Concertos Reportagens

Goat, Rituais e invocação de espíritos para um mundo novo

Os misteriosos Goat, aterraram na passada sexta-feira em Portugal para duas noites que prometiam ser muito mais que inesquecíveis e, precisamente na data em que lançaram o seu quinto álbum, Medicine. Sexta-feira actuaram na cidade do Porto, no Hard Club, e sábado desceram até Lisboa para tocar no Lisboa Ao Vivo.

Os Goat pautaram-se, desde os seus primórdios ali no início dos anos 10, pelo secretismo da sua formação, conhecendo-se, supostamente apenas o nome de Christian Johansson. São boatos alimentados a conta gotas que “informam” da ligação dos Goat a outras bandas suecas como os Hills, outros que tais também bastante esquivos quanto a informações sobre si próprios e/ou entrevistas. Sobre os Goat… denominam-se uma banda com uma fusão de influências radicadas no Afro-beat, no Heavy Metal ou o Funk da Anatólia e sim, consegue-se ouvir tudo isto por detrás daquelas lindíssimas máscaras que usam em palco. Uma das histórias da banda afirma que os Goat são apenas uma das muitas reencarnações de um pequeno grupo de adoradores de Vudu, da pequena cidade Korpilombolo. O que se pensarmos bem faz mesmo todo o sentido, porque eu a meio do concerto fechava os olhos e facilmente me imaginava no meio da floresta.

Medicine (Rocket Recordings) teve direito a uma festa de lançamento na Chasing Rabbits Record Store, abençoada pela Rocket Recordings editora de sempre dos Goat, ao final da tarde de sexta feira e ainda bem, porque assim ouvimos as músicas novas de fio a pavio. É que, apesar da coincidência de datas, não iríamos provar ainda estas novas músicas ao vivo e a cores. Mesmo que Medicine não adicione nada de novo em relação aos Goat, parecendo ser apenas uma continuação do que tem vindo a fazer, é um álbum fantástico que trará decerto momentos memoráveis a quem tiver a sorte de os apanhar na próxima tour.

Tal como tem vindo a ser habitual, na maioria dos concertos no Lisboa Ao Vivo, os GOAT entraram em palco às 22 horas, hora prevista para o início da actuação após actualização dos horários, para serem recebidos por uma multidão que os ovacionou fortemente e se entregou desde o primeiro minuto ao contágio das músicas escolhidas para o set desta noite. Muito espírito desceu à terra nessa noite para ver o que por ali se passava.

A abrir a noite, tivemos Soon You Die (Oh Death,2022) e Goatfuzz (Requiem, 2016), com os seus fortíssimos riffs a impelirem a multidão a comprimir-se o mais possível para junto do palco e a enveredar por um inevitável, ainda que suave headbanging. Não obstante o visível entusiasmo, foi o extremamente dançável Under No Nation (Oh Death, 2022) que impeliu a sala quase toda dançar antes de darmos um mergulho com quase dez anos em Gathering of the Ancient Tribes (Commune, 2014), para logo de seguida sermos levados com Fill my Mouth e It’s Time For Fun a revisitar Headsoup (2021), sendo o momento eximiamente completado por Blown The Horns (Oh Death, 2022). Toda a harmonia de sons nos Goat é sólida, desde a percussão às guitarras tudo emana uma densidade quase sufocante apenas cortada amiúde pela flauta, mas de resto tudo é uma barreira sonora densa que nos abraça, aquece e envolve do principio ao fim e se torna una com todos os movimentos em palco, todos eles evocativos de danças e rituais no meio de florestas e praias desertas.

Aquele momento ficou completo, porque iríamos agora dar o verdadeiro mergulho no passado; Disco Fever, Goatman e Golden Dawn de World Music já do longínquo ano de 2012, ano extremamente profícuo na zona onde os Goat se movem musicalmente e que os deu a conhecer à maioria do público através do orelhudíssimo Run to Your Mamma.

Let It Burn (Headsoup, 2021), outra daquelas orelhudas, possuidora de riffs tremendos parecia ser o fim, e isto de concertos sem encore, é triste. Foi o que senti quando saíram de palco. Tristeza, porque ultimamente os encores tem escasseado e nós que dançámos e saltámos quase tudo merecíamos mais música. Não demorou mais que um par de minutos de gritos e assobios para que entrassem de novo me palco e se atirassem a Do The Dance (Oh Death,2022) e Union Of Mind and Soul (Headsoup,2021) com toda a garra possível de imaginar debaixo daquelas máscaras.

E foi mesmo com a música que os meteu a rodar, Run to Your Mama, que terminam a noite e se assim não tivesse sido não teria sido tão perfeito.

Para mim apenas mais se tivesse sido no meio da natureza, junto ao rio, e alguns de vós sabem exactamente onde e tal como eu também o terão sentido, aquele apelo mágico e tribal que a música dos Goat carrega em si transporta-nos a sítios muito especiais. Voltem rápido que queremos ouvir as músicas de Medicine ao vivo.