20180226 - Entrevista - Sextile @ Sabotage Club
Backstage

Entrevista com Sextile, uma mistura poderosa

Na passada segunda-feira os Sextile passaram pelo Sabotage Club, no segundo de dois concertos em Portugal, na noite anterior estiveram no Porto, no Hard Club, e aqui encerraram a tour em que promoveram o seu segundo disco, Albeit Living. Um disco que parece saído de uma misturadora temporal e sonora, uma tempestade de energia e poder. Foi num dos sofás do Sabotage Club, cerca de uma hora antes desse ultimo concerto que estivémos à conversa com Melissa, Brady, Eddie e Cameron.

MDX – Gostaria que apresentassem os Sextile aos nossos leitores, pode ser?

Melisa – Sou a Melissa, também conhecida por Scaduto, que é o meu apelido e toco bateria e às vezes também canto algumas coisas. O Cameron, que está lá em baixo…toca guitarra e sintetizador… Ah também querem que vos apresente aos dois??? (Dirigindo-se a Eddie e Brady)

Eddie – Não, sim…não. Ah eu sou o Eddie, tenho imensas alcunhas e toco sintetizador e mais uma coisas. E depois temos ali o Brady que canta e toca guitarra e é um extraordinário produtor …

20180226 - Entrevista - Sextile @ Sabotage Club

MDX – Como se conheceram e começaram a tocar juntos?

Eddie – Oh… nós conhecemo-nos na recuperação. Éramos todos dependentes de várias coisas.

Melissa – Eu e o Brady conhecemo-nos em Nova York.

Eddie – Ya, e a Melissa e o Cameron também se conheceram em Nova York.

Melissa – Eu o Cameron somos quem se conhece há mais tempo. Conhecemo-nos em Nova York há bastante tempo atrás. Tínhamos uma série de amigos em comum, todos ligados à música. Ambos vivemos na Florida quando éramos miúdos. Todos os miúdos que estavam na cena do punk na altura se conheciam. Nem sei bem como mas conhecíamos todos e eu e o Cameron, nem sei bem explicar mas conhecíamo-mos há mais de uma década. Há cerca de seis anos conhecemos o Brady. O Cameron mudou-se para Los Angeles mais ou menos ao mesmo tempo que nós e eu conheci o Eddie nos Narcóticos Anónimos em Pasadena por isso…a banda formou-se de certa forma nos Narcóticos Anónimos porque assim que conhecemos o Eddie em menos de duas semanas estávamos a tocar juntos.

Eddie – Toda a gente nesta banda andava a abusar de qualquer coisa naquela altura….

Melissa – Na altura..

Brady – Sim, excepto ele porque ele é normal.

Eddie – Sim, menos eu..

Melissa – Excepto ele. Sim ele é normal e por isso é que é ele que fala.

Eddie – E o Cameron é como se fosse o observador das Nações Unidas.

Melissa – Houve alguém que se referiu a ele como o homem que estaria a observar. Foi durante uma entrevista acho eu.

MDX – É como se ele fosse o mediador…

Melissa – Um pouco, e além do mais também é ele que se trata do pessoal que quer informações e que quer falar com a banda.

Brady – Tu também tratas de muita coisa e falas muito pela banda (dirigindo-se a Melissa).

Eddie – Mas há uma coisa que é super estranha e nós já falámos nisso. Parece que o Cameron está na banda desde o ínicio e ele está connosco há menos de um ano, mas na verdade acompanha-nos desde o ínicio. Já tínhamos falado de ele entrar para a banda há algum tempo e quando aconteceu pareceu tudo super natural.

Melissa – Nós tínhamos uma pessoa na banda que não se esforçava muito, mesmo antes de toda a ideia dos Sextile, e que não resultou, tínhamos outra pessoa, mas como não estava a resultar… Mesmo antes disso, já há muito tempo que queríamos o Cameron na banda connosco. Continuámos a dar oportunidades a essa pessoa mas acabou por não resultar.

