20171013 - Entrevista - Brant Bjork @ RCA Club
Backstage

Brant Bjork – A voz do deserto

Não poderíamos deixar passar em claro a oportunidade de trocar algumas palavras e ficar a conhecer um pouco melhor Brant Bjork. Nativo do deserto californiano que já foi membro dos Fu Manchu e dos Kyuss, que trocou a bateria pela guitarra e resolveu cantar o deserto.

Fomos recebidos por toda a banda que por ali manteve durante todo o tempo a relaxar enquanto não chegava a hora do concerto no RCA em Lisboa, depois de na noite anterior quase ter demolido o Cave 45 no Porto. Nota-se bastante bem que além de companheiros de estrada, pela forma como lidam uns com outros o nível de amizade e companheirismo entre eles é elevado. Ao olhar para este grupo de rapazes bem crescidos não consigo deixar de notar em todos eles, o sorriso de rapazes traquinas e felizes.

A calma de Brant Bjork é quase contagiosa e depois de nos apresentarmos não foi complicado começar a conversa, que foi bastante informal e divertida.

Música em DX (MDX) – Não tens passado muito por Portugal, mas sabes que tens muitos fãs em Portugal? Tens essa percepção, de que aqui neste canto da Europa tens muita gente a ouvir os teus discos?

Brant Bjork – Bem eu não sabia disso!!! Toquei cá em 2009 e depois em 2010 com os Kyuss Lives.

Mas é maravilhoso porque eu adoro Portugal, é uma ironia lindíssima que as pessoas daqui gostem daquilo que eu faço.

20171013 - Entrevista - Brant Bjork @ RCA Club

MDX – Chamam-te o Padrinho do Stoner, e tem existido uma expectativa muito elevada com este concerto! Andas em tour na Europa desde meados de setembro, que tal achaste a Europa desta vez?

Brant Bjork – Adoro a Europa, e é por isso que venho o máximo de vezes possíveis. E é vir até à Europa que me permite continuar com a minha paixão, com a minha música ao serviço do Rock n’roll.

MDX – É de facto uma paixão, porque ou estás em tour, ou estás a gravar!

Brant Bjork – Yeah, não faço quase mais nada. Mas eu encaro isto como o meu trabalho, o meu emprego digamos. Toda a gente tem de fazer alguma coisa para contribuir e eu contribuo com a minha música. Eu sinto que foi o dom que foi dado e é com isso que retribuo.

MDX – Tocas e fazes disso vida há cerca de 30 anos, e muitos de nós conheceram-te através de bandas como os Kyuss e os Fu Manchu. Por isso é inevitável perguntar se vos poderemos ver reunidos um destes dias.

Brant Bjork – Eu agora não penso muito nisso. Quando o Nick (Olivieri), o Jonh (Garcia) e eu nos reencontrámos em 2010, 2011, também não pensámos em nada. Nada daquilo foi planeado, nem o facto de me ter tornado um artista a solo foi planeado…. Como disseste a minha paixão é a música, é o meu dom e é com ele que trabalho e depois recosto-me a ver o resultado disso por um bocado.

MDX – Hoje trazes um convidado especial, Sean Wheeler. Como é que conheceste o Sean Wheeler?

Brant Bjork – Eu vi o Sean tocar no deserto. Ele era da geração antes da minha e fez parte movimento original do punk do deserto. Quando era miúdo fui ver alguns concertos dele, e quando cresci acabámos por desenvolver uma certa amizade. Percebemos que tínhamos uma verdadeira empatia e temos trabalhado juntos ao longo dos anos, bastantes vezes. Até que no ano passado decidimos que queríamos fazer uma tour juntos.

MDX –  Tem corrido como esperavas?

Brant Bjork – Sem dúvida, tem sido espectacular!!

MDX – Conseguiste ouvir a banda que tocou antes de ti ontem, os Ana Paris?

Brant Bjork  Para ser honesto, não. Estivemos com eles ontem à noite, são pessoal espectacular e gostei muito de conversar com eles, mas antes dos concertos eu gosto de meditar e mesmo de poupar a minha audição e por esse motivo não tenho por hábito assistir a outros concertos antes de tocar, mas hoje vou ouvir um pouco decerto.

20171013 - Entrevista - Brant Bjork @ RCA Club

MDX – O teu último álbum de originais tem agora cerca de um ano. Já tens ideias novas?

Brant Bjork – Sim. Ando sempre a trabalhar em coisas novas. Já fiz umas quantas demos nos últimos três, quatro meses… e quando voltarmos depois desta tour, temos mais um concerto na Cidade do México e outro em Los Angeles com os Monster Magnet, vamos começar a trabalhar no novo disco.

MDX – Podemos então esperar um novo disco em 2018?

Brant Bjork – Sim, ou no Outono de 2018 ou na Primavera de 2019. mas o mais provável é que seja no Outono de 2018.

