2017 Concertos Festivais Reportagens Vodafone Paredes de Coura

Vodafone Paredes de Coura’17, Dia 17: At The Drive-In, Explosão de pura Adrenalina

Ao segundo dia de festival, tudo começava mais cedo e a lista de nomes para ver e ouvir crescia conforme o peito se enchia de ânsia feliz por estarmos ali.

A Music Session do dia surgia, à tarde, no meio do campismo com os Nothing.

Pelo recinto, a abrir o palco Vodafone FM, os jovens americanos Sunflower Bean surgiam com um rock muito mais sujo do que aquilo que se esperava. A presença em palco transparecia segurança e alguma timidez enquanto que o talento revelava que ainda há muito rock por descobrir. A mistura fazia-se com o indie, o alternativo e algum roll com ecos de post-punk. Os riffs tanto eram melódicos como esgalhados à séria e a voz de Julia contrastava com a sua tez delicada e suave. Uma excelente aposta para este início de dia.

SUNFLOWER BEAN _ FESTIVAL VODAFONE PAREDES DE COURA 2017 _ 2º dia _ 16 a 19 de Agosto _ © Hugo Lima | fb.me/hugolimaphotography | hugolima.com

No palco principal já nos esperava a harmonia dos You Can’t Win, Charlie Brown. Os seis rapazes têm a capacidade de, rapidamente, nos aconchegar em braços de boas energias. Marrow traz-nos mais ritmo e alegria. As danças suaves e felizes saem descontraidamente do corpo enquanto que a comunhão entre a panóplia de instrumentos que existe nos transforma em partículas leves e flutuantes. Começámos a arrepiar-nos com a “Above The Wall” e saboreamos o calor de “Mute”, “Joined By The Head” e “Pro Proscrastinator”, entre outras.

fotos na galeria Vodafone Paredes de Coura 2017 Dia 17 You Can’t Win, Charlie Brown

No palco secundário, sentia-se o cheiro a América do Norte ao longe. Os Nothing, rapidamente criaram diante de si algum levantamento de pó. Uma mistura de estilos faz com que sintamos cordas de Explosions In The Sky, resquícios de Radiohead e muito cheiro a anos 90. A rebeldia de Dominic é atenuada mas não encoberta e a empatia com o público denota-se. A sujidade é moderada pela melodia limpa e pela força dos graves. O concerto termina com Dominic a passear pelos braços das pessoas, já em êxtase.

fotos na galeria Vodafone Paredes de Coura 2017 Dia 17 Nothing

Uma corrida rápida ao palco Vodafone para receber Car Seat Headrest. Primeiro ouve-se a bateria e um a um os espaços ao redor dos instrumentos vão-se compondo. Com uma voz robusta a representar a banda, Will entrou rapidamente pelas nossas mentes. “Fill In The Blank” encheu, de imediato, o anfiteatro natural de um coro de vozes vindas do relvado. O resultado da construção musical revela a genialidade de Will e cria distorções que tanto têm de estranho como de harmoniosas. As faixas, a oscilar entre o rasgo e a calmaria, são extensas e elegantamente densas. Algo digno de mastigar, degustar e digerir calmamente. Pelo meio, “I don’t Mind” de James Brown e, antes do fim, a emoção de “Drunk Drivers/Killer Whales” com o público a acompanhar num abraço único e bonito de se sentir.

fotos na galeria Vodafone Paredes de Coura 2017 Dia 17 Car Seat Headrest

Timber Timbre mostravam-nos outro tipo de calor no palco ao lado. Falo de um calor menos quente e mais distante. A coerência e horizontalidade musical estava representada diante de nós. O aconchego vinha com o baixo, muito bem realçado. Na voz, a franqueza da tonalidade de Nick Cave e nos instrumentos, a tranquilidade lenta de quem sabe saborear cada sensação e tacto ao mais pequeno pormenor. Uma densidade negra e penetrante que se entranha e é capaz de nos criar uma espécie de inquietação serena. “Sincerelly, Future Polution”, “Hot Dreams” e “Western Questions” foram algumas faixas com que nos presentearam, tendo aumentado a intensidade sonora à medida que se aproximavam do fim do concerto.

fotos na galeria Vodafone Paredes de Coura 2017 Dia 17 Timber Timbre

Um menino prodígio esperava-nos no palco principal. King Krule tem a capacidade de fazer tremer o chão mal encosta os lábios ao microfone e começa a declamar a poesia de “Has This Hit?”. Voz audaz, densa, encorpada, intensa e viciante! Para conjugar, Archy junta a isto um conjunto de músicos extraordinariamente bons. A união de todos, cria uma atmosfera de desorientação mental que nos arrepia os sentidos. Jazz de fusão, ares de experimentalismo, darkwave e punk jazz confundem-nos ao mesmo tempo que nos sugam para dentro de algo estrondosamente grandioso. Quase a chegar ao fim, “Easy Easy” agita o público. Este concerto não era para todos os ouvidos e, ainda assim, foram muitos os que ficaram até ao final.

fotos na galeria Vodafone Paredes de Coura 2017 Dia 17 King Krule

Seguíamos para o melhor e mais aguardado concerto da noite. Esperávamos um regresso à adolescência, o que não sabíamos é que seria tão intenso! Os At The Drive-In provaram que nada foi perdido nem esquecido. Começam logo a rasgar tudo e todos com os riffs arranhados, agudos e totalmente potentes da “Arcarsenal”. A agitação no público inicia-se e só atinge o fim quando as luzes do palco se apagam. Os caminhos nostalgicos da revolta e libertação abrem-se diante de nós e o cavalgar da bateria acelera o coração. Os traços mais actuais de Rage Against The Machine misturam-se com os mais antigos de MC5 e tudo ao redor deixa de fazer sentido, passando a existir apenas aquele fervor em cima do palco e em cima de nós. A agressividade das cordas não se consegue dissociar da bateria e tudo é um todo irrequieto de adrenalina. Momentos, imagens, episódios e sentimentos escorrem pelos poros e sentimo-nos vivos! Cedric tinha o diabo no corpo e partilhou-o com o público. A intensidade brilhou mais forte com “One Armed Scissor”, “Pattern Against User”, “Enfilade” e “Napoleon Solo” sendo que “Governed By Contagions” fora, igualmente, bem recebida. Os At The Drive-In deixaram o palco com um bonito discurso de irmandade e deixaram-nos, a nós, com a inquietação de querer mais… o mais rápido possível!

fotos na galeria Vodafone Paredes de Coura 2017 Dia 17 At The Drive-In

Depois do heterónimo de Chet Faker fechar o palco principal, a curiosidade levou-nos ao After-Hours para conhecer os coreanos Jambinai. De rompante, fomos inundados por uma profunda sensação de tranquilidade. O post rock destes senhores, delineado por instrumentos tipicamente coreanos como o geomungo, o haegeum e o piri, levou-nos a passear por cima das árvores que circundam o recinto numa viagem deliciosa. Arriscaria dizer que foi a surpresa deste segundo dia de festival, fechando a noite com chave de ouro.

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Texto – Eliana Berto
Fotografia – Jorge Buco | Hugo Lima (Vodafone Paredes de Coura)
Evento – Vodafone Paredes de Coura 2017
Promotor – Ritmos Lda.