Eddie – Inicialmente falámos sobre o Cameron tocar bateria ou que quer que seja, mas nós queríamos mesmo era o Cameron na banda, nem interessava bem como. Desde que ele está connosco toda a nossa ideia de banda faz realmente sentido.

MDX – Era mesmo para acontecer desta forma!

Brady – Completamente desta forma.

Eddie – Estamos felicíssimos por ter acontecido desta forma!

Melissa – Quem sabe. Poderíamos tê-lo convidado nessa altura e ele não estar disponível ou não estar pronto para tocar connosco, do género; “ Eu não tenho tempo para isto agora! É demasiado amador!”

Cameron – Ah! Mas eu gostava do vosso som!

Melissa – Ok Ok! Mas o Cameron já esteve numa série de bandas! O Cameron é que já tinha feito tours pela Europa, sabíamos lá o que é que ias responder!

MDX – Foi como se ele vos tivesse feito uma audição!

Melissa – Pois, ele estava a fazer-nos audições! Porque ele é que tinha estado numa banda pelo maior período de tempo.

Eddie – Sim, o Cameron é que já tinha estado em tour pela Europa.

Melissa – É como se agora eu saísse dos Sextile e outra banda me convidasse para tocar numa cena um bocado amadora, eu ia dizer; “ Ahhhh eu preciso de ouvir umas cenas primeiro, umas demos, sei lá… ou qual é o vosso plano…Temos de escolher onde vamos empreender o nosso tempo.

MDX – O vosso nome, Sextile, porquê este nome?

Eddie – Nós estamos todos numa onda estranha e divertida e andamos ou andávamos um bocado na onda da Astrologia. E Sextile (Sextil) é um aspecto da astrologia ou um termo utilizado na astrologia.

Brady – Sextil é seis em latim e na astrologia o que podemos observar é que tudo o que se opõe, opõe-se em seis graus.

Eddie – Por exemplo qual é o teu signo?

20180226 - Entrevista - Sextile @ Sabotage Club

MDX – É sagitário.

Brady – Sagitário, certo! Então para ti é Balança e Carneiro porque eu, que sou o teu oposto gémeos, sou ar para o teu fogo, os outros dois é que são os teus signos de ar, gémeos é o teu oposto, embora eu ache que nos entendemos perfeitamente, como se nos complementássemos.

Melissa – Eu acho que não explicaste bem isto, devias de ter simplificado. O nome significa a harmonia dos seis graus de separação. Qualquer forma que tenha seis graus representa um sextil e antes da idade média era o nome do mês de Agosto. E de todos os nomes de banda que nos sugeriram este foi aquele que nos soou melhor e mais fixe.

Brady – E ninguém tinha este nome! É um aspecto positivo e harmonioso da criatividade.

Eddie – É encorajador e tem a ver com criatividade….

MDX – Como aconteceram as coisas desde que começaram a tocar até o primeiro disco acontecer?

Melissa – O pessoal da editora viu-nos uma vez e convidou-nos para gravar.

Eddie – Na verdade foi no nosso primeiro concerto.

MDX – Ele viu o vosso primeiro concerto e convidou-vos para gravar, isso deve ter sido espectacular!

Melissa – Foi um concerto em que éramos a banda de abertura de uma banda da editora dele.

Brady – Ele viu o nosso primeiro concerto e duas semanas depois estávamos a assinar contrato.

Eddie – Foi tudo muito rápido, e foi mesmo espectacular.

Melissa – Especialmente porque nós tínhamos conhecido o Eddie umas duas semanas antes do nosso primeiro concerto.

Eddie – Eu conheci o Brady no dia a seguir à Melissa e uns dias depois já estávamos a ensaiar. Quando assinámos para gravar foi tudo ainda mais rápido.

Melissa – Eu e tu (Eddie) na noite em que nos conhecemos falámos sobre tocar juntos e eu liguei ao Brady a dizer-lhe que tinha conhecido alguém muito fixe em Pasadena.

