20180713 - Festival - NOS Alive'18 @ Passeio Marítimo de Algés
2018 Concertos Festivais NOS Alive Reportagens

NOS Alive 2018, dia 13 – Portugal, The Festival e uma noite de festa

O segundo dia do NOS Alive confirmava o que o primeiro já evidenciava. Muito público em todas as frentes, muito entusiasmo para bandas como Queens of The Stone Age, Two Door Cinema Club ou ainda Portugal. The Man ou Future Islands. Um dia que primou pela consistência, tanto em qualidade como no estilo.

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Para abrir o Palco NOS, enquanto entrava público e o sol começava a escaldar um pouco, Kaleo trataram de ver se as colunas de som estavam em melhor estado do que na véspera. Um dos problemas da véspera prendia-se com o som muito baixo vindo do palco principal. Porém, os islandeses, a gozarem um estado de graça, não pelas prestações futebolísticas, mas sim pelo seu álbum A/B, não deixaram de passar ao lado dos temas mais conhecidos como o Way Down We Go ou o No Good. Uma boa maneira de começar a tarde.

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+ fotos na galeria NOS Alive 2018 Dia 13 Kaleo

As vendas dos passes de 2 dias, 13 e 14, esgotaram e isso fez-se sentir no número de pessoas que afluiu ao recinto. Se Kaleo às 17h00 já estava composto no Palco NOS, os canadianos Japandroids tinham o Palco Sagres confortável. Referência punk-garage, a dupla de Vancover mostrou ao Alive que a pureza do Rock se traduz em muito pouco, uma guitarra e uma bateria, uma cerveja e um punhado de letras simples que chegam a todo o comum mortal. Encantados com Portugal, Brian King (voz e guitarra) e David Prowse (bateria e voz) fizeram-nos sentir num concerto de garagem. Pela proximidade, descontração e cumplicidade do público com os músicos. O palco Sagres prometia um dia cheio de coisas boas.

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De seguida e para não quebrar o ritmo rockeiro, seguimos para o Palco NOS onde iriam actuar os Black Rebel Motorcycle Club. Com um novo álbum agraciado pela crítica, “Wrong Creatures”, os californianos regressaram a Portugal com uma actuação carregada de distorções melódicas e danças de falange incríveis. Há guitarristas que tocam bem guitarra, há outros que são autênticos contorcionistas de falanges e, Robert Levon Been integrasse nessa categoria de contorcionista do baixo! Toca-o encostado ao peito, nos joelhos, pendurado nas costas, basicamente faz dele o que quer. Peter Hayes de cigarro pendurado no canto da boca ia intercalando com a harmónica e trocando guitarras. A voz metalizada saída do transformador fundia-se nos riffs rasgados e desalinhados. O baixo como estrutura dos temas, domina quase sempre o percurso da guitarra, e fala naquele lamento que por vezes chega a ser de raiva. Leah Shapiro a dar o mote nos pratos, sempre com um ar meio alucinado de concentração. Alinhamento diversificado, com “King of Bones” do último álbum logo no 2º tema e a terminar “Whatever Happened To My rock ’n’ roll”, com Robert a sair do palco e a aproximar-se do público. Um regresso triunfal para os motociclistas.

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E se do Palco NOS vinham bons ventos, do Palco Sagres vimos bons casamentos. Como o de Eels com o público. Mark Oliver Everett, o tal de Mr. E,  é daquelas pessoas que podem ser conhecidas como “bom gajo do rock”, até por estar sempre a interagir com o público e a mostrar a ginga que tem de ir a todas. Como um medicamento para alma, como Novocaine for the soul, Eels fizeram uma bonita e uma divertida (não fossem poucas as vezes que disse que o público era “fun” ou até mesmo a gozar com o guitarrista e a sua virgindade) viagem pelo seu rock, principalmente do último álbum “The Deconstrution“. Foi daqueles concertos que não custava nada se pudessem passar por cá daqui a uns meses.

