Backstage

Riding Pânico – “E é isto, não somos de grandes conceitos, é a música pela música.”

Depois de Lady Cobra e Homem Elefante, os Riding Pânico preparam-se para lançar o seu terceiro álbum: Rabo de Cavalo. Nunca parecem estreitamente ligados a mensagens subjacentes, mas animais são denominadores comuns aos seus três trabalhos. Conhecidos por terem oferecido alguns dos concertos mais épicos dos últimos anos, a banda Lisboeta abre as portas da HAUS à Música em DX para trocar dois dedos de conversa sobre este novo álbum.

Música em DX – Os Riding Pânico gravaram Lady Cobra em 2008 e Homem Elefante em 2013. Que vos levou a gravar Rabo de Cavalo neste momento?

Fábio Jevelim – Já tinham passado alguns anos desde Homem Elefante… bem, começando pelo início, na verdade começamos a gravar o álbum em 2015 e terminamos umas duas ou três músicas. Depois voltamos ao estúdio no ano passado, concluímos este ano o álbum e vamos lança-lo agora. O que nos levou a gravar? Basicamente estávamos fartos de tocar as músicas antigas e conseguimo-nos organizar para fazer este novo álbum (risos). Foi, principalmente, isto.

MDX – Ao ouvirem os álbuns anteriores, que diferenças encontram relativamente ao novo trabalho?

João Nogueira – Este é um disco diferente dos anteriores. Diferencia-se bastante dos outros, aliás, logo no processo de gravação. Os anteriores foram feitos em sala de ensaios, este foi praticamente todo composto no estúdio. Juntando a isto, a nível de sonoridade todos evoluímos, as nossas influências são outras e isso tem uma influência directa no produto final. Exploramos outros sons, temos outras pessoas na banda. As diferenças principais são estas, tiveram bastante reflexo no trabalho final.

MDX – Existiu um processo criativo definido? Ou estão-se simplesmente a cagar e quando surgir uma malha, surgiu?

João Nogueira – Este disco teve uma influência muito grande aqui do Fábio [Jevelim], que teve bué ideias, o que levou a que grande parte das músicas surgissem de propostas dele. O disco foi-se construindo à volta dessa base, foi por aí que cresceu. Mas não pensamos em grandes conceitos, quando pensamos em fazer um álbum pensamos em juntarmo-nos todos e basicamente tocar o que nos apetece. Nunca temos nome das músicas ou dos álbum definidos, aliás, tanto as nossas músicas como os nomes dos álbuns surgem sempre depois das músicas estarem todas feitas. E é isto, não somos de grandes conceitos, é a música pela música.

MDX – Os Riding Pânico não me parecem muito metafísicos. Não são daquelas bandas tipo Radiohead que cada nome, cada cor, esconde uma mensagem. O nome Rabo de Cavalo traz algum significado?

João Nogueira – Tem e não tem. É verdade que não somos muito de mensagens, e já estávamos a apontar para outro nome, até que Rabo De Cavalo surgiu de uma brincadeira numa noite de copos. Tem alguma piada o álbum ter o nome de mais um animal, no seguimento dos trabalhos anteriores. Gostamos e ficou.

MDX – Tendencialmente, são muito auto-críticos?

Fábio Jevelim – Qualquer pessoa que faz música tende a ser autocrítica, mas essa crítica surge mais um ano depois do que no momento do lançamento. Depois de o álbum estar cá fora começas a ouvi-lo muitas vezes e pensas: ei, se calhar fazia isto de outra forma. Mas esse é o processo normal em todos os processos artísticos, mesmo quando temos aqui [Haus] outras bandas, passado algum tempo já mudávamos alguma coisa. Mas sim, somos sempre autocríticos dentro da banda, todos sugerimos coisas uns aos outros, todos tentam aperfeiçoar coisas uns aos outros, mas sempre de uma forma mesmo bué descontraída.

MDX – Curtem mais o processo criativo ou de exposição da vossa música?

