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Entre rock, folk ou country, Marlon Williams é Quem Ele Quiser

São quase vinte mil os quilómetros que separam Nova Zelândia de Portugal, mas no passado sábado, a distância evaporou-se por completo de forma a unir estes dois pontos num só. O motivo deu pelo nome de Marlon Williams. 

Nascido em christchurch, Nova Zelândia, há vinte-sete Primaveras atrás, Marlon Williams é homem de folk que tem as suas raízes blues bem assentes na terra: há a frescura dos tempos modernos mas não se esquece as bases que os moldaram. O resultado é uma das sonoridades mais cativantes deste ano de 2018, bem comprovada pela forte afluência de público que se registou pelo Lisboa ao Vivo, surpreendendo até o próprio artista. 

Antes, escutou-se Ryan Downey, artista de música folk. Tocando ainda para uma sala algo de vazia, a sonoridade do australiano soava um pouco murcha, não causando o impacto emocional que seria suposto. Com muitos a optarem por trocar uns quantos dedos de palavras ou refrescar-se no bar, a estreia de Downey por Portugal não ficará certamente para a história. Contudo, a redenção chegaria uns momentos depois, quando foi convidado por Williams a subir a palco consigo. 

 

Logo de início, escondido pela penumbra, é na companhia de um piano que aparecem as primeiras saudações de Williams, embora tenha ficado um pouco implícito que estas foram acompanhadas por alguma timidez. Todavia, minutos mais tarde, essas dissiparam-se rapidamente quando a confraternização com o público levou a que Marlon Williams se passasse a sentir em casa. Talvez como fruto dessa adaptação, e felizmente que assim foi, Marlon deu um concerto onde a intensidade foi uma crescente constante, com Make Way For Love a justificar o porquê de todos os elogios que tem recebido até ao momento. 

Ora fosse através de “Lost Wihtout You”, “Can I Call You” ou “What’s Casing You”, a forma surpreendente como Marlon Williams dançava entre o rock, o country, folk e a pop foi de louvar, conhecendo todos estes cantos até aos seus mais ínfimos detalhes. Consequentemente, este jogar entre registos levava a que o artista se adaptasse aos mesmos, oscilando entre a melancolia e as chamas de quem é um animal de palco. 

Foquemo-nos na primeira: a melancolia. É aí que está a verdadeira essência de Marlon Williams, a de um homem que utilizou as canções como escape do fim de um relacionamento. Ouvir os temas de Williams, sabendo de antemão o que motivou a sua existência, abre as nossas portas para com sentimentos de simpatia e compaixão, mas nunca de pena; fé impossível sentir pena de um fim que nos tornou em pessoas melhores, mais aptas para enfrentar o desconhecido, o “e agora? O que é que faço?”.

O passado não se esquece, o passado não desaparece. Lida-se, supera-se e, no caso de Marlon, canta-se sobre, como foi o caso de “Nobody Gets What They Want Anymore”, que foi escrito com a co-autoria da (agora) ex Aldous Harding. Apesar do trauma do evento, Marlon canta o tema não com voz de saudade, mas sim de despedida; aquele capítulo terminou e melhores dias virão, como “Party Boy” e “Vampire Again” tão bem o demonstraram. 

Acima de tudo, e talvez aqui jaz a razão de Marlon Williams ser um artista com que nos identificamos facilmente, Make Way for Love não é um disco que se dramatiza ou que se comemora a merda que é um desastre amoroso. Não, de todo. É um disco em que se partilham emoções, e no passado sábado, foi a isso que se louvou. 

Promotor – Ritmos, Lda.