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Heavy Cross Of Flowers, A cruz da salvação!

Alguns acreditam que um senhor morreu pendurado numa cruz em prol de uma salvação quase inglória de um mundo inteiro de pessoas. Outros, acreditam que as cruzes não têm de ser pesadas ou significar fardos, ou têm! mas de uma das melhores formas de deleite que existe à face da terra: a música. Há ainda quem personifique a cruz numa irmandade que tem a garra no sangue e o poder nas entranhas. Aqui, a salvação existe mesmo e faz-se a cada audição, percepção ou participação na música.
Os
Heavy Cross Of Flowers são do norte e sempre que vêm a Lisboa trazem consigo o peso de uma salvação de que todos andamos sempre à procura.
Aconteceu na passada noite de
sexta-feira, dia 31 de Janeiro, no Sabotage Rock Club em Lisboa e os companheiros de estrada e palco foram os Sun Mammuth

Após uma pausa e uma reestruturação, regressam aos palcos os, também, nortenhos, Sun Mammuth. As origens mantém-se e as paisagens desérticas de horizontes longínquos avistam-se diante de nós. Distorções, pedais viajantes e cordas viciantes deixam um rasto ténue e translúcido de um psych meio stoner repleto de um véu suave. A última faixa, “Terlamonte” serviu para despertar e injectar em nós um pouco mais de adrenalina. O concerto passou pelo álbum lançado em 2015 com “Evocation II”, “Sibir”, “Cosmo” e “Evocation I”, uma cover e faixas novas a integrar o álbum que há-de vir. 

Adrenalina viria a seguir com os níveis de intensidade sonora e densidade instrumental que nos ia afagar brutalmente durante os minutos seguintes. Os Heavy Cross Of Flowers partilham o baixista, Carlos Cafi Sousa, com a banda anterior mas a viagem é outra. Já com uma boa legião de fãs, os Heavy Cross Of Flowers dão um concerto extremamente potente, gravitacional e penetrante. 50 minutos foram o suficiente para subirmos montanhas e nos atirarmos de ravinas. Para nos sentirmos pertença deles e nos embrenharmos no seu stoner que tanto é metal como rock. O sludge e o doom também vingam e apimentam a viagem que se assemelha à paisagem absorvemos ao cruzar o deserto de final de dia/início de noite de Kyuss. A mescla de tons e sabores é feita com força e a versatilidade da voz de Telmo torna tudo ainda mais especial. Por breves instantes, que passam rápido demais, dá-se a libertação de todos os nossos demónios, deixando-nos a sós com a nossa melhor companhia para a viagem – nós próprios.
O primeiro álbum, Homónimo, foi lançado em Janeiro do ano passado e tocado quase na íntegra sendo o encore composto uma malha nova, com poucos ensaios que resultou na perfeição deixando já a saliva a escorrer pelo canto da boca.