Eddie – Nós conhecemos numa cena um bocado à Footlose…

Melissa – Ya, conheces o filme Footloose?

MDX – Sim!

Melissa – Ya, estávamos numa cidade onde ninguém podia dançar. Eu estava numa casa para pessoas sóbrias, muito rigida cheia de pessoas que me tentaram dizer, que me disseram de facto que se eu jamais poderia tocar música ou fazer parte de uma banda e manter-me sóbria porque aparentemente são coisas totalmente incompatíveis.

Eddie – É aquela visão de que temos de nos reestruturar.

Melissa – Aparentemente eu tocava demasiado alto, ao ponto de toda a casa, todas as 34 mulheres dizerem que eu não poderia tocar mais e eu declarei; “ Isto é como o Footloose!” A partir daí, de vez em quando eu digo; “ Temos de voltar àquela cena do Footloose!”. Elas nem faziam a menor ideia do que é tocar numa banda e criar e juravam a pés juntos que eu ia ter uma recaída se entrasse numa banda mas elas estavam enganadas…

Brady – Foi óptimo termo-nos encontrado assim.

MDX – Quando assinaram com a editora tinham material suficiente para gravar?

Melissa – Tínhamos algum mas não era suficiente. E o que existia acabámos por não utilizar porque depois de o termos ouvido bem achámos que não tinha qualidade suficiente e que poderíamos fazer bem melhor que aquilo.

Brady – Daquilo que o Jeff ouviu no nosso primeiro concerto nunca chegámos a gravar nada.

Melissa – Gravámos sim, em Nova York.

Brady – Não, não tínhamos muito material.

MDX – Tocam juntos há cerca de quatro anos. O que é que mudou ou evoluiu no vosso processo criativo?

Eddie – Sim, foi em Dezembro de 2014 o nosso primeiro concerto.

Brady – Evoluímos imenso. Desde a música que ouvimos à música que tocamos. E o nosso material é muito melhor.

Melissa – Eu ainda continuo a ouvir as mesmas cenas. Houve uma altura em que havia uma quantidade de coisas que eram muito inovadoras, mas a verdade é que cada um de nós evoluiu muito, tocamos muito melhor.

Brady – Eu produzi e misturei os dois discos e a verdade é que do primeiro para o segundo existem diferenças brutais. Aperfeiçoámos muita coisa e mesma a forma como gravámos foi diferente. Também acho que as músicas são muito melhores. A composição das músicas e o envolvimento nelas foi muito maior. Ideias muito mais completas.

Melissa – Temos equipamento muito melhor, somos melhores músicos, e fizemos muitos concertos para podermos ter equipamento melhor. Empresas de que gostamos começaram a patrocinar-nos e a ajudar-nos a adquirir equipamento. E depois temos o Cameron que tem um gosto musical excelente. Ele tem uma intuição fabulosa. Nós tínhamos algumas músicas muito punks e o Cameron disse; “Toquem o que querem tocar, toquem o que gostam”. E quando as pessoas envolvidas até gostam de coisas com qualidade tudo acaba por se desenrolar muito melhor.

MDX – Mas as vossa influências não mudaram assim tanto, ou mudaram? E não se esgotam no punk e no pós-punk, certo?

Brady – Eu sou influenciado por músicas tão diferentes…

Cameron – Coisas dos anos setenta e dos anos oitenta..

MDX – Qual foi a maior alteração em termos de abordagem aos concertos ao vivo?

Eddie – Respondendo a essa pergunta, da forma que eu a interpreto, aquilo que mais mudou foram os agenciamentos e a forma como as coisas se desenrolaram para nós, com muitos concertos marcados, com condições muito boas que nos permitiram dar bons concertos.

Brady – Era isso que estavas a perguntar?

MDX – Era isso sim.

