Backstage

Entrevista com Basset Hounds, “Este segundo disco tem uma linguagem mais própria, mais nossa.”

No passado mês de abril conhecemos II, o novo disco dos Basset Hounds e sucessor do álbum homónimo editado em 2015. “Ouroboros” foi o single de apresentação do que aí vinha, um disco com outros instrumentos que não os tocados pelos membros da banda e uma nova sonoridade mais coesa. A propósito de tudo isto, rumámos até ao estúdio atual dos Basset Hounds, batizado de Frasco e localizado em Lisboa, para conversarmos com os seus quatro membros: Afonso Homem de Matos (bateria e voz secundária), António Vieira (guitarra e voz secundária), José Martins (baixo) e Miguel Nunes (voz principal e guitarra).

Música em DX (MDX) – Quais as principais diferenças deste segundo disco para o primeiro?

Miguel Nunes – Sonoramente há diferenças, mas a maior diferença tem mesmo a ver com a evolução pessoal e de banda que tivemos. Sonicamente há mais um afunilar do que foi o primeiro álbum. Este segundo disco está mais coeso, tem uma linguagem mais própria, mais nossa.

António Vieira – No nosso primeiro álbum queríamos procurar algo com muita diversidade. Já tínhamos gravado EPs e o primeiro álbum era quase como um segundo e nós para aquele em particular queríamos muitos géneros musicais e muitas coisas diferentes dentro do CD, mas sem perder a noção de unidade. Para este queríamos outra coisa, mais linear, mas sem que seja repetitivo e isso foi um dos principais desafios.

Miguel Nunes – Nós neste álbum decidimos que queríamos incluir saxofone e violinos, enquanto no primeiro foi mais uma descoberta, foi a nossa primeira experiência no estúdio. Neste segundo álbum já sabíamos como nos preparar para isso e também se nota essa diferença.

MDX – Como são as vossas sessões em estúdio? Há muita coisa que só surge nesse momento ou levam já tudo pronto a ser registado?

Afonso Homem de Matos – Nós tentamos levar a maior parte do trabalho feito de casa. Não vale a pena fugir à questão financeira que está envolvida na gravação de um álbum, há muitas bandas que têm de fazer um esforço para conseguir ir para estúdio gravar e nós da nossa parte tentamos que lá o tempo seja aproveitado da melhor forma possível.

Miguel Nunes – A margem de alteração do que nós preparamos para estúdio é sempre muito pequena, é mais uma sugestão de um determinado efeito que ficava bem aqui, se dobrares aqui esta guitarra… são mais pequenos apontamentos.

António Vieira – Nós somos estruturais, mas há ideias que podemos preparar muito bem nos ensaios e depois chegamos ao estúdio e não resultam ou resultam melhor de maneira diferente e procuramos outros arranjos, mas tentamos rentabilizar ao máximo o tempo que temos. Nunca vão ser alterações estruturantes.

MDX – No vosso universo encontramos muitos títulos de canções pouco óbvios, tal como o é o próprio nome da banda. Nessa lógica, não acham que o título do novo álbum é demasiado simplista e batido ou será que existe alguma intenção escondida?

José Martins – Eu acho que o nome ser bastante básico é mesmo para não estar a categorizar o álbum logo à partida com um título e deixar isso para as músicas. O primeiro também foi o primeiro…

Miguel Nunes – Não estamos a imitar Led Zeppelin (risos).

António Vieira – Eu gosto de sentir que os álbuns são como volumes de livros, nós agora estamos no segundo tomo, depois vamos para o terceiro, para o quarto… surge como um seguimento natural. Não há propriamente uma rutura entre aquilo que nós procurávamos no primeiro e aquilo que fizemos no segundo, quando houver essa rutura talvez haja outro título.

MDX – Quais são os vossos objetivos enquanto banda?

Afonso Homem de Matos – Eu acho que nós tentamos sempre fazer uma coisa que faça sentido para nós, antes de fazer sentido para quem quer que seja de fora e depois se fizer é um bónus. Nós se não fizéssemos isto por gosto não vínhamos para aqui aos fins de semana ensaiar e depois do trabalho cansados, isto é mais paras nós os quatro do que para outro objetivo qualquer.

