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PISTA e a sua pista de dança

É inevitável associar esta sexta-feira com os acontecimentos decorridos em Paris, ainda para mais quando nós estávamos prestes a entrar no Musicbox com o mesmo propósito que tantos outros entraram no Bataclan. Ver um concerto. Uma acção tão simples, que proporciona felicidade e que terminou de maneira trágica, como nós sabemos.

Mas ao entrar dentro do espaço situado na Rua Cor de Rosa, o propósito é outro, e graças aos PISTA, conseguimos escapar do sucedido. Afinal de contas, estávamos prestes a ver um nascimento de um filho sem ser na maternidade Alfredo da Costa. Nove meses depois, Cláudio Fernandes, Bruno Afonso e Ernesto Vitali apresentaram o Bamboleio, que ganhou vida nesse dia, em forma física e digital. Por isso, nada como mostrar ao público e com uma panóplia de convidados, qual família alargada. Muitas palavras e adjectivos já foram dados a este álbum, um dos melhores deste ano. Da Margem Sul, com amor.

Esta bonita instituição do pedalcore nacional abriu hostilidades com o efervescente Ar de Inverno, que seria o mote para Jibóia entrar em palco para tocar o Bamboleio, tema que dá nome ao álbum, como já mencionado. Se tivéssemos de estar aqui a referir a lista de convidados que foram entrando e saindo, e dizer quais as músicas que participaram, para além de exaustivo tornaria este texto monótono. Mas ainda assim, temos de referir vários nomes (perdoem-me se esqueci de alguém). Alex D’Alva Teixeira. Já o conhecemos dos D’Alva e da sua energia contagiante. Em abono da verdade, os Pista não são propriamente conhecidos pelas suas letras. Ainda assim, há algumas coisas que sabemos, como o Sal Mão, que contou também já com a presença de Benjamim, que fez o papel importante de produtor, como os Pista já referiram em entrevista ao Música em DX. Aqui já começou a verter as primeiras gotas de suor.

Mais que energia, felicidade é o nome que carrega os Pista. É impossível alguém estar deprimido a ouvir Ivone ou a A Tal Tropical. Quanto muito, cansado. Mas também o fim-de-semana estava à porta. Recuperamos no sábado. O álbum é novo, mas ainda há material ainda mais novo e que não foi a tempo de entrar no novo álbum. Caso de Campipraia, que segue a mesma toada do álbum, e dos Pista em geral. Mas para além de falar em temas futuros, há que falar de coisas que ficaram no passado, como o Pista, do EP. Raízes que foram desenterradas e mostradas ao público, para ver e ouvir e dançar. “Vamos tocar aqui uma música nova, o Odisseia…”, disse Claúdio num tom jocoso. Até pensámos: “Ok, deve ser”. Quando surgem os primeiros acordes de Puxa, percebemos. Fomos trollados, mas segue. Com tanto pulo, com tanta energia, não seria de espantar se o Musicbox tivesse deslocado um centímetro para algum lado.

Depois um dos momentos da noite, pelo menos no que toca a convidados. “Insatisfeitos” com o que estava a acontecer, os Bro-X, vindos directamente da Baixa da Banheira, invadiram o palco. Desta vez não nos mostraram a Poesia da Retrete, mas sim o Bum Bomba. Ainda assim, fomos presenteados mais uma vez com a mais profunda poesia romântica que se produz em Portugal.

Numa tentativa de restaurar a normalidade, os ritmos frenéticos voltaram com Primeira. Por estarmos na recta final, o melhor foi guardado para o fim. Com todos os elementos em palco, o que faz a bonita quantia de 6 guitarras, 2 baterias, 4 vozes, um sintetizador e um baixo, Queráute foi hino durante 10 mintos. Melhor era impossível, por isso foi com naturalidade que se viu os abraços sentidos.

No regresso para o encore, perguntaram qual é que deviam repetir, já que tinham chegado ao final do reportório. Para minha infelicidade não foi o Queráute, mas não podia ficar triste com o Puxa que terminou com chave de ouro uma noite que por mais triste que fosse, dentro do Musicbox foi de festa. Dancemos ao som de Pista então.

Texto – Carlos Sousa Vieira
Fotografia – Nuno Cruz