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SonicBlast Moledo’17 Dia 12, Um mergulho no Universo

Em Moledo o dia de sábado amanheceu radioso. Os concertos da noite anterior dominavam todas as conversas e a expectativa para o segundo dia era elevada e dominada em grande parte pela estreia dos Colour Haze por cá. Pelas ruas e praia de Moledo podíamos encontrar muitas das caras com que nos cruzáramos na tarde e na noite anterior. Muitos houve que partiram directamente da praia, de toalha ao ombro, rua acima, rumo à piscina. Outros houve que ficaram pela praia um pouco mais.

Notava-se que o movimento de pessoas era maior, mas ao mesmo tempo também mais fluido. Aquele pico de adrenalina da chegada que se deu ao final da tarde de sexta havia acalmado e as mais de 12 horas de música do dia anterior já haviam saciado alguma da fome e ansiedade de muitos.

Ambiente

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A tarde na piscina desta vez iniciava-se com os portugueses Ana Paris e o seu rock musculado com um travo forte a um stonner de nota agressiva, mas inspirada. À medida que desfilaram o seu repertório a zona à frente do palco compôs-se um pouco mais, mas a prestação destes merecia mais público.

Seguiu-se aquela que terá sido uma das bandas mais acarinhadas pelo público e uma das maiores surpresas desta edição do SonicBlast. A energia e a entrega com que tocaram soava bem alto mesmo fora do recinto e muitos foram os que vieram em passo mais rápido curiosos com os riffs explosivos que ecoavam agora por Moledo.

Os Vinnum Sabbathi oriundos da Cidade do México trouxeram o seu mais recente registo, o álbum Gravity Works que viu a luz no início deste ano, mas tem muito mais que isso para oferecer pois já contam com alguns Ep’s e colaborações, como por exemplo o split Fuzzonaut em parceria com os Bar de Monjas. Talvez pela relação idade/qualidade/distância, o público vibrou e de que maneira com o concerto destes rapazes que atravessaram o atlântico para inundar Moledo com os seus poderosos riffs carregados de um fuzz negro e pesado.

Vinnum Sabathi

fotos na galeria SonicBlast Moledo 2017 Dia 12 Vinnum Sabbathi

Depois de toda esta comoção e espanto o palco foi tomado de assalto pelos portugueses Löbo. Os Löbo que regressaram no ano transacto aos palcos depois de alguns anos de hiato, amadureceram o seu lado mais negro e introspectivo. A sua sonoridade que se assemelha a um segredo do Apocalipse mergulhou o público num estado introspectivo ao mesmo tempo que nos imobiliza com o seu peso.

Löbo

fotos na galeria SonicBlast Moledo 2017 Dia 12 Löbo

Depois do eclipse proporcionado pelos Löbo, coube aos Blaak Heat com origens nos dois lados do Atlântico, o regresso das trevas, e, como se emergíssemos de um longo mergulho negro, os Blaak Heat guiaram-nos em direcção às exóticas paisagens do médio oriente.

Um concerto carregado de exotismo, cheios de riffs pesados mas serpenteantes, com o vocalista e guitarrista Thomas Mellier a protagonizar um momento quase mágico a tocar Oud sentado em palco, ou em músicas como Anatolia ou The Approach to Al-Mu’tasim a levar-nos por um psicadelismo denso e sumarento, preenchido de tons quentes através da paisagem estival de Moledo. Aqui se abrem novos horizontes na paisagem do psicadelismo, nesta mistura exótica e inesperada que oferece uma certa nota cosmopolita à tarde de sábado.

Blaak Heat

fotos na galeria SonicBlast Moledo 2017 Dia 12 Blaak Heat

Os Toxic Shock eram a wildcard do festival. Havia muita curiosidade em ver como público reagiria à descarga de adrenalina que normalmente provocam. Principalmente por ser o palco piscina e por ainda estarmos a meio da tarde. Quando entraram em palco percebeu-se imediatamente que vinham decididos a não deixar pedra sobre pedra… O vocalista de fato de banho colete e boné parecia ser a única pessoa no local com a indumentária certa.