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Yo La Tengo é aquela banda que sobrevive há mais de três décadas sempre no mesmo registo. Sem conturbados altos e baixos, o trio norte-americano mantém a postura de um rock mais experimental, sendo os acordes levados ao limite pelo guitarrista (e voz) Ira Klaplan. E foi exactamente isso que aconteceu 6ª feira. A cumplicidade entre os músicos é notória o que facilita a fluidez dos temas. Georgia Hubley, a maestrina da banda e poderosa baterista, direcionou os improvisos do marido (guitarrista), enquanto o baixo de James McNew registava uma linha de continuidade dos temas. Mudança de instrumentos durante o concerto, mas o regresso à zona de conforto de cada um era inevitável. Caras sérias enraivecidas pela exigência dos acordes, e por isso já nos habituámos a poucas conversas e a poucos sorrisos. Mas continuamos a gostar deles.

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A familiaridade dos The National e o público português é sentida desde o primeiro momento em que sobem ao palco, seja em festival ou em concerto em nome próprio. Matt Berninger e os restantes músicos estão confortavelmente em casa, o que nos dá a satisfação de bons anfitriões. Os The National não eram os cabeça de cartaz, mas o limite de uma hora de atuação não foi cumprido, felizmente! A carga emocional de toda a discografia dos norte-americanos deixa-nos totalmente vulneráveis à entrega de Matt em cada tema. Não foi necessário muito tempo para entrarmos na subtileza da sua obscuridade. Ao segundo momento, no feitiço de “The System Only Dream in Total Darkness”, mergulhamos no mundo (des)encantado dos The National. Cores fortes com imagens distorcidas do palco, sintonizadas na intensidade das guitarras, na leveza do piano ou do violino. Luzes verticais nas extremidades do palco, provocando uma unanimidade no foco dos músicos. Dois caps sobressaiam das cabeças do baterista e do guitarrista.

Bloodbuzz Ohio” (High Violet, 2010) um dos temas mais acarinhados do público entrou a menos de meio do concerto. A espontaneidade de Matt já o fizera sair do palco e tocar nas pessoas. Há pessoas assim, que precisam de partilhar as emoções e Matt é genuinamente este tipo de pessoa. A questão é que não estava a tocar para uma sala fechada e devidamente controlada. Mas ele não quis saber. Desceu várias vezes do palco, zangou-se com o micro e mandou ao público e ainda foi ao bar da Sagres mais próximo. Ao mesmo tempo que timidamente se enrola na posição fetal, larga a zona de conforto e partilha a sua vulnerabilidade emocional com o mundo. A banda esteve sempre pronta para o acolher e iam trocando umas palavras com o público, como se nos quisessem dizer “nós cuidamos uns dos outros, não se preocupem com o Matt.”

Quase a terminar, “Mr. November” e “Trouble Love” numa voz mais arrastada e cansada (ou emotiva), em pedaços explosivos de guitarras. A capacidade que os The National têm para nos remeter para o ambiente intimista do pequeno club, é impressionante. Contudo a maturidade instrumental é cada vez mais perceptível, bem como a performance de toda a banda. Por nós os The National tinham ficado mais um bocadinho, a conversa estava tão boa!

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E se pensávamos que o concerto de The National ia centrar as atenções, não haveria pensamento mais errado. Nem dentro nem nos arredores do Palco Sagres dava para mexer um pouco para a direita nem para a esquerda. Tudo para Portugal. the Man. A jogar literalmente em casa, bem que podiam ser naturalizados cá, tal a união que se verificou. O Woodstock que os catapultou para uma outra dimensão desde do ano passado tornou uma viagem intensa, carregada de festa e pitada de humor e ironia (com algumas frases em português que iam surgindo no ecrã nas costas da banda). Depois de uma entrada com uma interpretação do Another Brick in The Wall, Live in The Moment, Number One, Modern Jesus e o claro Feel it Still fizeram uma noite que se quer repetir. Veremos se não têm um momento à la Madonna e também se mudam para cá. (Turismo de Portugal: façam isso acontecer)

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Sobre Queens of The Stone Age ficam várias verdades em cima da mesa. Desde logo, é que Villains não é o seu melhor álbum. Mas isso não quer dizer que não se festeje o rock com pompa e circunstância. Outra verdade é que esta versão muito “limpa” da banda do Josh Homme, faz com que a essência se perca. O Feet Don’t Fail Me, por exemplo, podia ter uma explosão maior que não se verificou como por exemplo na bomba atónica No One Knows que continua a ter a capacidade de arrasar com públicos em todas as frentes.

