20190318 - Entrevista - Dead Club @ Anjos 70
Backstage

Dead Club, A personificação das dualidades que nos assombram!

Conheci a Violeta enquanto cantora de uma banda que mais tarde terminou. Do pouco que vi e conheci, sempre me deixou o bicho da curiosidade em relação aquele vulcão prestes a explodir.
Enquanto Dead Club, o vulcão explodiu! Não só nos traz uma mescla de sensações intensas enquanto a vemos em cima do palco, como nos faz acelerar o coração com a música com que nos inunda.
Dead Club nasceu no ano de 2018 e está a dar os primeiros passos. Neste âmbito, o Música em DX foi conversar com Violeta Espectro acerca deste seu novo eu.

Música em DX (MDX) – Dead Club é o teu refúgio e a tua libertação? É o teu refúgio ou é a tua libertação?

Violeta Espectro (VE) – Os dois. É o meu refúgio quando estou a gravar e a minha libertação quando estou a apresentar ao vivo. Quando estou a criar vou buscar todas as forças! É algo um bocado negro, é um refúgio de tudo o que eu vejo e de tudo o que eu sinto e entro num buraco negro de depressão quando estou a compor depois, ao vivo, solto os demónios todos.

20190318 - Entrevista - Dead Club @ Anjos 70

MDX – Já tiveste outros projectos anteriormente… como é que decidiste ficar sozinha?

VE – Eu gravo as músicas em casa com uma guitarra acústica e só depois faço o resto. Entretanto aprendi a mexer num programa onde conseguia por as baterias, para ter uma ideia de como será tudo. Quando o meu último projecto acabou fui convidada para apresentar 2 músicas a solo e estava cheia de medo mas tinha algumas demos preparadas e fui e senti-me muito bem, consegui que o som estivesse cheio sem precisar de outras pessoas e, na verdade, eu queria muito perceber se conseguia fazer uma coisa sozinha ou não. Então fui acumulando músicas que ia mostrando às pessoas. Dei dois ou três concertos em que era só eu e as backing tracks mais uma guitarra e teclado que eu tocava ao vivo, mas senti muita falta do som de uma bateria orgânica que, para mim, é o que dá o poder todo do rock e acho que está a correr bem assim.

MDX – Na tua biografia defines Dead Club com uma série de dualidades, maioritariamente extremos, é isso que é a Violeta?

VE – Sim! Principalmente agora, com este projecto ao vivo. Acho incrível tocar uma música pesada e obscura com um vestido de noite, tendo todo um visual que não tem nada a ver com a música e, ao mesmo tempo, a garra e o rock estarem lá. Toda a discrepância faz sentido, podes ser um animal e uma besta em palco tendo um vestido de noite. Mesmo as músicas têm quase todas momentos super pesados como de repente passam para um silêncio tranquilo. Eu escrevo sobre o que vejo e o que sinto, todos os momentos que vivo, esteja eufórica ou calada a observar, e é isso que eu quero transmitir porque todas as músicas que faço, são escritas antes (eu escrevo muito). A escrita está sempre primeiro.

MDX – Queres contrapor a sensibilidade feminina à monstruosidade que está por detrás de muitas coisas… daí a densidade? Porquê fazer isto?

VE – Acho que o que tenho feito é uma coisa muito de extremos: eu pego nas coisas que me assustam e que me fazem mal e tento elevá-las a um nível enorme e faço exactamente a mesma coisa com as coisas sensíveis e boas e é por isso que acho que está a resultar porque eu não gosto de ouvir um álbum e soar-me sempre ao mesmo. Eu adoro álbuns que contam uma história, uma fase da vida do artista. Cada capítulo tem diversas fases e o que eu faço é exagerar tudo, por exemplo aquilo foi mau e faço 10x pior. Eu gosto mais de ouvir músicas felizes do que fazer músicas felizes, não faço músicas felizes! Para mim a arte sempre teve este lado, sempre procurei coisas na arte que fossem mais obscuras porque, na verdade, eu relaciono-me mais com coisas mais negras também.

MDX – Voltando à parte da libertação ao vivo… como espectadora vejo o teu concerto como uma experiência arrebatadora e inesquecível, também. E tu enquanto artista que me estás a proporcionar isso, o que estás a sentir no palco?

