Backstage

Entrevista com Johny Brown – The Band Of Holy Joy

Johny Brown figura central dos The Band Of Holy Joy, cantor, letrista, instrumentista e força motriz deste colectivo de post-punk, folk-rock e cabaret europeu de inspiração beat, falou com a Música em DX a propósito do novo disco de originais Funambulist We Love You, a compilação The Clouds That Break The Sky e a propósito dos concertos que a banda vai dar em Novembro em Lisboa e Porto.

Música em DX (MDX ) – Está a ser um grande ano de lançamentos para a The Band Of Holy Joy. Começou com a edição do EP Brutalism Begins at Home em Janeiro, foi feita depois uma espécie de ponte entre o passado com The Clouds That Break The Sky, uma compilação do material da Flim Flam e ainda o novo álbum Funambulist We Love You a sair já no final de Outubro. Estás excitado por trazerem novas canções para a estrada nestes próximos concertos pela Europa na Alemanha, Portugal e Reino Unido?

Johny Brown – Muito, muito excitado. Vamos fazer um set de canções de ambos os álbuns. Adoro tocar as canções mais antigas com esta encarnação da banda e tenho estado a acumular uma pilha de instrumentos da loja de velharias que irei “esmurrar” um pouco e assim trazer uma certa dissonância ao desenrolar das canções. Tenho realmente alguns tesouros tais como uma harmónica antiga, rádios de onda curta e o cowbell do Mike Kellie que ele próprio usou no álbum dos The Only Ones, Even Serpents Shine. Estou  na expectativa de ver qual o trabalho visual que a Inga irá fazer para o Clouds That Break The Sky.

MDX – O novo álbum Funambulist We Love You estará cá fora no dia 27 de Outubro. O que podem os ouvintes esperar em contraste com as edições mais recentes da banda? Vocês deixam transparecer sempre algum cuidado em não se repetirem. Fala-me de algumas das tuas canções favoritas e sobre este disco o que pode a audiência esperar?

Johny Brown – Funambulist We Love You é um disco muito directo e querido para nós, quase sentimental. A minha faixa favorita é “To Leave Or Remain”, é como uma espécie de vago e simples acontecimento politico que está fora do meu controle ou como um arrufo de namorados que não se esquece. De qualquer forma, hoje, é a minha canção favorita do álbum. Também gosto muito da canção “A Connecting Ticket” porque fala do acto de escapar ao aborrecimento do trabalho, e isso é algo que me diz muito de momento.

MDX – Olhando para trás para o vosso inicio e até depois para os anos da Rough Trade, em comparação com os dias de hoje qual o vosso espirito e  orientação ao fazer um novo álbum, e de que forma as coisa mudaram no que diz respeito a ensaios de pré-produção, gravação, mistura e marketing até terem o produto final? está mais fácil ou mais difícil fazer música?

Johny Brown – Ambos. Os anos na Rough Trade foram marcados por estúdios de grande orçamento, produtores e uma banda que não estava confortável na sua própria pele e talvez por isso não tão proficiente com os seus instrumentos. Nesta altura, já não há orçamento, já não há estúdios de topo e também não há nenhum produtor famoso mas estamos muito confortáveis na nossa pele, conseguimos tocar os nossos instrumentos rapidamente e bem, essencialmente gravámos nos Bark Studios com o Brian O’Shaughnessy, gosto muito do agora.

MDX – The Cloud That Break The Sky editada este ano, é uma nova compilação que nos leva de volta ao período do álbum More Tales from The City (1987) complementando essa altura com fantásticas versões de estúdio alternativas e versões ao vivo de algumas das canções, está muito bom. Com o novo disco de originais a sair, o foco nos próximos concertos ao vivo estará nestas duas edições? Uma ponte entre o principio e o agora?

Johny Brown – Sim, absolutamente. Iremos tocar canções  apenas dessas duas edições, dois diferentes sets no concerto, duas diferentes abordagens.

MDX – Ouvindo uma canção como “Isn´t that Just a life” (The Land Of Holy Joy, 2015) consegue-se imaginar entrares com as letras e a melodia como ideia inicial numa sala de ensaios. Escreves acerca da vida no dia-a-dia e essa é a tua inspiração ou simplesmente transformas essas letras e melodias em canções com o resto da banda? até que ponto a criação das letras é um processo de grupo?

Johny Brown – As letras são cem por cento minhas, a música e os arranjos são maioritariamente do meu parceiro de escrita o James Stephen Fin, embora o resto da banda contribua. No caso da canção “Isn´t That Just A life” o Mark Beazley fez a música. Costumo ir para a sala de ensaio com imensas notas e versos e depois trabalho em torno de uma melodia ou de um riff e a banda constrói as coisas a partir daí.

MDX – Vives em Londres há algum tempo, no entanto sente-se uma certa inspiração mais rural. Ouvindo músicas anteriores como “And Then The Real Thing Comes Along” ou “Oh What a Thing This Heart of Men” fica-se com esse sentimento.

Johny Brown – Absolutamente Pedro. Especificamente nos álbuns The North Is Another Land e How To Kill A Butterfly, o terreno era um Norte imaginário inspirado em viagens de campo para o norte da Inglaterra, Outlandia e os Estados Bálticos. Estava a tentar conjurar um sentimento de beleza no isolamento,  cortando com  a estática irritante da vida moderna para encontrar a verdadeira natureza das coisas uma vez mais. São álbuns anti-antropocênicos anteriores.

MDX – The Band of Holy Joy é uma banda de “vida real” na sua essência?  Nunca pareces tomar o caminho de cantar sobre fadas ou dragões como um exemplo extremo oposto. Vocês inspiram-se no dia-a-dia com todo o seu drama e poesia? o facto de estares ligado ao teatro, até que ponto e o quanto é que  isso influencia a tua abordagem, mesmo no palco?

