Concertos Reportagens

Asimov & Minami Deutsch – a utopia do ritmo e do tempo

Quinta-feira à noite e o Cais do Sodré, mais concretamente o Sabotage Club recebe mais duas bandas do furor psicadélico e krautrock que andam aí. Sim são muitas, centenas de bandas neste registo. Mas a verdade é que seja moda ou mania, o psicadelismo está neste momento a dar cartas entre nós nas suas vertentes mais variadas. Em Portugal pela primeira vez tivemos o trio japonês, convertido em quarteto para tocar ao vivo, Minami Deutsch, e para aquecer a noite o duo português, agora trio, Asimov. Voltando à moda versus mania; se é certo que emergiram muitas bandas neste espectro nos últimos anos, a verdade é que nem todas possuem a autenticidade necessária para não serem apenas mais uma banda.

É o caso dos Asimov, e é também o caso dos Minami Deutsch. Daí que ter na mesma noite as duas bandas mais que sorte é bom senso de quem as juntou no mesmo palco.

A autenticidade não se limita à originalidade, ultrapassa sim, as suas próprias fronteiras na criação de sensações ambientes e mesmo ilusões e essa autenticidade de quem vive aquilo que criou e o  transmite nos concertos sem a limitação de se esconder atrás das suas influências ou daquilo que os apaixona.

Os Asimov tem vindo a crescer e o seu som tem vindo a tornar-se mais complexo e completo. A adição do baixista Rodrigo Vaz ao duo Carlos Ferreira, voz e guitarra, e João Arsénio, bateria, veio proporcionar a possibilidade de aprofundar as viagens que tem vindo a criar há já cerca de seis anos adensando um pouco mais a viagem para todos, tanto para os músicos como para o público.

Com 4 álbuns já editados tem vindo a crescer tanto em estúdio como em palco e as suas prestações são cada vez mais devassas, no sentido em que parecem ter cada vez menos filtro e sentem-se cada vez mais verdadeiras, como se cada concerto fosse inteiramente único.

Conhecedores do passado, vão beber as suas influências à área mais pesada e suja do rock dos anos 70, mas com uma nova roupagem, a deles.

45 minutos de guitarra a arranhar os olhos com bateria e baixo a comprimir o peito, com a nostalgia debaixo dos pés num mar turvo de psicadelismo quente e decadente que nos absorve até ao ultimo som. Uma viagem a não perder. E foi com essa sensação de visível dever cumprido que abandonaram o palco para dar lugar à banda japonesa.

Os Minami Deutsch são uma banda relativamente recente, mas não tem perdido tempo. A primeira ideia de banda surge em 2014 e não tardaram a editar o primeiro EP e o primeiro álbum logo no ano seguinte. Em 2016 já tocam na Europa no Liverpool Psych Fest e numa série de outras salas.

Foi às 00h que os Minami Deutsch entraram em palco e sem muita hesitação debitaram em nós um ritmo  quente, minuciosamente estruturado, minimal e cheio como um coração a bombear sangue para todo o corpo. Com um baixo extremamente pulsante, cheio e frenético a comandar e a fazer-se sentir e a segurar as guitarras ao máximo até que por fim as liberta, num fuzz ruidoso e estonteante, Terra Recipe distendida ao limite nas suas guitarras cintilantes e a segurar todo o público que se agita ao ritmo denso dos japoneses. A percorrer o álbum de estreia de 2015, divertem-se a distorcer as suas músicas a estendê-las ao máximo dos máximos, obrigando-nos a quase percorrer o cosmos com eles. Em quase todo o álbum conseguimos identificar influências de Neu! Can e outros, mas o facto de não existir novidade absoluta não os torna nada menos convidativos, muito pelo contrário, é o convite para algo familiar mas refrescante, confortável mas provocador.

Com uma performance que cresceu rapidamente, e que, contida na sala do Sabotage, a transforma  num vórtice ritmado e repetitivo, conseguiram manter o humor da audiência entre o êxtase e o frenesim até ao final que chegou demasiado rápido, tal como o ritmo imposto pela banda desde o inicio. É certo que existia uma certa expectativa em relação à performance dos Minami Deutsch, pois tem vindo a ser altamente recomendados. Podemos dizer que também aqui subscrevemos essa recomendação e aguardamos ansiosamente um novo álbum.

 

Texto – Isabel Maria
Fotografia – Nuno Cruz