Março é o mês da primavera, um mês que começa a aquecer e a nascer as flores. Ainda foi no inverno que nasceu Manga, o último trabalho de Mayra Andrade. Um fruto para ser saboreado com calma, com gosto e com muita dança. Foi assim que o Capitólio a acolheu, nos dias 1 e 2 de Março. Uma noite repleta de sensualidade e alegria.
Para sexta feira, já se sabia há algumas semanas que o concerto já estava esgotado, tanto que se anunciou uma segunda data para a artista cabo verdiana que reside agora em Lisboa. É com muito amor que o público está à sua espera, e então somos recebidos em retorno com Afeto, um dos primeiros singles que saiu deste último disco. Mas foi uma noite que se passou a pente fino todos os temas. Dança foi a palavra de ordem, sempre com Mayra a tocar conta das ocorrências.
Acompanhada por uma banda internacional, com Nicholas Vella nos teclados, Euclides Gomes na guitarra (e que guitarra, já que logo de início teve de se ausentar para trocar de cordas), Swaéli Mbappé no baixo e Tiss Rodriguez na bateria, somos explorando os sons e o dialecto cabo verdiano que tomaram conta do Capitólio.
Foram vários os momentos que emocionaram Mayra. Uma recepção muito calorosa e afectiva, visível por exemplo após o Segredu, em que ficou visivelmente sem palavras. Ou então após o Vapor di Imigrasson. Foi um concerto que explorou ritmos mais tropicais, usando todas as armas possíveis. Claro que a arma mais valiosa é a voz de Mayra. Doce, melódica, capaz de conquistar até os mais impenetráveis.
Vemos a sua distreza ao longo do concerto. Seja em Tan Kalakatan, seja em Lua, por exemplo. O concerto é um completo raio-x à Manga, mas também há espaço para ouvir outros temas mais antigos. Também o Ilha de Santiago é outro dos casos.
Mayra, ainda no início do concerto, mostrou-se muito grata pela receptividade que o álbum tem tido ao longo deste mês. Somos embalados pela magia da própria Manga, o tema que dá nome ao disco, dedicado a todos os que ainda não tiveram uma história de amor (ou que pelo menos não quiseram admitir em público).
Nesta viagem feita durante cerca de hora e meia, houve espaço ainda não para um mas para dois encores. O primeiro ainda com direito a escutarmos um tema já mais antigo feito em dupla com Branko, o Reserva para Dois mas também num midley que contemplou o Nha Baby, do Nelson Freitas. No segundo, de forma muito singela, Mayra despediu-se do Capitólio com o Guardar Mais, tema escrito pela sua “irmã” Sara Tavares.
Uma saída do palco de coração cheio e um público saído do Capitólio de sorriso na cara. Melhor que um concerto da Mayra, só mesmo dois. Por isso, agora é fazer as contas à vida até à próxima vez que Mayra dá um concerto em Lisboa.