20190131 - Concertos - Desert'Smoke + Shima @ Sabotage Club
Concertos Reportagens

Shima e Desert’Smoke no Sabotage Club, uma noite de chuva psicadélica

Na noite de quinta-feira, último dia de janeiro, o Sabotage Club apresentou uma noite dedicada ao rock psicadélico e progressivo totalmente instrumental e, como é sua caraterística, canções com mais minutos de duração do que é costume nestas coisas. No cartaz constavam duas bandas portuguesas, os Shima e os Desert’Smoke.

Os primeiros a subirem ao palco foram os Shima, o que deixou alguns surpreendidos, já que o evento anunciava uma ordem diferente para a noite, para além de que enquanto estes já têm um álbum lançado, Vol. 01 de 2017, os Desert Smoke só em 2018 se apresentaram com o lançamento de um EP, de seu nome Hidden Mirage. Depois, a realidade veio dar razão a todos aqueles que se tinham mostrado algo espantados com esta ordem pela qual os dois projetos se apresentaram.

Os Shima são formados por David Spínola na guitarra, Diogo Valsassina no baixo e Pedro Romão na bateria. Diogo Valsassina é alguém conhecido do grande público não pela música, mas pelo trabalho que tem desenvolvido enquanto ator e por isso desde logo havia a curiosidade em ver como é que ele se comportava neste contexto, tão diferente daquele onde o costumamos ver.

A noite estava bem chuvosa, mas isso não impediu que o salão de festas do Sabotage Club se encontrasse muito bem composto quando os Shima surgiram em cena, um pouco depois das 23h. Rapidamente se percebeu que na música deste trio tudo gira em redor da guitarra de David Spínola, que com arte e mestria vai desfilando os seus riffs e solos, sempre temperados com os picantes efeitos dos seus pedais, enquanto o baixo e a bateria servem de estrutura óssea para aparar tudo o que vai saindo da poderosa guitarra. Como seria de esperar, Diogo Valsassina foi o comunicador da banda, dando as boas-vindas e brincando com o público quando agradece a sua presença num dia com tanto sol. Durante a cerca de uma hora de concerto não se deu por um único erro nas muitas variações que as músicas vão tendo. Tudo bate certo, talvez também ajudado pelo facto do seu único disco editado já ser de 2017 e por isso já estar com alguma rodagem. Mas houve também lugar a um tema novo, ainda não editado, tendo ele sido estreado exatamente nesta noite. Como era a primeira vez que o tocavam, Diogo Valsassina, que apresentou o tema mas que não disse o seu nome, mostrou logo algum receio em relação à forma como as coisas iriam acontecer, tendo no final abanado a mão como quem quer dizer que a coisa correu mais ou menos (uma das características deste género musical é os seus executantes darem uma grande importância à forma perfeita e sem erros com que querem interpretar as suas canções). Mas, para quem estava de fora, pelo menos aparentemente, tudo correu bem na apresentação deste novo tema, que segue a sonoridade dos que já são por nós conhecidos.

A última música da noite foi “Antikythera”, tema que também encerra o disco, que durante os seus 15 minutos de duração nos levou numa viagem onde o tempo passou por nós sem darmos por nada.

Seguiu-se o intervalo para que se preparasse o palco para receber os Desert Smoke, no qual se viram algumas pessoas a abandonarem a sala. Assim, quando a banda composta por André Pedroso Rocha (guitarra), Cláudio Aurélio (bateria), João Nogueira (baixo) e João Romão (guitarra), este com uma apropriada t-shirt dos Pink Floyd vestida, deu início ao espetáculo, a sala que encontrou já não se encontrava tão bem composta. Desde logo se percebeu que a sua sonoridade é mais pesada que a dos Shima, contribuindo também para isso o facto de terem duas guitarras. Com isto, as músicas continuam a ser grandes em termos de duração, mas agora o tempo custa mais a passar, criando por vezes a sensação de que são intermináveis. O público não se mostrou tão entusiasmado como se mostrou com os Shima e alguns foram abandonando a sala antes do fim.

Noite sem dúvida bem profícua para quem gosta deste género musical, onde se revelaram canções mais longas do que o habitual, estando tudo ensaiado até ao pormenor e os músicos têm toda a liberdade para mostrar a sua qualidade técnica na forma como abordam o respetivo instrumento musical.