António Vieira – Nós não deixamos de ter ambições, a maior é talvez fazer com que a nossa música transmita algo a alguém tanto quanto a nós.

MDX – Nos Basset Hounds há insubstituíveis? Ou por outras palavras, se um de vocês saísse a banda correria o risco de acabar?

Afonso Homem de Matos – Eu diria que todos. Não digo acabar, mas deixaria de ser Basset Hounds e passaria a ser outra coisa qualquer.

Miguel Nunes – A identidade e a sonoridade é justamente por sermos nós os quatro. Se tirarmos uma dessas partes, jamais teria o mesmo sentido.

Afonso Homem de Matos – A banda é o resultado da relação entre os quatro.

Miguel Nunes – O resultado é muito homogéneo, mas a verdade é que foram quatro pessoas com personalidades diferentes que criaram algo muito central, muito comum. O que sai é sempre algo que vem dessas quatro partes.

MDX – Consideram que Portugal reúne as condições ideais para se viver da música?

Afonso Homem de Matos – Nós temos todos outros interesses, mesmo nos nossos trabalhos fora daqui, coisas que gostávamos de continuar a fazer. Não deveria de ser é uma coisa para sustentar a outra, a música deveria de ser um hobby mais natural, sem exigir um esforço financeiro tão grande.

MDX – Estamos aqui na vossa sala de ensaios que fica perto da RTP. Em vossa opinião, a nossa televisão pública cumpre a obrigação de serviço público relativamente à música portuguesa?

José Martins – O Nuno Artur Silva demitiu-se porque achava que mais valia ter um filme a passar para oito mil pessoas e que vai mudar a vida dessas pessoas… ou seja, há sempre a preocupação dos nossos média de ter um share e de terem a publicidade a render.

António Vieira – Houve coisas que aconteceram boas nos últimos anos e nós fomos alvo disso, naquele programa “No Ar”. Houve um investimento significativo, se não houve mais é porque não foi possível. Houve uma preocupação e uma mudança de paradigma, porque há cada vez mais coisas a aparecer, por exemplo na RTP Play há cada vez mais programas e documentários. Há cada vez mais exposição do que é a música em Portugal, quais são as dificuldades e o que é preciso fazer e quais são as redes de contacto. Houve um documentário incrível feito no ano passado com o qual identifiquei-me imenso, porque foi o que nós passámos na nossa tour, falava de todas as promotoras de norte a sul, de como elas intercomunicam, como pegam em bandas e do nada metem a tocar em todos os cantos do país. Tive pena também da saída do Nuno Artur Silva. Acho que é necessário mais.

MDX – Vocês têm aqui uma t-shirt dos Onda Choc. Existe na vossa banda em termos musicais uma certa nostalgia do que se passou nos anos 80 e 90?

Miguel Nunes – É uma questão mais pessoal, o José diz que não, eu se calhar digo um bocadinho, o António diz que sim.

Afonso Homem de Matos – Os Onda Choc são o único ponto em comum na banda.

António Vieira – A mim e ao Miguel um dos guitarristas que nos pôs a tocar foi o Johnny Marr.

MDX – Quem é que acham que vai vencer o campeonato do mundo de futebol deste ano?

António Vieira – Eu acho que é o Bruno de Carvalho.

Afonso Homem de Matos – Há dois anos nunca diria Portugal e ganhou. Aposto em Marrocos. O nosso grupo é brutal, é voltar não sei quantos séculos para trás, Portugal, Espanha e Marrocos.

MDX – Como será a digressão de promoção de “II”? Quais as datas que já podem adiantar?

Afonso Homem de Matos – Não há muitas. Por agora só temos as de dia 1 e 2 de junho marcadas. Temos então dia 1 na Casa Independente que será o lançamento em Lisboa e dia 2 em Portalegre. Estamos a tentar marcar mais datas, não sei se durante ou depois do verão.

 

Entrevista – João Catarino
Fotografia – João Rebelo