Backstage Festivais NOS Alive

Black Rebel Motorcycle Club, uma entrevista com muitas faces da mesma moeda

Um dos regressos há muito aguardados, Black Rebel Motorcycle Club foram um dos melhores concertos no Palco NOS, no NOS Alive que decorreu na passada semana.

20180713 - Festival - NOS Alive'18 @ Passeio Marítimo de Algés

fotos na galeria NOS Alive Dia 13 Black Rebel Motorcycle Club

Antes do concerto que já deixa muitas saudades, o Música em DX teve uma conversa com o Robert Levon Been, em que revelou uma outra faceta neste álbum em comparação ao anterior e uma viagem interior que levou à criação deste.

Música em DX (MDX) – Nós somos “Wrong Creatures?” 

Robert Levon Been – [risos] Se fomos todos… Bem não vou querer ser um otário, mas é contigo. Depende de como as pessoas interpretam esse título. Nós temos tentado ser os mais vagos possível. Por isso, não me destruas logo à primeira pergunta. [risos] Mas eu não sei, há dias, há pessoas, coisas que são mais certas, noutras que é tudo mais errado. Eu gosto dessa pergunta, da resposta nem por isso. [risos]

MDX – Tenho uma mais fácil então. Para ti, qual é a maior diferença entre o The Spector at the Feast e este álbum?

Robert – Hmmm. Escrever o Spector veio numa altura muito difícil para todos. Nós estávamos a recuperar uma perda pesada, então este álbum viveu muito à sombra desse acontecimento e se tornou muito difícil para escrever. E foi uma tour muito emocional. Não na boa maneira que se espera, numa expressão para tentar fazer o bem. Já este álbum foi muito mais livre para deixar o pesado e tocar o que sentimos. Apenas tocar música rock de uma maneira nova, talvez. Foi mais libertador nesse sentido. Não mais fácil, apenas diferente, no que toca a criar. A maior diferença se calhar foi… Originalmente em Wrong Creatures, nós escrevemos demasiadas canções e gravávamos imensas. No último minuto acabámos por cortar algumas das melhores músicas. [risos] E pusemos algumas numa pequena cassete preta, que pusémos juntamente com o vinil. Mas a maioria das pessoas apenas ouve um lado da moeda. Eu penso que isso é diferente para mim. O Spector foi todos os lados da moeda, a virar constantemente. Este álbum parece que consegue ficar de um lado da face por mais tempo. O que é bom.

MDX – Isto relaciona com outra questão que tenho. Quando estás a criar, tu “crias” o momento para transmitir o que estás a sentir ou é aparece naturalmente?

Robert –  Usualmente, começa naturalmente. Como um sentimento, um pensamento, um som. Nós apenas caímos sem pensar. Tropeçamos numa melodia e as palavras aparecem sem pensarmos, mas nunca vemos a fotografia completa. Apenas temos meio retrato daquilo que é. Tu sabes o que é, mas não sabes como acabar. E então, muito do tempo tu tentas fingir como ser natural, para acabar a história. Tu acordas de um sonho e só lembras de metade dele. E então tens de pensar como acaba. Tu pensas como te sentiste, e tentas tomar o sonho como realmente. Por isso sim, é como estimular um sentimento natural. A primeira parte é verdade. A segunda parte é pretender que se mantém verdade.

MDX –  E de onde vem este interesse por sons indianos e bass drums?

Robert – Os tribais? Eu não sei… Qualquer um pode sentar os rabos e tentar tocar qualquer coisa. [risos] Nós tentamos criar sempre algo mais. Um ritmo, um set. Eu não sei onde arranjamos. Tentamos influenciar em diferentes lugares, mas às vezes é suficiente manter as coisas simples. Mas nós tens criar mais, se pudemos.

MDX – E consideras-te uma pesssoa intensa?

Robert – Intensa… As pessoas pensam que sou uma pessoa mais envergonhada ou reservada, mas musicalmente, não sou assim tanto. Mas não sei. Tu até podes ser mais intenso que eu. Apenas és melhor a escondê-lo.

MDX – E tens alguma mensagem que queiras mandar ao público português? Alguma chance de voltarem a Portugal?

Robert – [Risos] Sim, se houver alguma oportunidade irá certamente chegar até ti. Por isso escreve aos promotores até porque adoramos tocar aqui. E gostávamos de ter a oportunidade de tocar num espaço interior. O ambiente de festival até é divertido… durante um determinado tempo. Por isso, não temos muitas oportunidades de tocar o novo álbum e seria bonito mostrar mais do que ele é e tocar mais músicas do outro álbum. E tocar do outro também. [risos]

MDX – Então espero ver-te no Coliseu brevemente.

Robert – Eu espero também.

Entrevista – Carlos Sousa Vieira | Eliana Berto
Fotografia – Luis Sousa