João Nogueira – Gostei de criar. Eu nunca tinha tido esta experiência da forma que gravamos este disco, o compor em estúdio, e curti bué. Todos os outros trabalhos foram sempre dias e dias em salas de ensaio, gostei deste processo. Mas depois também gosto de andar aí na estrada, já nos conhecemos há imenso tempo e é sempre porreiro.

Fábio Jevelim – Eu prefiro criar, tocar ao vivo é uma enorme fobia social para mim. Sou bem mais de estúdio.

Miguel Abelaira – Eu gosto mais de tocar, gosto quando as cenas já estão feitas. Gravar não me puxa tanto porque eu só consigo começar a gostar das músicas passado algum tempo, por isso gravar não é cena que mais curto. Correu bem por acaso, gosto mais de pensar nas cenas, mas ficou fixe.

MDX – Vocês são frequentemente descritos como “a malta dos Paus ou dos Quelle Dead Gazelle”. Nunca se aborreceram por muitas vezes não serem definidos pela vossa música, mas pelas bandas que pertencem, especialmente quando Riding Pânico já existe há mais tempo?

Fábio Jevelim – Por acaso não, é verdade que Riding Pânico já existe há mais tempo que as outras bandas, mas isso acontece e acho que até é fixe. Define cada pessoa e além disso vê o meu caso, toco em Paus mas faço cenas totalmente diferentes em Riding Pânico, o que define um bocado a banda e reconhece também o teu trabalho geral. Associas os nomes de umas bandas às outras – todas dentro de uma cena que não sei se posso chamar alternativa – e é fixe deixar esse cunho.

MDX – A questão vai também no sentido de muitas vezes a banda não ser conhecida pela música que faz.

João Nogueira – Pensamos nisso claro, mas até pode ser fixe. A malta que conhece as nossas outras bandas e curtem, chegam muitas vezes até nós através daí. Do género: os tipos de Quelle Dead Gazelle ou os tipos de Paus têm outra banda, deixa lá ouvir. E até pode ser fixe para nós e para essas pessoas.

MDX – Como assistem à nova vaga da música Portuguesa? Alguma banda que tenham curtido especialmente nos últimos tempos?

Fábio Jevelim – Têm surgido muitas coisas, na minha opinião umas mais fixes, outras menos interessantes. Mas a música é uma cena tão subjectiva. Posso achar uma banda excelente, mas continua a ser apenas a minha opinião. Acho fixe é na música portuguesa estar constantemente a acontecer coisas novas, que é uma coisa que só se tornou possível depois da internet, basicamente. As bandas mais pequenas, e sem editora, começaram a chegar ao público. Começou-se também a criar públicos diferentes dentro da cena Rock, deixou de ser apenas a cena Mainstream. Acho bem as bandas aparecerem, seja em que formato for, mesmo que não goste. Mas há muitas coisas a aparecerem que curto bué, como Galgo, como os Quelle Gazelle, os Marvel Lima. Andam aí cenas interessantes. Tens também o Iguana Garcia, que está para ser lançado, tens imensas cenas porreiras a acontecer. Depois tens outras menos interessantes para mim mas que apanham um certo público, pelo que é fixe acontecerem.

MDX – Tocaram em todas as edições do Milhões de Festa. De onde surgiu a vossa ligação com aquele festival?

João Nogueira – Surgiu com o Fua [Joaquim Durães]. Sempre nos demos bem com ele, fizemos uns concertos com ele, e quando tocamos no primeiro Milhões de Festa falamos no fim do concerto, já bem regados, e surgiu essa ideia. Foi tipo um acordo de cavalheiros. Não é muito comum tocar em todas as edições de um festival, os Shellac no Primavera Sound são um dos poucos exemplos. Foi uma brincadeira que ficou, e ainda bem.

MDX – A nível de concertos, querem avançar com os que têm marcados para breve?

Fabio Jevelim – Estamos muito concentrados no Concerto do MusicBox, dia 16 de Março, que a entrada é disco-bilhete, quem for ao concerto fica com o álbum. Achamos que vai ser muito fixe. Futuramente iremos começar a divulgar as restantes datas marcadas.

Entrevista – Tiago Pinho
Fotografia – Nuno Cruz