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Belém Art Fest’16, a chuva deu tréguas ao primeiro dia

O Belém Art Fest é um acontecimento único na cidade de Lisboa. O lema “Vive a Cultura Portuguesa” assenta-lhe na perfeição, e está bem vincado na programação proposta pela organização. Tendo como “sede” alguns dos expoentes máximos da nossa cultura, por um lado mais recente na forma do Centro Cultural de Belém, e em pormenor, no Museu Berardo, por outro, do tempo manuelino, o Mosteiro dos Jerónimos e os seus jardins a caminho do Rio Tejo.

Apresenta-se sobre diversas formas, do mercado e à gastronomia tão tradicional portuguesa, aos workshops que podem ser de Yoga, ou das artes Graffiti e Fotografia,  pasme-se, à ciência também, ou ainda pela natural visita a um dos monumentos maiores da história da cidade de Lisboa e de Portugal, no caso o Mosteiros dos Jerónimos. Tudo isto se pode receber, diga-se, a muito baixo custo, para 2 dias em que como bónus há ainda um rol de concertos dos mais diversos estilos de música, e é nesta vertente que nos vamos mais dedicar.

O programa de festas para a música no dia de ontem, o primeiro dia deste completo festival, organizava-se em 4 palcos, nos tons mais tecno e dançáveis nos jardins de belém, e nos restantes entre 3 palcos no Museu Berardo, Museu de Arqueologia e Claustros do Mosteiro dos Jerónimos. Numa noite que se previa à vários dias de muita chuva, esta deu tréguas durante algumas horas, e o pior que se temia pela organização acabou por não acontecer, não houve chuva apesar da precaução tomada em instalar o palco dos Claustros em local abrigado.

O nosso dia começou com o concerto de Captain Boy no Museu Berardo, Pedro Ribeiro y sus muchachos, nossos conhecidos de outras andanças mais recentes, e melhor não poderíamos começar. Poderíamos arriscar dizendo já que terá sido um dos concertos da noite, mas ainda havia muita música por ver e ouvir. Captain Boy é um daqueles projetos de forte influência autoral, que nos encanta pela diferença, criatividade, atitude, e carisma. O Pedro e os seus amigos têm tudo isso, e foi visível na reacção da ainda pequena audiência que presenciava este concerto no Museu Berardo. A trabalhar no seu primeiro album, alguns dos temas mais conhecidos como “Sad Blues” ou “Tango”, apresentado recentemente, marcaram presença neste concerto.

Seguimos depois para o Museu de Arqueologia, onde iríamos encontrar os Barbante, um banda rock de Lisboa, onde o português é a língua cantada, facto que nos agrada pela tendência mais recente de todos os projetos seguirem a mesma linhagem do inglês como idioma principal para os seus temas. O cenário já mais composto ajudou a motivar os Barbante a encher verdadeiramente esta sala.

Neste vai e vem entre palcos – agradecemos as tréguas da chuva – voltávamos ao Museu Berardo para o concerto de The Happy Mess, formação liderada por Miguel Ribeiro, comunicador nato e conhecido rosto da imprensa na televisão portuguesa, para o que considerámos um dos destaques da noite. Depois do sucesso que foi em 2013 o lançamento de “Songs From the Backyard”, o primeiro longa duração depois do EP “October Sessions” em 2012, este ano parece ser de consolidação de vários temas novos como “Heaven” em que a veia mais Indie que influencia esta formação parece estar à vista. Não nos parece que o público vá atrás de ver uma figura conhecida a liderar uma banda, mas sim pelo som que apresenta, e quanto a nós, cada vez mais maduro. Indiscutivelmente um dos momentos da noite.

Estamos definitivamente destinados a palcos mais pequenos, mas era hora de “viajarmos” até ao Soul do calor africano de Sara Tavares que se concentrava nos Claustros do Mosteiro dos Jerónimos. Não sendo o “local ideal para música amplificada” como foi frisado pela artista, era no entanto o local onde estava a maioria do público desta noite. Sara Tavares habituou-nos ao longo dos anos a participar e colaborar com outros projetos como por exemplo com Carlão no lançamento de “Quarenta”, mas é a solo que em palco se parece soltar e mostrar a todos as suas raízes que contagia com alegria a quem a vê. Um bom momento deste Belém Art Fest.

O último concerto da noite estava agendado para o Museu de Arqueologia, e pelas mãos de quem tem muitos anos de música em Portugal. Balla, projeto liderado pelo sempre criativo Armando Teixeira, tinha a árdua tarefa de iniciar um concerto com a sala praticamente vazia a contas com o concerto de Sara Tavares que ainda terminava. A par desta já difícil tarefa, alguns problemas com o retorno do som nos teclados fizeram também atrasar o concerto, facto que jogou a favor quando se resolveu no momento em que o público voltava dos claustros. Sala mais composta, começava o concerto, e novo percalço acontecia. Uma das guitarras teimava em não juntar-se à banda, facto resolvido tranquilamente e quase despercebido não fossem os Balla já muito rodados nestas andanças. Do público ouvia-se “Força Balla!!!” de uma voz bem conhecida do panorama musical português, no caso Rui Reininho. Ficava mais uma história para contar um dia aos netos, e o concerto prosseguia. Na linhagem que marca a banda desde 2000, os Balla aproveitaram o momento para apresentar “Arqueologia” – nome apropriado para o local – último trabalho da banda editado em 2015. Temas como “Mentir Melhor”, “submundo” ou “Contra a parede” foram temas que animaram a noite e puseram todos a dançar.

O Belém Art Fest prossegue hoje para o segundo e último dia de festival, e a marcar a noite vão estar os Cave Story, Gospel Collective, Salvador Sobral, Tim, D’Alva, Thunder&Co e Mirror People. Do nosso lado, pedimos novas tréguas à chuva mas parece que não vamos ter tal sorte.

+info em http://belem-art-fest.pt/ | https://www.facebook.com/belemartfest/

Texto – Carla Santos
Fotografia – Luis Sousa