MDX – Voltando ao último disco e também um pouco ao disco ao vivo, Europe’16, sempre foste bastante frontal com as tuas escolhas, modo de vida e etc. Alguma vez tiveste problemas por dizeres exactamente o que pensas e aqui falo sobretudo em relação à marijuana…

Brant Bjork – Quando comecei a fazer a minha própria música, eu não sabia o que as pessoas queriam. Eu toco a minha música e para mim é regenerador, é parte da força da minha vida, é o meu trabalho e estou grato que as pessoas se interessem e me apoiem, mas não sei exactamente do que é que as pessoas gostam, o que precisam ou querem e não quero pôr essa pressão sobre mim próprio. Eu sei o que eu preciso e quero, como artista para poder ter uma vida saudável e satisfatória. Há medida que os anos foram passando e vi cada vez mais pessoas a apoiar o que faço, comecei a sentir-me cada vez mais confortável a ser cada vez mais aquilo que sou. Consigo aprofundar o que sou e celebrar as coisas que me fazem ser o que sou e já não me preocupo se as pessoas aceitam ou não….não sei bem explicar…

MDX – Estás a fazer as tuas coisas como tu queres e sem pensar muito sobre se o que estás a fazer e  as pessoas ou gostam, ou não.

Brant Bjork – Yeah!! Adoro o deserto, os anos 60, o rock, marijuana…e sou obcecado com a guerra do Vietnam. E é isto que eu sou. Apenas me permiti mostrar um pouco mais, cada vez mais do que realmente sou.

MDX – Qual é a cidade da fotografia da capa do The Tao of Devil?

Brant Bjork – É Twentynine Palms. Twentynine Palms é a cidade mesmo no limite do Joshua Tree.

MDX – Porquê essa cidade, ou porquê essa foto?

Brant Bjork – Bem, eu e a minha mulher adquirimos recentemente uma casa em Twentynine Palms e eu cresci não muito longe dali. Para mim sempre foi uma cidade bonita mas um pouco misteriosa e sei que muita gente por todo o mundo reconhece Joshua Tree, mas poucos reconhecerão Twentynine Palms que é mesmo ali ao lado. É uma cidade funky…e por acaso ilustrava mesmo bem aquilo que eu queria transmitir com a capa do disco.

MDX – Quais eram as tuas maiores influências quando começaste a tocar?

Brant Bjork – As influências que tinha em criança ainda se mantém de muitas maneiras. A verdade é que eu nunca cresci, em vez disso acho cresci para dentro e me aprofundei, em vez de sair da concha e ir lá para fora, creio que fiquei cada vez mais metido comigo mesmo e por isso talvez tenha sido nos anos 90 que aconteceu interessar-me por alguma coisa nova que estava a ver e a ouvir no mundo da música. Não é apenas a música que me inspira. Quando era miúdo era inspirado por quase tudo aquilo de que falei, rock, o verdadeiro rock dos anos 60, antes de ser comercial, quando ainda era o som do protesto e da contestação e isso inspirou-me realmente. O punk rock também foi muito importante para mim porque me deu a coragem de ir atrás dos meus objectivos enquanto músico, sem ter de sentir a pressão de ser super prolífico…e depois há o jazz e a política americana.

MDX – Não tens nenhuma banda hoje em dia que te chame a atenção?

Brant Bjork – Não negligencio a qualidade das coisas novas que circulam, nem sequer penso em sugerir que não se faz boa música, porque tenho a certeza que ela está a ser feita, mas a mim o que me excita mesmo… eu sou muito virado para a história. Sou uma alma antiga e por isso gosto de história e do passado. Gosto de perceber de onde vem tudo o que temos e estamos a vivenciar hoje, como os anos 60, quando o rock ainda estava a nascer, a ser inventado. Hoje em dia o rock está a desintegrar-se. E nos anos 60, o rock e o folk estava tudo lá…e além do mais, ainda há tanta música boa por descobrir. Quero descobrir os clássicos, quero estudar, como se estivesse a estudar literatura antiga ou algo do género. Gosto de estudar música antiga. Não tenho muito tempo para investir em ouvir música…tenho a família e todas as minhas coisas, mas o tempo que tenho invisto-o de forma especifica.

MDX – E planos para voltar a Portugal, existem?

Brant Bjork – As oportunidades vão surgir.

MDX – Gostaram de estar no Porto ontem?

Brant Bjork – Gostámos muito, mas não pudemos fazer nada de especial…o tempo não chegou. Eu adoraria voltar ao Porto. Ainda hoje disse isso à minha mulher. Temos de voltar ao Porto, trazer os miúdos, e temos de conhecer Portugal.

20171013 - Entrevista - Brant Bjork @ RCA Club

MDX – Ver a paisagem, umas praias, uns concertos?

Brant Bjork – Ver as paisagens, algum concerto, conhecer uns restaurantes…. adoro a comida. É dos sítios onde comi melhor na Europa toda.

MDX – Agradecemos a tua disponibilidade e as tuas palavras! Algumas palavras para os fãs e para os ouvintes de música no geral?

Brant Bjork – Obrigada por todo o vosso apoio e por gostarem daquilo que faço! Eu continuar a passar por cá e vamos continuar a passar bons bocados.

Entrevista – Isabel Maria
Fotografia – Luis Sousa