2017 Concertos Festivais Reportagens Vodafone Paredes de Coura

Vodafone Paredes de Coura’17, Dia 18: Moon Duo, O limbo entre mundos de perdição

O fim aproximava-se e apenas restavam dois dias deste espaço físico e auditivo que tanto nos acarinha a alma.

O terceiro dia revelou-se o mais fraco do cartaz, embora tenha começado da melhor maneira.

A Music Session deste dia aconteceu em frente à Câmara Municipal de Paredes de Coura com os californianos Moon Duo. Tocaram três faixas em meia hora com um bordado adequado ao momento e ao local. O embarque começara aqui! A viagem seria interrompida para dentro de horas ser retomada naquele que se transformou no concerto da noite.

fotos na galeria Vodafone Paredes de Coura 2017 Dia 18 Moon Duo Music Session

Bruno Pernadas abriria o palco Vodafone junto dos seus 8 companheiros. A versatilidade e variedade de instrumentos revelava uma sobriedade e construção dignas de uma vénia até ao chão. A coordenação e ligação entre todos é incrível e os três sopros existentes tornaram tudo ainda mais especial. Jazz, space pop, folk e algum synth mostram a grande escola do compositor e tudo aquilo que é capaz de nos trazer em cima do palco. O ritmo é alegre e a harmonia constante e, o facto de o alinhamento ser curto composto de faixas longas, nunca se tornou monótono ou desinteressante. O concerto terminou com o aviso de Bruno: “Fiquem atentos! A tudo na vida.” e as grandiosas “Anywhere in Spacetime” e “Ahhhhh”.

fotos na galeria Vodafone Paredes de Coura 2017 Dia 18 Bruno Pernadas

No palco secundário, depois de Cave Story (que não tivemos oportunidade de ver), apresentava-se o, também versátil, canadiano Andy Shauf. Também ele com uma aposta em sopros, o que, em minha opinião, faz sempre a diferença, mantém a suavidade melódica que já trazíamos dentro de nós. Um registo ténue e sereno que mesclava o indie pop com o rock e nos mantinha o coração a bater ao ritmo certo ao mesmo tempo que nos embalava os ouvidos.

ANDY SHAUF _ FESTIVAL VODAFONE PAREDES DE COURA 2017 _ 3º dia _ 16 a 19 de Agosto _ © Hugo Lima | fb.me/hugolimaphotography | hugolima.com

Ainda no mesmo palco, aquele que viria a ser o concerto da noite. Falo de Moon Duo e do retorno à viagem iniciada à tarde. Os olhos foram cerrados aos primeiros acordes. Os riffs dão-nos o empurrão necessário, os sintetizadores o conforto e segurança para a viagem e a bateria a consistência e consciência de que, mesmo que nos percamos, nunca estaremos sós ou realmente perdidos. Na maioria das músicas, um click sempre presente representava algo como que o despertar de alguma consciência que desconhecemos. As semelhanças com Sleep confirmam a certeza de que este duo de três pessoas bebe nas melhores fontes e não está diante de nós a brincar, mas sim a sentir tudo, tal como nós. Paralelismos vários entre a luz e o breu, o bom e o mau, a consciência e a consciência trazem-nos a capacidade de sentir picadas dos nossos sentidos. “Sleepwalker” e “NoFun” dos Stooges criaram uma maior agitação no público. Terminamos o concerto mentalmente cansados porque a viagem tinha sido demasiado intensa e, ao mesmo tempo, com tristeza por ter durado tão pouco.

fotos na galeria Vodafone Paredes de Coura 2017 Dia 18 Moon Duo

No palco principal estavam os prodígios BadBadNotGood. O que nos traziam era a sede de viver e de provar ao mundo o quão bons são. Com uma humildade e cumplicidade gigantes, estes rapazes trouxeram um instrumental extremamente bem delineado e construído. Uma espécie de jazz distorcido e algo dançável compunha a sua essência. Proporcionam-nos um momento de descontracção e libertação de tensão. A interacção com o público e a presença em palco são algo que enche a alma e o público responde sempre na mesma moeda, existindo, por vezes, uma só alma ali presente. “Speaking Gently”, “Triangle” e “CS60” fizeram parte do alinhamento. No entanto, BadTimeBadPlaceGoodBand! Este concerto teria tudo para dar certo se fosse a outra hora, noutro sítio.

fotos na galeria Vodafone Paredes de Coura 2017 Dia 18 BadBadNotGood

Uma escolha, igualmente, menos feliz, revelava-se com Japandroids. Apesar da sua energia e do ritmo um pouco mais acelerado do qual precisávamos, não foi um concerto capaz de encher almas. Depois de terem passado pelo Primavera Sound, começaram o concerto de forma explosiva com uma voz rouca e riffs algo sujos. Apesar de o público ter iniciado o levantamento de pó e o deslizar por cima de cabeças, o estilo mais pop do que rock, não trouxe grande satisfação, tornando-se até algo ligeiramente entediante. A quantidade de “humm humm” e “Xa la la” foi um pouco abusiva. Mas o balanço geral não é assim tão negativo tendo em conta que sempre foi algo assumido pela banda, ainda que inconscientemente. Ouvimos músicas como “Wet Hair”, “Midnight to Morning”, “ The House That Heaven Built” e a nova “North East South West”.

fotos na galeria Vodafone Paredes de Coura 2017 Dia 18 Japandroids

Depois de um atraso de quase 40 min, por problemas técnicos, os Beach House vinham encerrar o palco principal. O concerto não se encurtou devido ao atraso e o embalo que nos deram foi a preparação para ir dormir. O manto escuro que os cobre e o facto de estarem já habitualmente submersos nele começa a fazer com que hajam dúvidas sobre a verdadeira intenção desta imagem. A voz grossa e penetrante de Victória entra, de forma subtil, no quadro mental dos possíveis sonhos que teremos a seguir. O dream pop que os caracteriza é deformado pelo manto negro que os acompanha, tornando-se quase incompatível. Sentimos algum conforto durante este concerto pela força emotiva que, apesar de tudo, lhes caracteriza as músicas. Mas, também sentimos, um excesso de agradecimentos e dizeres que não se sentiam muito puros. O alinhamento foi estrategicamente bem escolhido para o dia, contemplando faixas como “Walk In The Park”, “PPP”, “Master Of None”, “Wishes”, “Elegy To The Void”, entre muitas outras. Para além de servir para nos dar um bom caminho para o descanso, ainda nos fez levitar sobre o céu estrelado concentrando-nos no nosso eu enquanto indivíduos. Por momentos, aquele véu que encobre a sensualidade e deixa passar a lucidez caia e tudo o que ouvíamos afastava-se de quando em vez.

fotos na galeria Vodafone Paredes de Coura 2017 Dia 18 Beach House

O cansaço já pesava e o embalo pedia descanso. O dia seguinte requeria a energia suficiente para conseguir absorver as intensidades que nos esperavam.

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Texto – Eliana Berto
Fotografia – Jorge Buco | Hugo Lima (Vodafone Paredes de Coura)
Evento – Vodafone Paredes de Coura 2017
Promotor – Ritmos Lda.