Eddie – Permitiu-nos viajar muito mais e tocar em sítios completamente díspares.

MDX – Já me disseram que o que vos influencia é muito abrangente, mas quem é que vos influenciou a tocar ?

Melissa – Acho que depende um bocado da época da nossa vida em que isso aconteceu. Se estás a falar enquanto banda, acho que foi o último disco dos D.A.F., influenciou-nos imenso. É brutal.

Brady – Mas estás a falar daquilo nos influenciou em crianças? O rock dos anos setenta sem dúvida.

MDX – O que pergunto é o que de determinada maneira, enquanto indivíduos levou cada um de vós a tornar-se músico?

Melissa – Eu cresci nos anos noventa por isso a maior cena de todas para mim foi o Kurt Cobain (E mostra uma tatuagem no antebraço que diz “Kurt Lives”). Foi o Kurt Cobain. Eu era muito jovem quando ouvi os Nirvana. Os Nirvana fizeram-me ter vontade de agarrar numa guitarra.

Eddie – Para mim foram os Exploited. O meu primeiro concerto em 1999.

Brady – Para mim foram os Pink Floyd ou os The Doors, provavelmente os Doors. A minha avó comprou-me o meu primeiro disco dos Pink Floyd, e eu olhei para aquilo e pensei; “Uau! Que é isto? Sintetizadores? ”

Cameron – ahhh…

Brady – Tu tocavas numa banda de hardcore aos 13 anos.

Cameron – Não, eu não. Mas os meus amigos sim. Eu tinha amigos estranhos e um deles tinha uma cave de que os pais não queriam saber e nós íamos todos para lá fazer barulho. Não foi nenhuma banda nem nenhum músico, foi mesmo aquela cena de estar com os amigos.

MDX – Foi mais um acaso, estavas ali com aquelas pessoas e aquilo era o que eles faziam?…

Cameron – A maioria dos miúdos tocava, e a maioria tocou numa banda pelo menos uma vez em algum momento.

Melissa – Mas tu andavas com miúdos porreiros, só gostas de boa música…

Cameron – Eu era um bocado complicado e andava com pessoal esquisito…gostava muito de arranjar confusão.

Melissa – Eu também…

Cameron – Os miúdos mais problemáticos acabam por ser os mais criativos.

Melissa – Os maus rapazes são sempre os mais fixes.

Cameron – Eles não conseguem fazer tudo certinho e manter-se na linha.

Melissa – É verdade, está no ADN deles. Normalmente é pessoal que está a experienciar outras cenas e por isso a escola acaba por ser um desperdício de tempo para eles.

20180226 - Entrevista - Sextile @ Sabotage Club

MDX – Há tanta coisa boa para viver e parece que nada disso está dentro daquele espaço e tempo que é a escola?

Melissa – Sim, sem dúvida. Eu sou um bocado o exemplo disso. Deixei a escola aos catorze anos e até agora acho que nunca me fez falta. Fui encorajada a desistir pela própria escola, pelo próprio sistema de ensino. Sinto que eles falharam comigo. Não foi porque eu não seja inteligente, uma pessoa inteligente digamos. Eles é que me puseram numa turma com outros míudos complicados. Eram as turmas de prevenção das desistências, o que é estranho porque eu nunca tinha pensado em desistir até àquele momento.

Cameron – Foi como se acelerassem todo o processo de desistir.

Melissa – Foi exactamente o que aconteceu. Na maioria das vezes era um professor completamente ao acaso. Em matemática era sempre um professor substituto que nós chamávamos o Polyester Sub, porque ele só usava fatos de polyester. Ele era tão fixe. Não queria saber de nada nem de coisa nenhuma daquilo que nós fazíamos ou deixávamos de fazer. Podíamos comer os livros de matemática ou desfazê-los que ele não se importava. Ele não nos dizia nada, era quase como se estivéssemos a competir para ver quem conseguia fazer a cena mais marada. Isto de nos juntarem todos nestas turmas, porque nós acabávamos por partilhar a maioria das disciplinas com todos estes miúdos que andavam sempre metidos em sarilhos era divertido, aquilo era quase como se fosse uma festa.

