Concertos Reportagens

Unknown Mortal Orchestra, The World is Crowded

Final de uma semana solarenga, do Verão do S. Martinho que chegou antes e quis ainda ficar após o seu dia. Sexta–feira 13 dos presságios das sortes ou dos azares, num Armazém F translúcido no brilho e no público.

Entre a linha férrea e a serenidade do Tejo, os Youthless mostram as cabeleiras (loira e morena) por debaixo dos Cap´s e dos rostos pintados de preto e branco. Divertidos e a comunicarem com o público, agitam os sub 25 que se concentrava na frente do palco.

Entre rasgos mais agressivos das teclas, junta-se a voz multifacetada do vocalista/baterista (o nova iorquino Alex Kimovitskey) e a harmonia do baixo (londrino Sebastião Ferranti). O trio apresentou alguns temas do seu primeiro álbum “This Gloriuous No Age”, a ser editado no próximo ano. Temas que nos fizeram ritmar o pé acompanhando o gingar de ombros, nos ritmos a fazer lembrar Ozzy Osbourne pela voz e, num regresso ao presente os Tame Impala, pelo psicadelismo. O baterista/vocalista troca com o teclista e salta para o meio do público, provocando a dança agitada de um mosh!

Acima do palco três letras em dourado num fundo preto – “umo”! A banda de Ruban Neilson (guitarra e voz), Jake Portrait (baixo), Riley Geone (bateria) e Quincy Mcrary sobe ao palco às miraculosas 22h. A banda norte-americana (de Oregon) editou o seu terceiro álbum de originais “Multi-love” em Maio deste ano, e abre o concerto de Lisboa com uma chuva ácida (“Like Acid Rain”). Ao segundo tema, o público que esgotou a sala do Armazém F no Cais Sodré, já estava rendido à guitarra de Nielson e ao seu trocar de pernas! A diversidade no estilo dos músicos, bem como nos registos que se encontram num único tema, fazem com que Unknown Mortal Orchestra seja actualmente uma das bandas que mais discos têm vendido e engrossado o número de fãs por todo o mundo. Um funk alucinogénio, um R&B com um freejazz disfarçado de Lo-fi music, desafiando as letras inspiradas nos pequenotes do músico e compositor Nielson. Tudo junto faz com que os concertos de umo sejam um momento de vibração harmoniosa colossal!

Percorrendo os três álbuns da banda, “Unknown Mortal Orquestra” (2011), “II” (2013) e “Multi-love” (2015), arrastam o público numa ovação quase homogénea que, praticamente, não deixa intervalo entre músicas. Em “Stage or Screen”, Ruban Nielson pousa a guitarra no chão e, a cantar, sobe as escadas, debruça-se no varandim do 1º andar do Armazém F, e o público rodeia-o em êxtase. De volta ao palco, pega na guitarra e solta os primeiros acordes de “fFunny fFriends”, num final lindíssimo em que o público acompanha as acordes das teclas no refrão e assim fica mais um minuto em uníssono a fechar a música.

“Multi-love” faz a ligação para o (único) encore da noite e deixa a sala a dançar, numa espécie de colagem de ombros no público (a sala estava à pinha). Mais dois temas e muito improviso (qual R&B em freejazz), das teclas que levam a guitarra e a bateria que puxa o baixo.

Uma noite que poderia ter sido perfeita…

 

Texto – Carla Sancho
Fotografia – Luis Sousa
Promotor – Everything is New