda aguentavam os baldes de cerveja fresca.

Por último mas não menos importante, os The Quartet Of Woah!, a banda portuguesa convidada a abrir estes dois concertos. Muito ilustres para nós, mas perfeitos desconhecidos para a maioria dos presentes que já estavam no recinto por volta das 18h30, deram o espetáculo com a qualidade que já esperávamos, apesar de alguma forma abafados pelo calor que ainda se fazia. Completamente fora do seu habitat, mas, uma experiência enriquecedora para todos, público incluido que teve a oportunidade de se “aculturar” mais um pouco sobre a música que se faz em Portugal.

O Passeio Marítimo de Algés já está quase pronto para o próximo grande evento, a 15ª edição do Festival Nos Alive nos próximos dias 6,7 e 8 de julho. Bons festivais!