Concertos Reportagens

Few Fingers, As mãos que ardem lentamente

A Casa Independente, abraçou na passada sexta-feira uma noite dedicada á música leiriense. Tratava-se da apresentação do novo álbum de Few Fingers Burning Hands – e, para ajudar, tiveram Surma a abrir a noite.

Surma, uma jovem leiriense franzina e delicada, foi a grande surpresa da noite. Em jeito de one-woman-band, Débora apresenta-se de forma multifacetada. À sua volta tem a guitarra, o baixo, dois microfones, as teclas, os sintetizadores e os pedais de distorção. Vai usando tudo passo a passo, com uma excelente sincronização e coordenação. A loop station é a sua melhor amiga e com ela consegue fazer e construir música em camadas sobrepostas criando algo apetecível.

A sua voz, cristalina e demasiado intimidante, transformada pelos microfones usados, ecoa pela sala e pela mente de todos. A música dela, experimental acima de tudo, consegue guiar-nos numa viagem por entre mundos encantados e quase celestiais. Há traços de noise e de ambiente, juntos em ondas magnéticas de onde eclodem paisagens carregadas de boas energias.

Descalça, trouxe-nos cerca de meia hora de divagações saborosas onde se ouviram, entre outras, “How Am I”, “Lo Fi” e a “Maasai”.

A atmosfera elegante criada pela música serena pairava e os Few Fingers aproveitaram o registo para manter a luz ténue e apresentar o seu primeiro trabalho – Burning Hands –, lançado em Outubro de 2015.

O rock deles é simples e capaz de trazer uma sensação de calmaria ao universo, o formato acústico também ajuda e, ao longo de uma hora, o conforto auditivo espalhou-se pela sala da Casa Independente.

Caminham entre o folk e o indie cobertos por uma camada subtil de pop, trazendo calor aos ouvidos presentes. A verdade é que não se escuta algo novo ou diferente do que já existe mas, ainda assim, o ambiente aquece e os corações abrem-se. A existência de uma Zither faz um bordado elaborado e ajuda à serenidade.

Tal como a música que tocam, são tímidos e pouco foi o contacto de maior intensidade que houve com o público. Por entre a plateia vêm-se lábios a acompanhar as letras, que ao mesmo tempo que cantam também esboçam sorrisos de satisfação. No entanto, o ruído de fundo foi desrespeitador e criou a ideia de que há algum público espectador que tem falta de contacto com os ventos da boa educação.

Ao longo de uma hora apresentaram o álbum quase completo, tocando ainda uma versão da “Tiger Mountain Peasant Song” dos Fleet Foxes, sendo importante realçar a última música a ser tocada “Damn You (The Piano Song)” música com duas partes e com uma carga explosiva simbólica que acelerou o ritmo cardíaco de todos.

Completou-se assim uma noite leiriense em Lisboa forrada de ondas auditivas calmantes e bem dispostas.

Texto – Eliana Berto
Fotografia – Daniel Jesus