20180627 - Concerto - Marilyn Manson + Amazonica @ Campo Pequeno
Concertos Reportagens

Marilyn Manson, uma noite das trevas

Já tinha passado muito tempo desde do último concerto. Foi assim que Marilyn Manson abriu um concerto que foi uma viagem ao presente e ao passado do músico, num Campo Pequeno que este a rebentar pelas costuras, cheio de gente, fumo e muito barulho.

Enquanto a sala se ia compondo para um espectáculo que não uma corrida de touros, quem se soltou como não houvesse amanhã foi a DJ Amazonica, nome artistico para Victoria Harrison. Encarregue de aquecer a malta até pouco antes das 21h30, hora do início do concerto, foi ao som de Run the Jewels, Kendrick Lamar, mas também Nirvana, AC/DC e Rage Against the Machine que se fez o início esquizofrénico de uma noite que aguardava impacientemente pelo Marilyn Manson.

Quando o relógio bate quase umas 21h40, começamos a ouvir os acordes bowianos de Ziggy Stardust antes de romper uma enorme nuvem de fumo branco. É Brian Warner a entrar com os seus muchachos em palco. Como qualquer início do mundial, é hora de escutar o hino. Irresponsible Hate Anthem é gritado a plenos pulmões, onde se revela lacunas sonoras no Campo Pequeno.

Microfone ao chão constantemente (coitado do roodie que andava a fazer piscinas de lanterna na mão para dar outro e procurar o atirado) foi uma outra imagem de marca do concerto, que contou muitas vezes com gritos do frontman para a sua banda, quase como se fosse um desentendimento. A frustração que sentia não transparecia quando conversa com o público português. “Vocês são a cidade que faz mais barulho“. Se calhar Manson diz isto a todos, mas os decibéis subiram mais um pouco depois do elogio.

O concerto é mais do que a apresentação do Heaven Upside Down. Muito já se falou dos anos polémicos, dos álbuns falhados, e a verdade é que a essência do Marilyn Manson está em muito concentrada no Antichrist Superstar, a sua auto-denominação e o seu pináculo artístico. Angel With The Scabbed Wings, Deep Six, This is the New Shit, Disposable Teens e mOBSCENE são espelho de um concerto que contou com uma capacidade atlética de Manson impressionante. Sempre a esprenear-se no chão, a correr de uma ponta à outra, o palco era dele, e pouco do resto da banda. Ele é a estrela.

E ainda se torna mais surpreendente quando manda subir três moças ao palco aquando do Kill4Me. Seios exibidos, beijados trocados, toda a premiscuidade que pode definir em parte os espectáculos do norte-americano foram ali demonstrados em apenas 5 minutos. Depois, acompanhado de um cigarro com substâncias psicotrópicas (supomos), The Dope Show reflecte toda uma imagética teatral que se compôs ao longo da noite.

A partir daí, o espectáculo se tornou mais arrastado e demorado. Com longas pausas entre as músicas, sem saber o motivo (porque encore não era), não fez demover os ávidos fãs que no meio de tanto mosh e crowdsurf tiraram os telemóveis para gravar o Sweet Dreams, a eterna cover dos Eurothmics, que ele tanto celebrizou.

O Say10 antecedeu uma subida a um púlpito onde Manson evocou o Antichrist Superstar. Cry Little Sister é a ponte para o The Beautiful People que é o último grande momento da noite, evocado e gritado por todos os fiéis do Manson ali presentes. Já visivelmente cansado, o Coma White é a despedida algo inglória num concerto que teve muitas deficiências. Pecou no som, na própria qualidade músical (refira-se aqui a banda) e que Marilyn Manson tentou ombrear e ultrapassar as dificuldades o mais que pode. Quem é verdadeiramente fã, saiu contente com a sua vinda. O resto ficou a sentir que faltou qualquer coisa.

Texto – Carlos Sousa Vieira
Fotografia – Luis Sousa
Promotor – Everything Is New