Opinião Reviews

Done, o surpreendente novo disco dos Barry White Gone Wrong

A primeira faixa do novo Done, dos Barry White Gone Wrong, “This Time” é assim uma espécie de intro para o que vem a seguir: um curto apontamento sonoro original mas é realmente quando começamos a ouvir a segunda canção “Glamour Road” que reconhecemos a inconfundível voz de Peter de Cuyper e identificamos a já particular identidade sonora deste colectivo. O disco é produzido por Tiago Albuquerque e Miguel Décio e foi gravado nos estúdios Black Sheep por Bruno Xisto que esteve também a cargo das misturas e masterização. 

“Glamour Road”, leva-nos para bares poeirentos e para um ou outro semi-desértico e kitsch lugar, com a voz de Peter de Cuyper a fazer lembrar os melhores registos de Leonard Cohen, canção que também poderia estar na banda sonora de “Natural Born Killers”, tal como a canção “Waiting For a Miracle” de Cohen, visto que o timbre e métrica de Cuyper anda lá perto neste tema e bem.

Já a canção “Choices” será um manifesto anti-capitalista? É uma faixa rock, negra e reaccionária contra o estado das coisas numa sociedade moderna onde os gadgets, a televisão e a escravidão das massas que trabalham para comprar coisas, coisas que não acrescentam nada – o cantor acrescenta que somos todos vítimas (já me benzi e tudo) – vítimas desse trabalho escravo contemporâneo. 

“Skin”, introduz a voz de Miguel Décio em contraponto com a de Peter de Cuyper a assumir a lead numa faixa densa e cheia de rock, com coros presentes a acrescentar drama ao tema. Bastante viciante se o repetirmos uma segunda vez.

“Finishin´ Circles” tem um ambiente ambiente cool que se instala e é francamente muito bom este dueto entre Décio e De Cuyper – é, e repito-me, francamente muito bom. Uma faixa cheia de soul e sentimento. Com um arranjo fantástico. As prestações vocais são excelentes ao longo de todo o disco e são realmente qualquer coisa neste tema. Um clássico instantâneo, devia ser já este o próximo single. Fez-me cantar e não poupo elogios a este tema. Devia ser o próximo single sim, e aqui não há espaço para contemplações editoriais, tais como fazer um edit, pois reduzir a duração deste tema seria um crime. 

“She Loves a Singer” é uma canção mais melosa, arrastada e bonita, e é novamente muito cool, de um arranjo intimista novamente com bom uso de coros a entrarem na altura certa.

Por esta altura é inevitável comparar este disco pelo que ouvi até agora com o primeiro, Tornado, disco de estreia dos BWGW que pelas minhas contas saiu há menos de dois anos, e que na altura com um som muito orgânico mostrava esta banda como uma muito bem oleada máquina de soul, blues e rock com soluções muito interessantes e arrojadas para a revitalização destes géneros, sem transformar a sua música numa caldeirada de canções sem nexo e estética. Tornado tinha esse mérito e é um disco impressionante, feito, adivinha-se, num parto doloroso como quase todos os discos de estreia o são.

Em contrapartida, Done tem um som mais límpido, a mistura áudio está muito interessante, aponta para caminhos mais modernos na sua produção não esquecendo uns arranjos tradicionais, um certo modo clássico de apresentar as canções. No entanto existe a surpreendente a canção “Mountain Top” onde a fuga à instrumentação mais tradicional traz muito bons resultados e foge do que é esperado face ao estilo mais clássico e orgânico das outras faixas. 

“Anonymous Believers” o primeiro avanço para este disco, e já deve estar a tocar por algumas rádios, é uma faixa densa e a mais rock destas canções, mas apesar de ser um poderoso número para se tocar em palco, de longe, na minha opinião, ilustra o ambiente do resto do disco. 

“Done”, faixa que dá o nome e encerra o disco, é uma canção bonita e melodiosa.

Em suma, os Barry White Gone Wrong entregam-nos um segundo disco lindíssimo no sentido em que a banda mostra um belo e organizado trabalho instrumental complementado com excelentes arranjos vocais, boas e sólidas canções que respiram e fogem da maneira moderna e previsível de produzir as coisas. Não têm batidas quantizadas e acertadas em catadupa, como em milhares de trabalhos que ouvimos hoje em dia.

Done é um segundo disco em que tal como no primeiro temos a sensação de ouvir uma banda real onde as pessoas sabem mesmo tocar e cantar, canções que transpiram de humanidade. A minha única queixa: gostaria de ter ouvido mais, o disco termina demasiado cedo. Seria magistral se tivesse mais uma ou duas faixas com a qualidade destas, assim é simplesmente muito bom e excelente! Deixem-se surpreender e oiçam os Barry White Gone Wrong em Done.

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