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The Pretty Things no Sabotage, a despedida e o blues rock que nunca morre

Faz parte de um ritual obsessivo – ver, sempre que se tem oportunidade, nomes históricos do rock, mesmo que nunca tenham descolado para a fama junto do grande público. São oportunidades que parecem impossíveis de não aproveitar para quem gosta de música, e a vive transversalmente independentemente do género ou do status que cada artista alcança a nível de vendas. Ver – músicos que passam a marca dos 70 anos de idade no documento de identificação, que conviveram e estiveram ligados indirectamente à génese dos The Rolling Stones, e que persistiram no tempo o suficiente para ainda hoje encherem numa terça-feira o Sabotage Club, numa altura em que as massas estão viradas para sons menos Rock&Blues – as mesmas massas que depois acorrem aos milhares aos concertos de estádio de Jagger e seus comparsas. Deixa algum amargo de boca. Mas também é só musica, nada para ser levado muito a sério, certo? Errado. Prefiro pensar que a vida destes The Pretty Things lhes deu tudo a que tinham direito.

Afinal é um privilégio poder assistir a um concerto tão intimista com uma banda tão competente e com tantos anos de estrada. Não me parece que venha a ser possível tal acontecer com os The Rolling Stones ou os The Who, todos eles contemporâneos destes músicos, quer dizer, pelo menos do cantor Phill May e do guitarrista Dick Taylor que ao que parece, na altura tocou baixo com os Stones antes de desistir da música, mas que depois veio a formar os The Pretty Things com Phill May.

Com algum pequeno atraso na entrada em palco e mal sabendo eu que este concerto ia durar quase duas horas numa terça-feira à noite, comecei por apreciar a maneira como estes old timers entraram em palco e começaram a desfilar temas blues rock com a mesma facilidade dos jovens de vinte anos, mas com a mestria e energia desta banda hoje em palco, rapidamente se entrou no ritmo contagiante onde as guitarras de Dick Taylor e de Frank Holland (que também tocou harmónica em alguns temas) funcionaram muito bem com o baixo de George Woosey e a bateria de Jack Greenwood, a secção rítmica com os rostos mais jovens deste colectivo.

Quanto a canções, ouvi “Big Boss Man” com o seu ritmo blues viciante, ou “Dont Bring me Down”, e percebo que realmente não haveria maneira de terem sido tão famosos como os Stones. Não há aqui nenhuma tentativa de serem comerciais ou saírem das raizes do Blues Rock. O som mais psicadélico de “S.F. Sorrow” é mais indie hoje do que blues, e bandas como os Toy ou os Temples, podem e devem ter andado a beber daqui por consequência, grande este tema. “Midnight To Six Man”, “Mama Keep Your Mouth Shut” de Bo Diddley e “The Same Sun”, foram para mim os melhores temas.

Apesar disso confesso que com o aproximar das duas horas de concerto já estava um pouco cansado, afinal, tinha acabado a terça-feira e já estávamos na madrugada de quarta. Senti-me um pouco envergonhado por já estar a pensar chegar a casa e descansar enquanto à minha frente o cantor com os seus 74 anos estava ainda com vigor para mais. Esta foi a tour de despedida dos The Pretty Things, numa altura em que os The Rolling Stones anunciam que podem estar à beira de realizar a última digressão de estádios da banda nos Estados Unidos. Não sei o que estava na água daquele Liceu onde todos andaram ao mesmo tempo, mas seria água de grande qualidade. Por cá, assistimos ao último concerto em Portugal desta banda. Foi no Sabotage cheio numa terça-feira à noite.

 

Promotor – Sabotage Club