Essa mística do Rated R ou do Songs for the Deaf pelos vistos perdeu-se no tempo, mas porém ainda conseguimos ter uns vislumbres até noutros temas como o Make Up Wit Chu ou Burn The Witch. Pena que tenha sido demasiado calminho para um concerto de rock.

Queens of the Stone Age no Palco NOS / Queens of the Stone Age performing on NOS Stage
© Arlindo Camacho | NOS Alive’18

Depois de QOSTA todos os caminhos iam dar ao Palco Sagres. A caminho quem quisesse fazer uma paragem pelo Clubbing ficava numa pequena e rápida viagem ao Rio de Janeiro e aos ritmos quentes e com raízes no funk, trazidas pelo norte americano Sango, que ao ano passado lançou o De mim, Pra você, uma verdadeira carta de amor à música brasileira.

Rag‘n‘Bone Man foi uma surpresa expectável, na intensidade, ritmo, entrega e espirito tribal. Um show à antiga, em que tudo está intrinsecamente encaixado e esse encaixe destaca tudo e todos praticamente à mesma intensidade. O neozelandês Rory Charles Graham é uma força da natureza, ponto! Ter o soul na voz não é para qualquer um, ou se nasce com ele(a) ou dificilmente se adquire. Rory teve essa bênção e aplicou-a de uma forma inteligente, explorando-a e compondo músicas completas, nos arranjos e nas letras. Uma empatia invulgar com o público, pois a sensação que tivemos foi que o conhecíamos desde sempre e ele a nós. Uma transparência de alma, da dele e da nossa. O R&B, o soul e o blues têm essa capacidade, de nos remexer as vísceras e soltar o que de mais sensual tem o nosso corpo. Acompanhado por uma banda extraordinária, onde os instrumentos de sopro, as teclas e o coro culminavam num décor de camisas florais. Um dos momentos do dia a destacar, definitivamente. Queremos Rag´n´Bone Man em Lisboa!

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+ fotos na galeria NOS Alive 2018 Dia 13 Rag’n’Bone Man

O Coreto by Arruada, este ano está um pouco esquecido, não por opção mas pela qualidade do line up dos outros palcos e não conseguimos estar em todas. Mas a SURMA tínhamos obrigatoriamente que ir ver. E foi mesmo impressionante! Nunca duvidámos das capacidades ilimitadas de Débora Umbelino, e por isso temos acompanhado o seu trabalho carinhosa e atentamente. Mas na 6ª feira em cima daquele palco, já pequeno para a sua grandiosidade, SURMA demonstrou que ela própria acompanha a par e passo o crescimento do seu sucesso. E o seu sucesso se deve a ela própria. A envolvência na música que vai reproduzindo é tão intensa que nos deixa colados aos seus gestos. Genuínos e trazidos do fundo da alma, tornando a sua performance num espectáculo no qual apetece não sair.

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Toda uma caminhada para ficar sem fôlego em Future Islands. The Far Field foi uma prenda de Sam T. Herring e companhia, dada ao ano passado. Um álbum que não sai do registo do Singles, mas que não é uma coisa má. De todo. Bem pelo contrário. É sinónimo de uma missa que tem tudo para servir os crentes e converter os outros à doutrina mágica. A corrida de um lado para o outro começa com Run, e continua à volta de uma imagética relacionada com a viagem que têm vindo a fazer ao longo dos 10 anos de existência, como o Beauty of The Road.

Um espectáculo dentro do espectáculo é observar a exorcização do Sam em palco. Microfone na cabeça, no peito… Os guturais que já são a imagem de marca live. Tudo torna a experiência inesquecível, que tem como ímpeto aquela música que lembra os verões desde 2014, o Seasons (Waiting on You) e que é celebrada como um novo hino nacional e que foi aprovado ali na hora.

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Texto – Carlos Sousa Vieira e Carla Sancho
Fotografia – Luís Sousa | Arlindo Camacho (NOS Alive’18)
Evento – NOS Alive 2018
Promotor – Everything Is New