2016 Festivais Misty Fest Reportagens

Cass Mccombs, O anfitrião por excelência

Anfitrião, acto de generosidade sem concessão. Do gesto simples de oferecer um copo de água, à mesa alongada no jardim de uma tarde distendida de Domingo, a vontade em partilhar. Poderia ser texto introdutório para publicidade ao Mateus Rosé, mas facilmente se associa a músico estrangeiro com legião de admiradores mais ou menos considerável em Portugal. Cass Mccombs é um deles. Com uma longa e regular produção discográfica, o autor californiano, já por cá tocou, em Lisboa, umas quantas vezes nos últimos tempos – ZDB, Teatro Maria Matos e no Optimus Alive. Desta forma, quem o visita já sabe ao que vai – canções extremamente bem construídas, letras bem esgalhadas, melodias simples na aparência que ao vivo ganham dimensão invulgar, uma execução técnica irrepreensível e sobretudo, uma transição entre estilos feita sem sobressaltos, nem atabalhoações de última hora. Folk, rock, rock psicadélico, alt country tudo é cozinhado com sabedoria, e com tempero a preceito. Despojado. A música como valor seguro.

20161003 - Cass McCombs - Misty Fest 2016 @ Cinema São Jorge

Opposite House, tema do seu mais recente álbum Mangy Love, editado pela -Anti e com que abriu o concerto no Cinema São Jorge, no âmbito do Misty Fest, poderia bem servir de metáfora para o que seria uma casa oposta. Uma qualidade sonora sofrível que não só prejudicou Cass como os restantes elementos da banda e sobretudo os convidados que os acompanharam, Helena Espvall no violoncelo e Pedro Sousa no saxofone. Se durante os temas – Medusa’s Outhouse, Brighter!, Buried Alive e Dreams-Come-True-Girl que contaram com a participação de Helena Espvall as cordas do violoncelo e as tonalidades que esta tentava conferir eram praticamente imperceptíveis, ou chegavam como uma mensagem em código Morse, tal os cortes que sofria; com Pedro Sousa, no tema The Burning Of The Temple, 2012, torna-se esforço inglório ver tanta determinação para tão pouco proveito, sabendo antecipadamente da energia que o saxofonista da Parede emprega em cada uma das suas actuações, tanto a solo, nos diferentes projectos que abraça ou acompanhando outras bandas, como se deu aquando do concerto de Marching Church, no passado mês de Fevereiro na Zdb.

20161003 - Cass McCombs - Misty Fest 2016 @ Cinema São Jorge

Mas, mesmo numa casa com chuva lá dentro, e voltando novamente ao tema de abertura, e com uma mudança de amplificador do Cass pelo meio, não há nada a que o quarteto americano e o público entusiasta não faça para tornar a sala mais acolhedora. Sem necessidade de grande diálogo entre palco e plateia, somente o desfiar de temas mais ou menos conhecidos, alterados de quando em vez para solos de bateria, baixo e sintetizador. O tempo torna-se longo, sem pressas, como acumulando todo uma tradição muito americano de amarrar grandes letras em grandes canções, e não foi preciso nobel a Dylan para nos lembrar. Poderíamos fazer como o teclista, deixar sapatos para o lado, atrasarmo-nos para o encore que tudo não só seria bem entendido, como seria motivo para surpresa e improvisação para tema de abertura de série bem conhecida, quando as televisões só tinham dois canais e terminavam com o hino nacional, Hill Street Blues. As duas horas passam languidamente, County Line fica para penúltimo tema porque Cass não é homem de uma canção só e não precisa de outros subterfúgios que não seja uma boa história e poder contá-la. E que melhor que um bom anfitrião com uma boa história para nos contar?

20161003 - Cass McCombs - Misty Fest 2016 @ Cinema São Jorge

fotos na galeria Misty Fest’16 Dia 3 Novembro Cass McCombs

Toda a informação sobre o Misty Fest 2016 está disponível no nosso website em Reportagens > Festivais > Misty Fest > 2016.

Os artigos e fotografias de cada dia estão disponíveis em:

Misty Fest’16, A Ilha deliciosamente utópica de Piers Faccini
Cass Mccombs, O anfitrião por excelência
Wim Mertens, Pedaços minimalistas
Peter Broderick ou o mago do piano?
Ternura na voz e Pop nas teclas, Scott Matthew e Rodrigo Leão
+ Andrew Bird, O canto elegante do violino

+info em http://www.misty-fest.com/ | https://www.facebook.com/MistyFest/

Texto – João Castro
Fotografia – Luis Sousa
Evento – Misty Fest 2016
Promotor – UGURU