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Um Tufão chamado The Kills

E (finalmente) chegou a dupla perfeita do indie-rock anglo americano às Portas de Santo Antão, os The Kills subiram ao palco do Coliseu dos Recreios e arrasaram tudo o que estava à sua volta!

Para “entrada” serviram-nos duas miúdas londrinas cheias de energia e acordes rockeiros por todo o lado! Georgia fizeram a primeira parte dos estrondosos The Kills, e certamente ficarão eternamente gratas à Domino Records (editora discográfica) por terem tido um público à altura da sua actuação. Elas deram tudo! Uma bateria na voz, acompanhada pelas teclas um pouco mais tímidas mas não menos presentes. Um prato na parte superior da bateria, onde Geórgia dava um ligeiro saltinho para lhe bater com determinação. Ar angelical com uma garra de braços enérgica o suficiente para fazer toda a gente se mexer e aplaudir com gosto! Felizes por terem a sala quase cheia e pelo público retribuir essa felicidade.

Passavam quase 15 minutos das 22h00, com as luzes já apagadas o ecrã gigante projecta imagens de vegetação a preto e branco que dançam na luminosidade da sonografia perfeita que acompanha a energia de Alison MosshartJamie Hince. Treze anos passados depois do primeiro álbum de originais, e a sinergia entre estas duas personagens é já visceral (já mais que distanciados das comparações com os The White Stripes!) Uma americana e um inglês na apoteose das suas capacidades artísticas. Logo a partir com um dos singles do último álbum, “ Heart of a Dog” (2016), seguido de “U.R.A.Fever” (2008) no dueto de vozes a soltar o sorriso das guitarradas de Jamie.

Depois do aclamado “Blood Pressure”, valeu a espera de 5 anos pelo mais recente álbum Ash and Ice, considerado por muitos dos melhores álbuns de 2016 e bem representado esta noite. Sem no entanto desvirtuarem todo o seu trabalho discográfico, percorreram todos eles, ”Keep on Your Mean Side” (2003), “No Wow” (2005), “Midnight Boom” (2008) e “Blood Pressures” (2011)!

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Sem tempo ou pachorra para conversas, as veias inchavam no êxtase da adrenalina, em “Impossible Traks”, “ (fair well my..) ”Black Ballons” ou “Doing it to Death” que fez ainda agitar mais o público.

Quase que não conseguimos imaginar uma Alison sem um Jamie, nem um Jamie sem uma Alison! Ela morre e ele ressuscita-a, ele aponta-lhe a arma (guitarra) ela assanha-se e solta um miar de pantera. Uma raiz negra nos cabelos soltos loiros, umas calças de pele numas pernas demasiado finas. Um pescoço irrequieto, umas cordas agitadas num torcer de vocalidades extremadas. Sonoridade característica das guitarras de Jamie, únicas, inimitáveis, que irão perdurar uma geração, a nossa!

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Uma atrás da outra sem pausas para estalar os dedos, ou tirar a camisola. Todas em catadupa, como bolas certeiras num jogo de bowling.

Depois de expurgar a fera, Alison regressa sozinha já no encore num perfil angélico, abraçando a guitarra nos braços, suavemente, com a precisão da voz doce e determinada. A nuvem turbulenta onde esteve a última hora e meia ficou suspensa naquele tema, “That love”. Mais 3 temas e um abraço, primeiro os dois e depois com o resto da banda (um pouco apagada, tal a intensidade desta dupla!)

O chão a colar aos pés, a humidade quente do suor, o barulho dos calcanhares no chão de madeira, o cheiro a erva. Depois do Dia dos Mortos, o Coliseu ressuscitou com o tufão The Kills!

Texto – Carla Sancho
Fotografia – Nuno Cruz
Promotor – Everything Is New