Cameron – Sim, aquilo era como uma festa interminável. Andavámos sempre ver até onde nos poderíamos safar.

Melissa – Até que chegávamos àquele ponto em que nos questionávamos; “Mas afinal venho à escola para quê?”. A minha mãe desistiu de me obrigar e ela sabia que não aparecia nas aulas. Conheci um rapaz que andava talvez no último ano e ele vendia erva. Tinha um Camaro branco dos anos 80, e nós só queríamos era andar por aí de cabeça bem cheia. Isto foi em Miami…

MDX – O vosso último disco, ao olhar para o nome de algumas músicas e depois para as próprias letras, houve alguns nomes e letras que me prenderam um bocado a atenção como AVC…

Brady – Nesta música em particular isto significa A Viable Comercial. Apareceu um tempo antes de começarmos a trabalhar no segundo disco. Eu queria fazer um outro projecto onde me ia focar num som mais electrónico, afastar-me um bocado da guitarra. Queria criar qualquer mais para cena dos after hours de Los Angeles, que é uma onda muito electrónica. Só fiz essa música e depois quando fomos gravar o disco eles gostaram muito da música e eu pensei, bem vamos chamar-lhe aquilo que iria ser o nome do tal projecto que eu ia fazer.

MDX – Depois há a Crisis, a Ripped e a Sterilazed, e outras que se focam em coisas que se passam no Estados Unidos actualmente, nomeadamente na politica. Pelo menos foi essa a minha interpretação.

Melissa – Se estás a falar do Ripped, essa fui eu que escolhi o nome, não fui eu que escrevi mas escolhi o nome, e é isso que ela tem de politica. Honestamente nessa em particular, o Brady tinha um nome mas eu disse que Riped soava muito melhor. E Ripped é o nome de uma coisa que eu ia começar, a minha própria fanzine por isso foi mais por acharmos que era um bom titulo. É outra palavra ou forma de dizer, completamente lixados porque a fanzine ia ser sobre histórias de pessoal que eu conheci na reabilitação e aquela malta tem histórias completamente loucas, histórias de vida inacreditáveis, que olhando para trás até tem a sua piada e valia a pena serem escritas.

MDX – E o que se está a passar afeta a vossa forma de criar ou fazem as coisas assim desta forma porque é mesmo essa a vossa intenção?

Brady – Sem dúvida que nos afecta. E sim a nossa intenção é mesmo esta. Nós queremos mesmo ter uma palavra a dizer sobre isto tudo. Já o disse em outras entrevistas, se não estamos a fazer nada somos parte do problema. Actualmente há demasiada tensão nos Estados Unidos e isso não deve ser ignorado. Não ignorem isso. Não se pode ignorar, temos de dizer alguma coisa sobre o que se passa à nossa volta. Não podemos ser coniventes.

Cameron – Não estamos deprimidos com isso.

Brady – Não, nada disso. A música é energia e movimento e o que as letras dizem é; “Acordem, abram os olhos!”.

MDX – Acho que a maioria das pessoas está um bocado perturbada com as notícias que saem dos Estados Unidos e creio que a música acaba por ser uma maneira privilegiada de demonstrar isso. E quando vos pergunto isto é um pouco também para tentar perceber se a nossa percepção é próxima da nossa…

Melissa – Sim por todo o lado, toda a gente está chateada e perturbada com tudo…

Eddie – Isto é muito maior que o Trump…é a cena do sistema financeiro do mundo inteiro que está errada. Tanta câmara, tanta informação e nada. Mas depois quando pensas um pouco e abres os olhos é tudo um bocado óbvio. As injustiças quase impossíveis de quantificar que os governos enfrentam e infligem, sendo que os Estados Unidos acabam sempre por estar na frente … e viver lá e ter um país representado por um mero peão. Isto é completamente surreal para nós. Como é que é possivél que uma personalidade mediática possa dizer; “Agarrá-las pela rata!” como se isso fosse uma coisa normal, fazendo parecer que somos nós que não concordamos com isso que somos os retrógados, ou fazer do racismo uma cena cool…Nós não queremos nada disso, não queremos ter nada a ver com isso. Ele que se foda. Ele e o sistema todo e o governo todo e toda a forma como aquela campanha aconteceu!!!

