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The Mystery Lights, A energia nervosa do pré-punk dos 60s

A estreia dos Mystery Lights em Portugal aconteceu no passado domingo dia 10 de Dezembro, no Sabotage Rock Club. A banda de NYC escolheu a noite de temporal para apresentar o seu álbum homónimo e temas que farão parte do próximo trabalho. Era suposto termo-nos abrigado da chuva, mas não deu. E bem que eles nos aconselharam a não usar cetim, pelo menos na entrevista que a MDX lhes fez uns dias antes do concerto em Lisboa. A rua de São Paulo, no Cais do Sodré anunciava uma noite de Inverno. Algumas pessoas resguardavam-se da chuva intensa no Rock Kebab, aquele cubículo de cozinha indiana mesmo ao lado do Sabotage, pelo menos até as portas do bar se abrirem.

Muitas foram as pessoas que saíram de casa para assistir ao explosivo concerto dos Mystery Lights – eles que foram a primeira banda a inaugurar a Wick Records – a sub-editora da Daptone Records e que lançou nomes como Charles Bradley ou Sharon Jones & the Dap-Kings.

Já passava das 23h quando os Mystery Lights misturaram o blues, a soul e deram voz a um cru e psicadélico garage rock tipicamente americano. A luz do palco no mínimo, a pedido da banda e música nova para começar com “Im So Tired”. Música que fará parte do próximo disco com lançamento previsto para o início do próximo ano. A banda inicialmente serena mas com a dança pop psicadélica do vocalista Mike Brandon a despertar o interesse dos mais distantes do palco.

O concerto prossegue com “Follow Me Home”, o single lançado o ano passado e que reúne a maior parte das características da banda. O fuzz agressivo, as guitarras limpas com tremolo e uma bateria simples assumida por Zach, sendo ele já o terceiro baterista da banda.

É aqui, e neste momento inevitável não associarmos os riffs aos dos Yardbirds, o canto ao de Banny Tashian e o som ao dos Stooges.

O público continuava a entrar, e com eles temas conhecidos como “Flowers in My Hair, Demons in My Head” e a tão esperada “Too Many Girls”. Esta é a narrativa contrária à maioria das narrativas contadas pelas rockstars. Mas eles queixam-se de terem muitas miúdas em casa?! Que dilema para os Mystery Lights, ou não estivéssemos nós diante de uma banda de garage rock. As letras um tanto ou quanto adolescentes, consumidas por traumas passados relacionados com miúdas e festas. Um som cru e guitarras com reverb, onde a influência dos 60s está bem presente.

O público responde à energia selvagem e orgânica própria da banda dos Estados Unidos com “Melt”. O guitarrista Louis Alfonso Solano chega-se ao microfone para dar os parabéns a Kevin Harris, o técnico de som que acompanhava a banda. São os sweet sixteen, diz o baterista em tom de brincadeira.

A banda brindou-nos ainda com alguns temas novos como “Too Much Tension”, “Nothings Special” ou “Traces”, e a criar expectativa para o que poderemos encontrar em 2018.

Pausa para um shot de tequilla que a banda faz questão de pedir educadamente ao bar. Sim, porque estes jovens não se nutrem só de Nuggets, aquela famosa compilação de psicadélico/ garage rock americano da década de 60.

Aproveitam para agradecer ao público português e o vocalista brinda com duas garotas eufóricas que se encontravam na linha da frente.

Anunciam o fim do concerto, e ainda se despedem por alguns segundos mas sem sucesso nem convicção. Ouve-se o baixo de Alex naquele que viria a ser o início de “Rumblin’ Rose” dos MC5 com o público a perceber o que vinha aí. Entre cervejas, saltos e desatinos no amp de Mike, a versão continua. Na verdade, o que importa para estes rapazes não é serem excelentes com os instrumentos mas proporcionarem uma experiência única a quem os vê. Já a passar da meia-noite, acabam com “Dead Moon Night” dos Dead Moon e nós sentimos aquele agradecimento generoso por acharem Portugal so fun.

Lisboa despediu-se assim daqueles que nos trouxeram um pouco do cenário haight-ashbury dos anos 60 para redefinirem um estilo retro com uma audiência moderna.

Esperemos que em Leiria e no Porto a série tenha tido a mesma energia e a mesma banda sonora.

 

Texto – Raquel Nunes Silva
Fotografia – Daniel Jesus