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Bed Legs, uma sova de rock’n’roll à antiga

A semana não fica completa se não passarmos pelo Sabotage Rock Club para saciar o vício de boa música. Assim, no sábado, foi dia de rock’n’roll e as honras recaiam sobre os Bed Legs, que convidaram os Crude para fazer a primeira parte.

Os Crude são 3 rapazes divididos entre Lisboa e Viseu. São amigos e têm em comum o gosto pelos sons mais pesados, densos e trabalhados.

Como quem anda à procura de petróleo, de chapéu na cabeça e um ar descontraído, entram em palco e começam a brincar com as cordas. Caracterizam-se basicamente por uma sonoridade stoner rock com toques de rock progressivo e fazem um trabalho digno de mestres. Em cerca de 35 minutos tocaram 4 faixas carregadas de corpo e mente. São excelentes músicos e conseguem fazer construções musicais fortes e potentes. No entanto, há algo que fica a pairar no ar e que falta. Um elemento chave que os faça destacar dos outros todos iguais a eles. Talvez com esse elemento pudessem conseguir uma autenticidade diversa e, talvez o elemento até pudesse ser uma voz.

De realçar o trabalho da guitarra de Edgar que se sobressaiu com caminhos sonoros gritantes e explosivos. Não diminuindo o baixo e a bateria que são, claramente, tocados por pessoas sábias.

Com o primeiro álbum em punho – Black Bottle – os Bed Legs fizeram história. Uma história que só pode ser bonita e gratificante. Estes rapazes do norte trazem uma lufada de rock’n’roll que há muito se espera em terras lusas.

Carismáticos, encantadores e cheios de rock no corpo, trouxeram uma noite onde se pôde esquecer tudo e até desejar que o tempo parasse ali, naquela sala do Cais do Sodré. A energia era algo contagiante e Fernando estava imparável. À nossa frente passaram diversos frontman’s de bandas como Jim Morrison, Iggy Pop, Jimi Hendrix e até Bowie. Aquele rapaz encarna várias personagens e tanto se pode ver deitado no chão, encostado a uma coluna, aos saltos, no meio do público, a rasgar as calças ou até no balcão do bar, enquanto os seus companheiros tocam.

A música deles, puro rock’n’roll com um delineado cru e bem construído embalsamado num vitral de blues e soul, suga-nos com uma intensidade surpreendente para dentro daquela bolha luminosa que paira no palco. A voz rouca, grave e cheia de garra consegue mexer com todas as extensões nervosas que temos no corpo e a guitarra traz camadas de rock vindas dos antecedentes anciãos da música. O baixo, intenso e bem conjugado com a rouquidão da voz é imprescindível e cheio de maturidade. A bateria por sua vez, faz o elo de ligação de todos os elementos, conseguindo criar o ritmo ideal e pedido a este estilo de música.

Trouxeram um convidado para as teclas, Leandro, que ia subindo ao palco sempre que assim se exigia. Tocaram o álbum na íntegra e mais duas faixas do EP – “You Girl” e “Rock’n’Roll”, terminando sem folego. Eles e nós.

Ficou o desassossego criado por uma noite de rock’n’roll à séria e o alerta para a grandeza dos Bed Legs.

 

Texto – Eliana Berto
Fotografia – Luis Sousa