2017 Concertos Festivais Reportagens Vodafone Paredes de Coura

Vodafone Paredes de Coura’17, Dia 19: Ty Segall, O gosto saciante do verdadeiro rock!

Paredes de Coura é um espaço onde o único tempo que existe é aquele que nos faz sorrir. É aquele conforto que encontramos ao ser confrontados com o coração da natureza e a partilha das mais variadas tonalidades de emoções. É, também, aquela dualidade do tempo que pára mas que chega ao fim rápido demais. Em Paredes, o tempo não se segura o que nos faz sentir que nunca é suficiente para saborearmos tudo o que nos é oferecido.

fotos na galeria Vodafone Paredes de Coura 2017 Dia 19 Ambiente Rio

Ao acordar na manhã deste último dia de festival, o coração fica sempre mais apertado, em especial neste dia 19: o dia do melhor lineup do festival e em que não houve tempo para parar.

Antes de passarmos aos palcos, a já habitual conferência de imprensa com João Carvalho (Ritmos) e Leonor Dias (Vodafone) onde ficámos a saber que esta edição foi aquela que mais bilhetes vendeu e que naquele dia estariam mais pessoas do que alguma vez tinham estado. O recinto fora alargado e alguma reestruturação feita. O objectivo não é crescer mas ficar cada vez melhor! No próximo ano o festival decorrerá de dia 15 a 18 de Agosto.

Uma corrida até ao rio para desfrutar da Music Session nas margens do Taboão. Noiserv era o convidado! Para nosso infortúnio a Music Session contemplou apenas 15 minutos. Garantidamente os 15 minutos mais emocionantes e arrepiantes que aquele cenário idílico apresentou. Por baixo da calma serena da sombra das árvores que cobrem o rio e nos apaziguam a alma, David Santos levou o seu piano e com ele ofereceu-nos “Sete”, “Vinte e Três”, “Quinze”, “Onze” e “Dezoito”, todas do seu mais recente trabalho 00:00:00:00. É quase indescritível o que sentimos sempre que ouvimos Noiserv, a beleza daquilo que cria torna-se transcendental e arrepia sempre cada partícula e molécula que carregamos.

FESTIVAL VODAFONE PAREDES DE COURA 2017 _ 4º dia _ 16 a 19 de Agosto _ © Hugo Lima | fb.me/hugolimaphotography | hugolima.com

Ainda durante a tarde, tivemos o prazer de escutar, em exclusivo e na íntegra, o novo trabalho de Benjamin Clementine a sair a 15 de Setembro com o nome “I Tell a Fly”. Um registo bastante diferente daquele que conhecemos de Benjamin. Depois disso, respondeu a algumas perguntas, sendo que o tema mais tratado foi os problemas que passou durante a sua vida e, principalmente, o Bullying na infância.

fotos na galeria Vodafone Paredes de Coura 2017 Dia 19 Benjamin Clementine

A abrir o último dia de festival os nortenhos Toulouse no palco Vodafone FM. Energia e rock com alguma distorção e melodia psych fizeram com que não nos arrependêssemos de correr até ao palco para os ouvir um pouco. Com o público a acompanhar e a boa energia a fluir, afirmavam que deixariam as novas para o fim quando toda a gente fosse esperar Manel Cruz, e assim foi.

fotos na galeria Vodafone Paredes de Coura 2017 Dia 19 Toulouse

Eram 18h30 da tarde e o espaço do palco principal do festival estava composto por uma multidão que ia até quase à saída do recinto. Manel Cruz tem este poder de encantar almas e pessoas com a sua poesia e talento. Introduções retiradas de discursos a abrir as músicas e a poética crua, intensa e sábia a acompanhar os instrumentos naquele que seria o cenário perfeito para isso. A orelha gigante, imagem do novo álbum, apresentava-se na retaguarda deles como se quisesse escutar o que se dizia. O instrumental, com um ritmo bastante apetecível, delicado e trabalhado transmite-nos a segurança do seu dono. Em cima daquele palco há uma entrega genuína de quem não tem medo do que vem, do que foi e do que é. A temática sobre Deus demarca-se ironicamente na lírica que escreve e a razão da palavra que proclama penetra-se em nós. O álbum novo foi apresentado e bem recebido, “Ainda não acabei” soube indescritivelmente bem logo ao início do concerto. Ouvimos ainda “Cães e Ossos”, “Coisas de Manteiga”, “Missa”, “Maluco” e “Ovo”, entre muitas outras.