Durante mais de meia hora provocaram, incitaram, encheram o palco de público para stagediving, conseguiram criar um mosh pit digno de qualquer concerto trasher, e protagonizaram um dos momentos mais memoráveis quando o vocalista sobe a estrutura do palco e se atira para a piscina. Todas as peças se encaixam concerto a concerto na medida em que a organização soube captar a essência de cada banda de forma a colocar cada uma delas no momento e local certo para poderem dar o melhor de si.

Toxic Shock

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Com a adrenalina no pico mais alto que se poderia atingir numa tarde de calor, parecia que não haver muito mais a fazer, mas coube ainda aos Death Alley, oriundos de Amesterdão, o encerramento do palco da piscina. Com quase todos os espaços do recinto cheios pudemos ver bastante gente a aproveitar mais esta descarga de adrenalina e outros tantos a dar os últimos mergulhos na piscina, num momento em que o recinto se tornava demasiado pequeno para comportar todo o público que ali acorria. Ainda assim conseguimos assistir a alguns momentos e os Death Alley cumpriram com o que deles se esperava.

Death Alley

fotos na galeria SonicBlast Moledo 2017 Dia 12 Death Alley

É no trânsito entre concertos que se reencontram muitas pessoas. As pausas entre concertos que nos permitem respirar e conversar são algo que deveria talvez ser mais valorizado e que aqui faz todo o sentido. O facto de existir um palco apenas em actividade permite por um lado manter sempre uma atmosfera bastante bem preenchida e por outro um público desperto e atento ao invés de disperso e cansado, pois os cerca de 15 minutos entre concertos permitem-nos respirar e trocar impressões, beber ou comer qualquer coisa sem a sensação de que estamos a perder algo que queríamos ver ou que tínhamos curiosidade em desvendar.

Nestas pausas encontra-se a beleza de todo o sítio e do ambiente proporcionado… Vários músicos à conversa nas bancas de merchandising, outros tantos à porta do press center a passar tão despercebidos como qualquer outro e a desfrutar de tudo o que o local nos pode oferecer.

Acabada a tarde e ainda não refeitos da surpresa dos Vinnum Sabatthi e do mergulho do vocalista dos Toxic Shock, foi hora de encontrar novas forças na zona de refeições enquanto mesmo ao lado ouvíamos o desenrolar do concerto dos Sasquatch, do qual conseguimos apenas ver o final, mas que pareceu corresponder por inteiro às expectativas dos que assistiram.

Sasquatch

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Com o sol já numa acentuada curva descendente assistimos com alguma emoção ao reencontro dos The Machine com o público do SonicBlast. Outra banda que levou alguns minutos a encontrar-se com o público, mas depois do morno início soube manter-se no caminho e terminou de forma épica o ansiado reencontro.

The Machine

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Foi aos Acid King que couberam de facto os últimos raios de sol numa noite cheia de veteranos sem nada a provar e a darem tudo para um público que ali estava de facto para os ver e ouvir, e não apenas para a fotografia. Uma banda com raízes no ínicio do stonner mais cru, liderada por uma mulher dura, que abraça a música que cria com uma espectacularidade quase tenebrosa. Assim foi o concerto dos Acid King, enquanto o sol desaparecia no horizonte e o nome da banda surgia cada vez mais em tons de fogo no fundo do palco, duro e intenso. Especialmente à frente do palco, onde Lori S. incendiava tudo e todos.

Acid King

fotos na galeria SonicBlast Moledo 2017 Dia 12 Acid King

Momentos imediatamente antes da entrada dos Colour Haze em palco ter-se-á dado a maior enchente do recinto. Aquela pequena dispersão que existiu sempre cessou quase por completo. A larga maioria dos que se encontravam no recinto estava agora num outro plano da existência a aguardar. A expectativa era quase palpável.