Johny Brown – Nós somos a vida real, os nossos mitos são mitos modernos, vivemos da música pop e da arte urbana, das viagens no campo e das notícias falsas, dos acontecimentos beat, dos momentos de rock primitivo, do rock de garagem dos anos sessenta, da chance e do ruído digital. Nós apreciamos um mau conto de fadas, no entanto tem é que ser mau, muito mau, como Donald Trump ou Theresa May, muito mau. O material teatral que eu faço não tem influência sobre a The Band of Holy Joy, mas o nosso conteúdo visual projetado ao cuidado da Inga adiciona outra dimensão à banda, uma dimensão emocional extra.

MDX – Como é que sentes que a tecnologia tem sido para o músico e para o consumidor em geral? Achas que  o digital será o melhor arquivo final para as tuas músicas? alguns dizem que mesmo o CD não é fiável e não dura para sempre. Como Dj de rádio o domínio digital é mais simples e melhor? E como músico?

Johny Brown – Eu gosto de tudo e uso de tudo em todos os formatos. Ao mesmo tempo odeio coisas como o Spotify e o modo como os músicos são tratados e as coisas acontecem tão rápido que não entendo… mas ainda assim estou feliz em usá-lo… é a morte da música como a conhecemos e o início da música como as outras pessoas a irão conhecer, é a vida, como é e como deve ser, é muito provável que o meu tempo esteja a acabar, consigo manter a minha guitarra, o meu amplificador e os três acordes com os quais comecei e estou mais do que feliz com isso, espero nunca ser impedido de juntar palavras e acordes.

MDX – Alguns podem não saber, mas tens um programa de rádio faz algum tempo, fala-me sobre sobre Bad Punk e de como aconteceu?

Johny Brown – Ah, nós amamos o nosso programa de rádio, todas as noites de sexta-feira em www.resonancefm.com e é apenas o outro lado da banda. Conseguimos tocar todos os nossos artistas favoritos como o Sun Ra e coisas como African Funk, Ethiopian Jazz, Sixties Garage, etc., e misturar tudo numa excelente base  de ruído e  ao mesmo tempo também levar escritores, prostitutas e atores, a recitarem poesia beat em cima de tudo isso. Uma hora dessa loucura, parece ser muito auto indulgente, e é, mas é uma loucura com sentido e funciona muito bem. Bad Punk, todas as sextas-feiras.

MDX – Que bandas ou artistas é que te excitam mais hoje em dia? Consideras-te um músico indie que luta para atrair a atenção para algumas músicas excelentes?

Johny Brown – Estou a ouvir o novo álbum de Peter Hamill, From The Trees, mas também os novos álbuns de Gagarin e Spaceheads que eu amo. Mantenho a fé num certo tipo de indie, como The Bitter Springs, The Gist e Subway Sect e uma banda jovem chamada The Galloways. Eu tenho Duke Ellington, Alice Cooper, Todd Rundgren e Art Blakey no meu iPod. E também um álbum estranho que alguém fez de músicas Bowie fundidas com dub reggae, não deveria funcionar, mas funciona. Vi o Gas tocar na semana passada para duas mil pessoas e foi bom, algumas noites depois vi em Iklectic um projecto de noise alemão actuar para apenas  vinte e foi excitante, o gajo chamava-se  Machinefabriek, noise puro e belo. Ainda estou entusiasmado por todos os tipos de música e gosto de  concertos que sejam  estranhos e “fodidos” antes de mais. Oh, e Angel Olsen, Madame e Lana Del Ray estiveram nas minhas audições no verão, mas agora é outono, as coisas mudaram, os Médicos da Loucura estão de volta.

MDX – Há um certo revival a acontecer atento e fresco com muitos ouvintes atraídos para álbuns como Manic, Magic, Majestic (1989). Consideras o motivo de tal interesse em artistas e bandas desse período, que pareciam ter mais a dizer (antes que todo o grunge rock da América e o Britpop tomasse a rádio na década de 90) e que de repente careceram de suporte das editoras e da rádio. Consideras que uma Label ou uma rádio continuam com o mesmo vinculo de outrora para produzir ou encontrar música nova? É o retorno da música com a alma novamente?

Johny Brown – Não sei, mas espero que sim. Eu nunca gostei do grunge ou da Britpop. Tragam de volta Gracie Field, Noel Coward, Morton Valence e Les Negresse Vertes.

MDX – Os concertos da The Band Of Holly Joy em Portugal serão no Sabotage em Lisboa a 3 de Novembro e no Cave 45 no Porto a 4 de Novembro . Aceitam pedidos de músicas? É extenso o novelo de músicas que se podem desejar ouvir… o que se pode esperar a nível do alinhamento das canções?

Johny Brown – Podemos trocar músicas por garrafas de vinho verde fresco, mas apenas se as músicas forem do Funambulist We Love You ou Clouds That Break The Sky.

MDX – Muito obrigado pela entrevista, Johny alguma palavra mais para os fãs portugueses?

Johny Brown – Espero que estejam todos bem e a salvo dos incêndios florestais, o vento carregou as cinzas sobre o mar até Londres e transformou o nosso céu num amarelo sobrenatural. A vossa prece também, por favor, para o grande  gentil, ternurento e misantrópico poeta cómico irlandês Sean Hughes, que morreu vitima de uma cirrose no fígado demasiado jovem com a idade de 51 anos, era um bom amigo e também um fã de Holy Joy. Contudo, e mais do que tudo isso estamos ansiosos por tocar e estar convosco em breve no Sabotage e no Cave 45.

Entrevista – Pedro Corte Real