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MDX – A Melissa parece preocupada com o que estás a dizer…

Melissa – Não…não estou preocupada, estava era a ficar irritada ao lembrar-me destas cenas que o Trump disse, porque para mim o grande problema foram também os media. O clube dos rapazes dos media…mas será que eles não percebem que defender quem quer seja que defende que o assédio sexual é uma coisa normal, que não há problema, que está errado? Um dos problemas é o circo mediático que é montado por um clube de rapazes que acha que isto está tudo certo. Eles que se fodam. Homens a discutir se assediar uma mulher é um problema ou não, não está certo, as mulheres serem excluídas desta discussão não está certo. É ridículo.

MDX – E agora que estiveram algum tempo fora, e viram um pouco a forma como fora dos Estados Unidos essas noticias são tratadas e difundidas, qual é a impressão com que ficam?

Eddie – Essa é uma boa pergunta, a sério mesmo. Todos os governos, a forma como admnistram os impostos dos contribuintes, há aí mais que uma questão. Porque é que continuam a existir pessoas com fome e porque é que os sistemas de saúde e a educação continuam desta forma? Porque é que continuam a largar bombas em países por todo o mundo?…Na Europa tens países com posições mais neutras e abordagens menos agressivas…

MDX – O que se passa no resto do mundo chega até vós sem que tenham de procurar? E não estou a falar da internet, porque a percepção que nós temos é que as pessoas no geral, e não estou a falar de vós em particular e sim do público em geral, não tem quase noção do que passa fora dos Estados Unidos e que isso acaba por ser válido também em termos de música…

Eddie – É isso. Se não procurares, esquece.

Brady – Não há uma BBC News nem nada semelhante.

Melissa – Essa foi uma das maiores diferenças que notei.

Eddie – Até as notícias do resto do mundo lá são uma nulidade. Falam de cupcakes vegan e tretas dessas.

Melissa – Espera não te desvies da pergunta porque isto é importante. Quando ligamos a televisão e vemos as notícias não há nada de notícias do mundo como há na Europa, como a BBC News que me parece está presente na maioria dos países europeus e a BBC dá cobertura a coisas de todo o mundo. Nós não temos nada assim.

Eddie – Falam de uma série de países de Àfrica, falam da Arábia Saudita, Síria, Rússia, Estados Unidos. Nós até temos algumas coisas mas são tão filtradas e aquilo é quase nada.

Melissa – Eu creio que são filtradas porque os Estados Unidos andam a policiar o mundo desde sempre. E acaba por ser qualquer coisa que não querem deixar de fazer e querem manter aquela ideia de se preservarem, e fecham-se e fecham-nos e nem sequer fazem a menor ideia de como afectam os outros.

MDX – Na música também sentem isso?

Melissa – Para mim isso não é bem um problema porque eu procuro saber o que se passa…

MDX – Mas e se não procurares? E aí não falo do underground, mesmo no geral!

Melissa – Definitivamente se não procurar não há nada. Nos Estados Unidos não há nada de rock moderno, excepto talvez os Coldplay que são enormes em qualquer lado e um lixo completo já agora…

Brady – Existem algumas rádios de universidades…

Melissa – Só temos mesmo as rádios das universidades, e que são principalmente em grandes cidades, embora não seja essa a regra. Algumas das melhores até estão em cidades mais pequenas como Oxford no Ohio que é uma escola de música e tem uma rádio universitária fantástica. Mas não é o grande rock… nos Estados Unidos essas estações são sempre quase ao lado daquelas que tem os programas da manhã mais populares e é aí que podes apanhar algum rock recente, moderno e bom. Mas na verdade não temos rock moderno a passar na rádio. Eles passam a mesma coisa todos os dias, Guns n’Roses e só cenas antigas…Actualmente a grande cena na América é a música rap e o hip-hop.