Os Colour Haze com a sua longa discografia, apresentam-se pela primeira vez em Portugal e aos primeiros acordes da viagem que haviam programado para o SonicBlast percebeu-se de imediato que era este o momento que iria marcar a edição deste ano. Ofereceram-nos o universo condensado, desconstruíram-no até ao big bang primordial, para logo voltarem a unir todas as peças do intrincado e misterioso desígnio que os mantém no activo há mais de duas décadas e desmistificaram os seus próprios mitos, roubando-nos o fôlego e a terra debaixo dos nossos pés, lançando-nos no espaço sideral, numa espiral rítmica, lânguida, mostrando o lado mais groove do prog e do psicadélico, colorindo as suas músicas de uma sensualidade completamente inesperada e impossível de não acompanhar com o corpo inteiro. Apesar de ter sido um dos concertos mais longos do festival soube a pouco, a muito pouco.

Colour Haze

fotos na galeria SonicBlast Moledo 2017 Dia 12 Colour Haze

Para nos libertar da letargia quase messiânica em que os Colour Haze nos haviam mergulhado surgiam em palco perto das 00.30 os britânicos Orange Goblin que perguntam de imediato: Who want’s a heavy metal party??? E foi isso mesmo que fizeram. Uma fabulosa festa com um ritmo elevado a mostrar porque é que andam na estrada e a fazer discos há mais 20 anos: porque gostam do que fazem e fazem-no como ninguém. Um espectáculo demolidor incapaz de deixar quem quer que seja indiferente. Poderia ter sido o final em festa do SonicBlast, cheio de riffs demolidores e palavras de ordem, forte e carregado de uma energia positiva e libertadora.

Orange Goblin

fotos na galeria SonicBlast Moledo 2017 Dia 12 Orange Goblin

No entanto foram os Dead Witches que encerraram o festival, ao som de um doom vibrante e à vista de uma Virginia Monti em transe, pronta para exorcizar todas e quaisquer energias que ainda nos restassem. Dispostos a ser o último elo de ligação entre cada um de nós com o nosso lado mais sombrio, embrenharam-nos no misticismo e no transe de Virginia Monti e apresentaram as músicas do seu registo, sugestivamente intitulado Ouija. Um concerto visual e demolidor.

Dead Witches

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Depois de 24 concertos, muitos foram respirar e recuperar fôlego na praia de Moledo, debaixo das estrelas que de vez em quando pareciam cair. De repente acabou e foi tão rápido…alguns grupos caminham encosta abaixo em silêncio, outros em amena cavaqueira, outros procuram onde continuar a noite. Na verdade não acabou. A sétima edição do SonicBlast que tivemos o prazer de viver por inteiro mostrou que o SonicBlast é maior que tudo isto e veio para ficar.

Aconselhamos esta viagem a todos os que se identifiquem com as sonoridades que o SonicBlast tem trazido até nós. Muitos vieram de longe, muitos não são portugueses, mas tem em comum a música.

Para ir ao SonicBlast, um festival que possui uma identidade bem delineada, embora o seu espectro abrace muitas variações, há que querer ouvir, há que querer ouvir e sentir. Há que querer estar naquele sitio naquele momento a ouvir aquelas bandas que conhecemos e abertos à experiência do desconhecido. E é isso que acontece em Moledo. Existe convívio e tudo mais mas quem lá vai quer ouvir as bandas. Não se perde muito tempo, nem se ocupa muito espaço a tirar fotos a tudo o que se mexe. Na realidade quem ali está, está mesmo ali a viver aquele momento a deixar-se arrebatar por cada banda que pisa o palco a desfrutar de todo o ambiente e espaço privilegiado. Terminou, e em nós está semeada a curiosidade de saber o que se irá seguir.

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Texto – Isabel Maria
Fotografia – Daniel Jesus
Evento – Sonic Blast Moledo 2017