Formação académica na balança da justiça, mas de Direito só o diploma. André Barros entrou nos trinta com uma mão cheia de composições musicais, criadas para argumentos cinematográficos.
Dois álbuns editados pela Omnichord Records, compilação de temas originais (“Circustances”) e de algumas bandas sonoras (“Soundtracks Vol. I”). A ausência de formação musical não o demoveu de exercitar os dedos e aprender a tocar piano de cauda, e tentar um estágio no estúdio dos Sigur Rós na Islândia. A resiliência e persistência são duas virtudes que o acompanham, e é por elas que consegue viver da composição de bandas sonoras para realizadores que reconhecem a sua criatividade e sensibilidade. Foi um gosto ouvir e conversar com o André Barros no Bons Sons.
Música em DX (MDX) – Quando foi que deu o “click” da música, nomeadamente a paixão pelo piano?
André Barros (AB) – Foi no dia em que experimentei tocar piano de cauda, que era de uma amiga. Consegui decorar a posição das teclas de um dos temas da banda sonora de Amélie, do compositor Yann Tiersen. E como tinham progressões harmónicas semelhantes foi relativamente simples para mim tocar depois no piano! A partir daí comprei um piano digital, e comecei a compor temas. Nesse periodo de tempo (2003/2008) ainda trabalhei na Caixa Geral de Depósitos (licenciei-me em Direito) (risos).
MDX – Neste momento tens dois CD’s editados, um que é a compilação de bandas sonoras (“Soundtracks Vol. I”) e o outro anterior com temas dispersos. Como os caracterizas, o que os distancia?
AB – O 1º CD tinha temas avulso (muitos produzidos durante o meu curso de Produção Musical na Etic, 2010/12) e editámos a compilação desses temas. O 2º, foi em 2014 e é o Vol. I de uma compilação de bandas sonoras que compus durante o ano anterior.
MDX – Compor músicas para um guião, ou seja para uma história que não é a tua. Em que tentas visualizar musicalmente esses momentos, é substancialmente diferente de compor as “tuas histórias”. Quais são as diferenças, enquanto estás a compor?
AB – São dois processos muito diferentes, mas no entanto são muito idênticos na criatividade. No caso dos filmes pode ser o guião ou as 1as imagens. Normalmente componho o tema principal e vamos afinando o som. Vou compondo à volta do tema para se adequar ao resto do filme. É adequar o tema ao ajuste do tempo, como não penso nos acordes (não tenho formação) vou adequando à história. A grande diferença é o trabalho de produção!
MDX – Fizeste algo insólito, de um tema teu surgiu um poema do escritor Valter Hugo Mãe, “Gambiarras”. A cumplicidade da Islândia facilitou o trabalho?
AB – Sim, conheci Valter Hugo Mãe numa livraria em Leiria no lançamento do seu livro “Desumanização”. Eu tive a oportunidade de estagiar 3 meses na Islândia, e o facto de termos estado os dois a viver lá facilitou o trabalho.
MDX – És um “fura vidas”, vais à procura do teu trabalho. Seja o estágio no estúdio dos Sigur Rós (na Islândia), a procura pesquisa constante de produtores e realizadores em pré-produção. Acreditas no teu trabalho e “vais à luta”!
AB – (Risos) Como nunca tive esta formação musical, não tenho as partituras e não conheço as regras. Tento ver o que está em pré-produção de realizadores que conheço e gosto, envio-lhes um email a propor o meu trabalho e eles respondem! Tem corrido muito bem. Estou em full-time na música a trabalhar para bandas sonoras.
MDX – E portugueses?
AB – Sim envio emails com a mesma abordagem, mas eles nem sequer me respondem… É bom dizer que o racio da resposta de emails é de 2 em 10 (risos)!
MDX – Fala-me um pouco do teu projecto “Melodium Project”.
AB – O Melodium Project são composições minhas para violoncelo a solo e, posteriormente coreografadas por uma bailarina. São interpretações de ballet clássico e contemporâneo.
MDX – Que planos tens neste momento? “Brisas de Outono” no próximo álbum?
AB – Sim, o último tema que tocámos há pouco é do próximo álbum. Será o 1º de originais com pré-produção propriamente dita e tem várias colaborações. Uma com o Rodrigo Leão, 3 temas com voz e 1 a quatro mãos! Em Outubro sairá o 1º single.
MDX – O frio manter-se-á no ritmo ou viramos para uma Primavera?
AB – O frio manter-se-á.
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Entrevista – Carla Sancho
Fotografia – Luis Sousa