Brady – Ao estarmos na Europa apercebemo-nos que existem diferenças mas eu não creio que sejam assim tantas e a maior acho que acaba por ser a troca de moeda. Porque depois tens os mesmo Burger King’s, as mesmas estações de gasolina, as mesmas lojas em todo o lado.

Melissa – Ah não!!! É muito diferente dos Estados Unidos.

Eddie – A Europa é muito muito diferente dos Estados Unidos.

Brady – Eu não acho.

Eddie – Então e os milhares de anos de história? E aquelas fachadas góticas e todos aqueles bairros com centenas de anos que vimos?

Brady – Fala com alguém em Barcelona para veres o que te dizem. Já nem conseguem morar na cidade deles porque está tudo metido no turismo.

Melissa – É claro que existem semelhanças, somos todos ocidentais.

Brady – Eu vejo mais semelhanças que diferenças.

Melissa – Sim, é semelhante em certos aspectos mas não é igual…

Eddie – Existem diferenças culturais grandes.

Cameron – A Suécia é muito diferente de tudo. E depois Barcelona aquela cidade é tão cosmopolita que eles já nem consideram aquilo como Espanha…Queres ver Espanha tens de sair de Barcelona. Nós vamos a sítios cheios de hipsters e pessoal com um aspecto cool, artistas e assim…

Brady – Existem semelhanças suficientes entre os dois sítios para que nos possamos sentir sempre confortaveis.

Melissa – O facto de a maioria das pessoas falar pelo menos duas línguas é fantástico. Nos Estados Unidos só se fala inglês…

MDX – Fizemos aqui um desvio para o mundo, mas voltando aos Sextile, o vosso segundo álbum saiu em Junho do ano passado, já estão a trabalhar em coisas novas?

Melissa – Temos estado a fazer umas demos enquanto andamos na estrada. O Cameron trouxe um gravador. Não temos data nenhuma ainda mas vai acontecer. Quando voltarmos para casa começamos a organizar… O mais importante é continuar a criar, continuar a ser relevante e como parece que agora temos todos ideias…

20180226 - Entrevista - Sextile @ Sabotage Club

MDX – E se tivessem uma máquina do tempo onde e quando gostariam de ir para ver um concerto ou para partilhar o palco com alguém?

Melissa – Eu gostava de ir até Nova York, 1977 ver os Suicide e fazer parte daquela cena toda até ali mais ou menos 1994 e daí iria talvez para outro ponto qualquer, talvez Shefield.

Cameron – Eu gostava de ir até à pré-história talvez tocar para os dinossauros. Não sei…nunca foi bem uma ambição minha… às vezes é bom poder romantizar uma coisa e não a viver de facto, porque talvez aquilo não tenha sido exactamente como nos parece a nós visto de longe..

Brady – Eu avançava uns 400000 mil anos no futuro.

Melissa – No futuro?

Brady – Não interessa! É uma máquina do tempo, tenho tempo para tudo!

MDX – Ontem estiveram no Porto e hoje estão aqui em Lisboa, não sei como é para vós, mas para nós portugueses são duas cidades muito diferentes…Como correu ontem à noite?

Brady – Ah a paisagem e a forma como as cidades se espalham a partir dos rios…A paisagem recortada nas encostadas no Porto é completamente diferente daqui de Lisboa, tem ambas uma beleza muito própria. Foi muito bom!

MDX – Obrigada pelo vosso tempo e bom concerto!

Texto – Isabel Maria
Fotografia – Luis Sousa