fotos na galeria Vodafone Paredes de Coura 2017 Dia 19 Manel Cruz

Mantendo-nos no mesmo palco, um furacão chamado Foxygen invadiu-nos de rompante. Sete músicos em palco, três deles com sopros, um ao piano e uma vedeta de rock’n’roll na liderança. Uma conjuntura cénica majestosa e chamativa com um cenário de festa abraçava-os naquele momento. A eles e a nós. “Vocês são tão bem parecidos que poderiam fazer parte de um filme de Hollywood” afirmava Sam enquanto desfilava pelo palco. Uma verdadeira estrela estava diante de nós e, de forma assumida, desempenhava o seu papel na perfeição. Com ou sem ironia, o que saia pelas colunas fazia-nos sorrir e dançar. O estilo meio barroco com toques de indie, fumos de psych e distorções de garage criavam uma envolvência que nos permitia desejar que o momento não acabasse. “San Francisco”, “Follow the Leader”, “America” e “Upon a Hill” foram faixas que pudemos ouvir, ficando com a sensação que se, houvesse mais tempo, seguiríamos mesmo Sam!

fotos na galeria Vodafone Paredes de Coura 2017 Dia 19 Foxygen

De um encanto provocador e astuto passamos para um encanto natural e sedutor. Alex Cameron tem a magia dos ídolos dos anos 80. Não só física, como vocalmente. As canções com refrões de entrada fácil e os movimentos de anca demarcados pela roupa tal Rick Astley faziam com que se ouvissem muitos gritos femininos no espaço. Um synth mágico envolto numa espécie de indie com alguma electrónica reportou-nos à adolescência e ao sorriso labial. Houve direito a dedicatória aos amigos Foxygen, às mulheres fortes e aos homens fracos, terminado com a magnífica “Marlon Brando”.

fotos na galeria Vodafone Paredes de Coura 2017 Dia 19 Alex Cameron

Depois de uma pausa para jantar, regressávamos ao palco Vodafone FM para o fecho do mesmo. Não falo de um fecho qualquer! Falo de uma loucura criada por distorções, agudos, e fernetismo. Os Lightning Bolt deram um espectáculo inesquecível! De máscara a cobrir a cabeça, Brian Chippendale destrói a bateria enquanto nos inunda com uma voz distorcida, imperceptível e algo esquizo, enquanto que Brian Gibson o acompanha com o baixo descontrolado e inquieto. Se existir uma loucura não corrosiva, gostava que fosse esta e que pudéssemos, todos, por momentos, ir bebendo dela. Era tudo muito rápido e só havia duas hipóteses diante desta dupla: ou se odiava ou se amava. Amando, a entrega ao caos era obrigatória mas isso não era importante! Neste bocadinho, a consciência e a razão deixaram de fazer sentido. Não fosse o concerto que viria a seguir e este noise rock que desfrutávamos teria levado a taça! Espero que o regresso se faça no meio do público, onde eles tanto gostam de tocar e disparar raios magnéticos.

fotos na galeria Vodafone Paredes de Coura 2017 Dia 19 Lightning Bolt

Ty Segall!

