Concertos Reportagens

Cock Robin, O desencanto camuflado de ritmo

Por vezes devíamos deixar de tentar procurar sentir as coisas como as sentimos no passado. Por vezes os artistas deviam saber quando parar. Mas o risco é isso mesmo! A possibilidade de ver expectativas frustradas e a necessidade audaz de chamar à atenção de alguém para que não continue o que está a fazer.

Cock Robin são um marco. Um marco do auge dos anos 80, independentemente de nos identificarmos ou não com a música dessa época. A verdade é que procurei neste concerto reviver a nostalgia da adolescência e sentir uma ligação que não existiu.

O momento aconteceu na passada quinta-feira, dia 9 de Março entre as paredes do voluptuoso Coliseu dos Recreios onde Peter Kingsbery mostrou que ainda está com força, mas não com força suficiente para criar momentos mágicos.

20170309 - Concerto - Cock Robin @ Coliseu dos Recreios

O relembrar do passado e a euforia existente na meia dúzia de canções que traz a toda a gente um suave sorriso nostálgico não foram suficientes para fazer com que as quase 2h de concerto tivessem valido a pena. Apesar de o público, a sua maioria na faixa etária dos “entas”, se mostrar com ar expectante e algo eufórico, cedo se perdeu aquilo que poderia ser um elo de ligação: a partilha.

Em cima daquele palco, assistiu-se a um simples debitar de músicas sem qualquer tipo de emoção ou ligação com as pessoas que ansiavam por aquele momento. Por consequência, do lado das cadeiras, o entusiasmo também se foi perdendo. Acresce ao desalento, o facto de se notarem os anos na voz de Peter e, principalmente, na sua garra. Diante de nós parecia que tudo estava a ser feito de forma mecânica e robotizada e sem qualquer tipo de entusiasmo.

20170309 - Concerto - Cock Robin @ Coliseu dos Recreios

Cock Robin revisitaram todos os seus álbuns e apresentaram “Portrait”, “Chinese Driver” e “Quicksand” do último álbum lançado no ano passado – Chinese Driver. Escusado será dizer que os pontos altos da noite aconteceram com “When Your Heart Is Weak”, “Just Around The Corner”, “Though You Were On My Side” e “The Promise You Made”, não por serem as músicas que toda a gente conhece, mas por, pelo menos, trazerem memórias com elas. Pelo meio do concerto, houve uma tentativa de apelar à emoção com a introdução de quatro canções em formato acústico e, ainda, da voz da sua filha em “Chinese Drive”. No entanto, a emoção deu lugar à perda de atenção e teve o efeito inverso.

Alguns marcos devem ser, apenas, relembrados mantendo-se estacionados no passado. A arte de saber parar é um dos melhores actos de consciência que um artista pode ter. A técnica musical não é tudo e, por vezes, é melhor o sujo, o cru e o grão desde que tudo se transforme em química. Química essa que Peter não conseguiu criar e, ainda menos, transparecer.

 

Texto – Eliana Berto
Fotografia – Luis Sousa
Promotor – Senhores do Ar