Era da nossa vontade começar este texto com a lengalenga habitual de “está oficialmente aberta a época dos Festivais de Verão!”, mas quis São Pedro trocar-nos as voltas e saudar-nos com um dilúvio típico de Inverno no arranque de um dos maiores festivais da temporada
O belíssimo verde que tinge o Parque da Cidade deu lugar ao castanho da lama e a mil e uma poças que encharcaram as sapatilhas de lona típicas da época. Porém, o carinho nutrido pelo festival do Porto é maior de que todas estas adversidades e, um pouco antes das cinco da tarde, as portas lá que abriram para mais uma edição do NOS Primavera Sound.
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Entre galochas e impermeáveis, e como se de uma ironia do destino se tratasse, o sol raiou precisamente às 17h, hora em que a ginga de Dino d’Santiago tomou de assalto o Palco Super Bock, isto numa altura em que os primeiros óculos de sol começaram a dar o ar de sua graça.
Dono de um dos mais aclamados discos do ano passado, o incrível Mundu Nôbo, a festa fez-se cedo ao som dos ritmos africanos de Dino d’Santiago, fazendo esquecer as hostilidades que se sentia perante o clima registado há umas horas atrás, especialmente quando o próprio Dino desceu do palco para dançar junto de um público que o acarinhou desde o primeiro segundo.
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Logo de seguida, e porque nesta maratona de festivais não há tempo a perder, Christina Rosenvinge fez as honras pelo palco NOS, isto numa altura em que o sol aparentava ter vindo para ficar.
A madrilena, já veterana por estas andanças, apresentou alguns dos seus temas mais emblemáticos a uma plateia que se predispôs curiosa desde o início. Porém, no meio de todas as flores que floresciam pelo Parque da Cidade, a de Christina Rosenvinge acabaria por soar um pouco murcha, não enchendo totalmente as medidas a quem procurava, desde cedo, ser arrebatado por um concerto ainda neste horário a roçar o diurno.
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Melhor sorte, e ainda pelo mesmo palco, tiveram os Built to Spill, com o pelotão norte-americano comandado por Doug Martsch a soltar uma forte descarga de indie rock à moda antiga.
Uma referência entre nomes como Band of Horses ou Death Cab for Cutie, os americanos reviveram o iconico Keep It Like a Secret estimado álbum que celebrou 20 primaveras em Fevereiro último. Em jeito de reminiscências, o final de tarde fez-se ao som de algumas das melhores pérolas que o indie rock já poliu, embora não fosse totalmente descabido admitir-se que era expectável um pouco mais de energia por parte de Martsch e companhia.
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A hora de jantar é sagrada pelos lados do NOS Primavera, especialmente quando se tem em conta a variedade e qualidade dos food trucks por lá presentes. Porém, a sandocha no bucho teve que ser digerida rápido, ou não houvesse missa às nove da noite com o peregrino Jarvis Cocker.
O icónico líder dos Pulp era um dos nomes mais apetecíveis no variado cardápio do NOS Primavera Sound, e a enchente pelo Palco Seat assim o comprovava. Já se sabia que a noite não seria de revisão de material da infame banda britânica, mas sim de apresentação do seu mais recente projeto: JARV IS.
Entre guitarras e teclados, saxofones e harpas, o mais recente material do senhor Crocker é uma lufada de ar fresco quando em comparação com os seus trabalhos enquanto chefe dos laranjinhas de “Common People”. Mas não foi apenas na qualidade de novos temas, como o celebrado “Must I Evolve”, que se fez a história do concerto de Jarvis Cocker: alienando-se à personalidade que dança mais do que canta e que fala mais do que canta, esteve a de um livro aberto e sem segredos.
Ao longo de uma hora, o frontman que perde metade dos seus 55 anos na subida ao palco revelou algumas histórias e episódios de uma vida já com meio século em cima, isto enquanto arrebatava tudo e todos com o misto entre a ginga e a classe que só os britânicos conseguem ter. Bravo senhor Crocker, bravo!
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A meteorologia apelidava-a de ‘depressão Miguel’, uma tempestade a ter em conta. Este Miguel atingiu o NOS Primavera Sound em força neste primeiro dia, mas quando havia indícios de tréguas, eis que surge uma segunda tempestade: Danny Brown.
Com energia e adrenalina a romper pelas costuras, o hip hop de combate do rapper americano não foi de cerimónias no que tocou a lançar bombas pelas dianteiras do Palco NOS, sendo Brown o detentor dos primeiros mosh do festival.
Fazendo do palco a sua própria pista de atletismo, nunca um artista fez tantas provas de 100 metros ao longo de um concerto, indo de uma ponta à outra do palco em questão de segundos. Pelo caminho, “Ain’t It Funny”, “25 Bucks” e “Grown Up” faziam a festa pelo meio dos (muitos fãs) de Brown, e até convertia os mais cépticos perante tal cenário de rebeldia e de beats contagiantes de tão vibrantes que eram.
Mesmo não tendo o estrelato de anteriores nomes do género que já passaram por aquele palco e no mesmo horário, onde Vince Staples e Run The Jewels saltam logo à cabeça, Danny Brown conseguiu comprovar que o hip hop será sempre uma aposta segura no Palco NOS.
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Não existe festival que esteja tão ligado a revivals de bandas como o NOS Primavera Sound. Para este ano, entre os múltiplos casos, um dos maiores destaques foi para os Stereolab, isto depois de uma ausência de uma década.
O Palco Seat encheu-se para acolher o regresso do grupo ora britânico, ora francês, que tem em Tim Gane e Lætitia Sadier como cabecilhas de longa data. Apesar do tempo que passou, é com rejubilo que os fãs de longa data comprovaram que a obra dos Stereolab continua imaculada e cristalina, tal como nos primórdios.
Há quase 30 anos, quando surgiram e começaram a dar o ar de sua graça, os Stereolab distinguiam-se por uma som que tanta bebia do krautrock, como da pop e até do post rock. Toda esta mistela parecia impossível e improvável de ganhar forma, até que a banda pôs mãos à obra e criar algo que parece ter nascido para acontecer. E isso ficou bem comprovado no NOS Primavera Sound, presenteando-nos com uma orquestra capaz de produzir uma banda sonora digna de um sonho.
Ambiciosos na idealização e irrepreensíveis na execução, os Stereolab levaram o Parque da Cidade numa viagem que tão cedo não nos sairá da memória, consumando um dos pontos altos deste primeiro dia do NOS Primavera Sound, terminado o nosso primeira dia do festival com chave de ouro.
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Evento – NOS Primavera Sound’19
Promotor – Pic-nic Produções, S.A.
