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Turbulência e Radio Moscow

Era publicitada como uma tournée europeia, mas nela só constariam seis datas, com Portugal a ficar com as duas últimas. No culminar desta ‘perninha’ pelo nosso continente, os Radio Moscow encheram o RCA Club pelas costuras, trazendo um vendaval de psicadelismo americano que deixou Alvalade de pantanas.

Antes de dita tempestade, os portugueses Fuzzil, oriundos de Alcobaça, ficaram responsáveis por agitar as águas do RCA Club com o seu rock psicadélico demolidor.

A energia contagiante destes quatro tipos levou a que o rótulo de banda de abertura se ‘desprendesse’ bem rápido dos Fuzzil, dando um concerto com poupa e circunstâncias e cujas canções foram sempre recebidas de bom grado pelo público.

Com as águas já agitadas, a turbulência surgiu com os Radio Moscow, e por estas águas, todo o RCA se quis banhar.

Na maré do tripleto americano, o cardume psicadélico é bem eclético, com vestígios de blues, groove, fuzz e garage, receita de sucesso para uma sonoridade que tanto consegue ser imersiva como convidativa ao headbanging. Os primeiros nuances desta última surgiram logo no começo, ao som de “New Beggining”, registando-se elevados níveis de turbulência por aqueles mares.

A Bíblia fala dos quatro cavaleiros do Apocalipse, mas no RCA Club apenas três pisaram palco: Parker Griggs, Anthony Meier e Paul Marrone. Já o quarto, esse seria a própria sonoridade dos Radio Moscow, avassaladora e destrutiva como sempre, não se fazendo de cerimónias.

A ressonância existente entre os três instrumentos da banda – guitarra, baixo, bateria – surge de forma tão natural que o passagem entre temas passa quase por despercebida, excepto quando se é brindado pelas amáveis palavras de Parker Griggs, como quando confessou o gosto que é voltar a Lisboa. A coesão da banda, o seu som enquanto um todo, é de louvar e o RCA acolheu-os de braços bem abertos.

A falta de material novo – New Beginnings, último disco, foi lançado em 2017 – levou a que os Radio Moscow revisitassem praticamente toda a bagagem, facto que agradou, sem sombra de dúvida, aos fãs que lotaram o RCA Club. Aliás, dada a enchente, a sala de concertos de Alvalade acabaria mesmo por revelar-se demasiado pequena para a ocasião, mas a entrega dos Radio Moscow será sempre a mesma, independentemente de um estádio, coliseu ou até numa garagem. Valha-nos isso.

Fuzzil

Radio Moscow