Poderia dizer apenas isto e o amante de boa música perceberia de imediato. A verdade é que é indescritível o poder que um concerto deste génio tem sobre mim. Não é difícil ter como garantido que vai ser bom, o melhor de onde quer que esteja. A verdade é que no ano passado, no Primavera Sound, a intensidade foi maior, o que não quer dizer que não tenha sido, este ano, o concerto da noite e do festival. A cor escolhida desta vez foi o vermelho e, um a um, os homens da liberdade entravam no palco. O rock sujo dos anos 90 com mais meios veio até nós. Distorções e solos geniais, adrenalina e algum noise, descontracção e puro talento. Garantidamente a felicidade espalhou-se pelo meu corpo inteiro e, durante o tempo em que ali estive, entreguei-me de corpo e alma aquele senhor que tantas cordas estragou naquele espaço de tempo (nem poderia ser de outra forma). Os músicos são escolhidos a dedo e o teclista consegue fazer maravilhas. O lado selvagem dos donos das cordas revelam a vontade incessante de voltar à rebeldia (se è que alguma vez a vamos perder.) Apesar de afirmar que estava com a voz um pouco rouca, pouca diferença se notou, ficando, até, mais enquadrada naquilo que ouvíamos, com um toque mais cru. Estrondos mentais de satisfação e mistura de espasmos com formigueiros constantes pelo corpo acima é tudo o que a música genial deste sábio senhor nos fez sentir ao longo da hora, um pouco mais extendida, de concerto. Gritámos todos por Sam! O técnico de som fazia anos à meia noite, mas nada nos fora explicado. Em “Feel”, Ty Segall substitui-se ao baterista e em minutos fizeram um belo desvio auditivo. A taquicardia e o alimento proporcionados seriam suficientes para assegurar o concerto do festival, sem a menor sombra de dúvida.

fotos na galeria Vodafone Paredes de Coura 2017 Dia 19 Ty Segall

Era a vez dos tão aguardados Foals. O bom de ver uma banda crescer, para além de acompanharmos a maturidade, é, também, saber que o que distancia uma boa duma banda má é que, a banda má toca sempre os hits pelos quais ficou conhecida e a banda boa, junta a eles as músicas que só os que os viram nascer conhecem. Para além da química que rapidamente se cria entre Yannik e o público, a descontracção, a dança e a harmonia foram algo sentido durante este último concerto. What Went Down é o último trabalho de Foals e teve direito, exactamente, ao mesmo número de faixas que teve Antidotes. Juntaram-se uma série de descontrolos emotivos e simbióticos que acolhiam todas as mentes e corações num só elo de ligação e despertavam sentidos e sensibilidades. A excitação de “Mountain At My Gates”, contrapunha-se à nostalgia de “Olimpic Airways”, que se juntava à melancolia belissíma de “Spanish Sahara” em dicotomia com a euforia parva de “My Number” e a guitarra desconcertante de “Electric Bloom”. Tudo ali foi bom e cativante! E é verdade que, os Foals, têm cada vez mais certezas do caminho que querem seguir.

Regressaram para um encore com “What Went Down” e “Two Steps Twice”.

fotos na galeria Vodafone Paredes de Coura 2017 Dia 19 Foals

Posto isto, apagaram-se as luzes, viram-se fotos a passar nos ecrãs e uma voz a cantar os parabéns. A comemoração foi emotiva e bonita com direito a confetis, bolas gigantes e a “All My Friends” dos LCD Soundsystem como fundo.

O balanço deste 25º aniversário daquele que é um dos melhores festivais de Portugal foi na sua generalidade bastante positivo.

fotos na galeria Vodafone Paredes de Coura 2017 Dia 19 Ambiente Palco

A chuva falhou este ano, pela primeira vez em muito tempo, e fez a falta necessária para evitar a quantidade de pó que se incorporou em nós no último dia.

A quantidade cada vez maior de adolescentes que rumam a Paredes! Quantidade essa que tanto me encanta como desencanta. Desencanta-me ver a maneira descontrolada como vivem o festival e o facto de irem, simplesmente, sem saber para o que vão. Um festival de música não é apenas um momento bom que passamos com os amigos com uma banda sonora ao vivo. Um festival é um sitio de música e concertos onde podes estar com os teus amigos a desfrutar dos mesmos, onde a prioridade tem de ser sempre a música. E, para minha tristeza, creio que dentro de alguns anos este grande festival vai estar cheio de pessoas que nem um nome conhecem no cartaz.

Deveriam saber, igualmente, que o festival não pode alargar muito mais e a quantidade de pessoas que existe pode, igualmente, ir contra à essência que sempre encontrámos ali.

Paredes de Coura traz, sempre, aquilo a que chamo felicidade pura e o mundo para durante quatro dias. Que nunca perca a sua substância e alma!

Parabéns Vodafone Paredes de Coura e até para o ano.

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Texto – Eliana Berto
Fotografia – Jorge Buco | Hugo Lima (Vodafone Paredes de Coura)
Evento – Vodafone Paredes de Coura 2017
Promotor – Ritmos Lda.