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Barry White Gone Wrong, A noite em que o rock nos salvou a alma!

Com toda a privação que se tem vindo a sentir ao longo de largos meses de retrocessos e falsas esperanças, o luxo de poder ver e sentir um concerto torna-se cada vez mais forte.
No sábado passado, dia
26 de Junho, o Teatro da Malaposta abriu-nos a porta em modo luxuoso para nos oferecer aquela energia que só quem sente percebe.

Olhando para trás facilmente consigo afirmar com alguma certeza e destreza que o rock’n’roll me salvou a vida e a alma por diversas e variadas vezes. “Barry White Saved My Life” é um prenúncio de que, nesta noite, as coisas não iriam ser diferentes e que, apesar de estarmos rodeados de um desânimo baço, não só a banda, como o rock’n’roll cumpririam o ensejo que palpitava no peito.

Depois da introdução forte em promessas, Barry White Gone Wrong dão corpo a “She Loves A Singer” que nos em modo de arrepio quente por todo o corpo e nos enternece o coração com um poema belíssimo, suave e sensual acompanhado à luz das cordas. Seguindo a magia mas num desvio com cheiro a Cohen em modo exótico, rapidamente nos ajoelhamos aos pés destes cinco artistas. A voz arrebatadora de Peter misturou-se, pela primeira, com a voz limpa e astuta de Miguel que assume várias tonalidades e formas ao longo da noite, contribuindo para o polimento do diamante que acabaria por explodir perto do fim do concerto, deixando um rastro de dinamite.
Rock, blues e soul abraçam-se entre si num encanto glamoroso que tanto tem de calmante como de explosivo, conseguindo, através das cordas, remeter-nos para o faroeste alaranjado onde um “Tornado” atravessa com alguma densidade. Um rock mais assanhado com rendilhados a remeter aos anos 70 e 80 provou que Barry White Gone Wrong é uma verdadeira caixinha de surpresas composta de excelentes músicos e compositores. “Break Into Your Heart” trouxe o aconchego algo mais sombrio do Rei Iggy Pop em formato voz rouca, corpulenta e viciante. Peter não tem só uma boa voz! Peter carrega presença, envolvência e todas as qualidades que um frontman precisa para sabermos que estamos no sítio certo perante a banda certa. 

“The Less You” e “Deep House” são filhas do confinamento e de estados de espírito dispersos e heterogéneos resultando num bom aperitivo para o que virá a seguir em estúdio. A partir daqui, a subida tornou-se íngreme e o ritmo contagiante, acelerado e cheio de explosões apoderou-se de nós levando-nos a um êxtase mental ofuscante que culminou na intensa e bela balada, que dá nome ao último disco, “Done”, deixando-nos completamente sem chão, perdidos de nós e de tudo o que nos rodeava. 

Foram 18 músicas em quase 1h30 de concerto. Poderíamos ter dançado, poderíamos ter mostrado os sorrisos que tínhamos rosto mas, ao invés, deixámos apenas que a alma estendesse a mão a uma bóia invisível.