VE – Não sei muito bem. Se um concerto for mau eu sei que foi mau porque sei exactamente o que se passou, se for bom eu não me lembro das coisas. Eu no fundo não faço nada… eu estou só a reagir à música, nada é pensado. Ao vivo eu acho que sou só mais um instrumento. É uma performance, claro, mas não é nada pensado, tem tudo a ver com o facto de como me estou a sentir naquele dia, como as pessoas estão a reagir às coisas. Em cima do palco não estou só a tocar, estou a sentir e a pôr cá para fora coisas que não posso pôr todos os dias. No palco não és um homem, uma mulher, não és um ser… eu passo a ser um instrumento, parte daquela música, é tudo uma questão de sentimento, atitude e liberdade. Às vezes é um bocado chato porque tocar com backing tracks corta um pouco toda a liberdade de prolongares uma música, mas é isso. Eu não sou uma pessoa no palco, e assim que a música acaba e o concerto acaba, eu saio do palco e volto a ser uma pessoa tímida.

MDX – Esta libertação é do mundo, de demónios, de ti?

VE – Há vários momentos em que eu sou um demónio e outros em que sou uma menina frágil. Não é nada constante.

20190318 - Entrevista - Dead Club @ Anjos 70

MDX – Nesse campo de libertação autobiográfico, a música é o teu maior escape…

VE – Sim, sempre foi. Eu sou de Faro e em Faro eu achava que fazer música ou dar concertos era uma coisa que só algumas pessoas fazem e que eu não ia fazer! Depois quando vim morar para Lisboa, como não conhecia ninguém, não tinha muito a perder e decidi mostrar o que tinha feito e entrei numa banda a cantar, mas era horrível! Olhando agora para trás, neste momento há todo um à vontade e uma confiança totalmente diferentes. Eu antes tocava atrás de uma coluna ou algo parecido porque tinha medo que as pessoas me vissem porque ainda sentia que eu não fazia essas coisas. Depois com o tempo fui ficando melhor e depois comecei a perceber as coisas e a dar mais concertos e a ter mais confiança e consegui ter a confiança suficiente ou a estupidez suficiente para fazer um álbum a solo e ir tocá-lo.

MDX – Como é que vês o futuro de Dead Club?

VE – Acho que vai ser incrível. Não sei, estou a acabar o álbum, estou na fase horrível em que tenho demasiadas músicas e tenho de escolher os bebés que vou cortar. É um álbum à antiga, vai contar uma história do princípio ao fim, não é um conjunto de singles, é mais que isso. Fala sobre uma fase da minha vida. Basicamente o álbum é sobre a noite, sobre o que vejo e o que faço e é engraçado porque metade do álbum foi feito enquanto trabalhava à noite, nas Damas, e tinha uma vida nocturna e boémia e a outra metade do álbum foi feita à luz do dia a beber chá. Metade foi feito enquanto experienciava as coisas e a outra metade foi feita a reflectir sobre as coisas que aconteceram. Em princípio serão 13 músicas e vou ter músicas onde tenho 15 instrumentos e outras em que simplesmente estou a cantar, isto também é uma mistura das minhas influências. A minha maior influência de todas são os Beatles mas depois a Patti Smith também me influencia muito, há toda uma aura de spoken word e poesia no álbum, também. Então estou a ficar muito orgulhosa do álbum porque tem um bocado de tudo. Pessoas que ouvem muitos estilos diferentes conseguem encontrar uma música no álbum com que se identificam.
Na verdade, o álbum tem alguma electrónica também mas eu não ouço nem nunca ouvi música electrónica, só ouço coisas com instrumentos a serem tocados e acho engraçado porque não estou a ser inspirada por nada que tenha electrónica, estou só a tentar encontrar um som misturado com instrumentos e com algo mais computorizado. É uma mistura das minhas influências todas mas em 2019 basicamente. No entanto, não é algo pop ou comercial!

Fiquem atentos a esta menina e este projecto. Certamente vai dar que falar e vai abanar muitos de vós. Sempre que possam vejam-na em palco, a vossa memória vai encarregar-se de guardar a intensidade e o poder desse momento.
Podem vê-la já no próximo dia 24 de Abril no Aniversário do Damas – Bar.
Até lá, podem experienciar auditivamente esta explosão de sentidos
aqui.

Mais info aqui.