Opinião Reviews

O Porto Seguro dos Insch

“E finalmente que me chegam as maravilhosas cordas da tua guitarra, mergulhadas na voz limpa das tuas angustias. O gingar de ombros do Miguel na pancada certeira na pele castanha da bateria. A rigidez séria do baixo, num olhar cabisbaixo envolto na barba aparada do Manel. “Safe Haven” é como aquelas mulheres que, sendo tão estrondosamente belas, mantém a singularidade da sua beleza mesmo com a queda de toda a sua pilosidade. Tenho vontade de chorar.”

Foi a mensagem que escrevi ao Tiago quando ouvi a primeira vez o novíssimo álbum, Safe Haven. Os Insch são uma espécie de bálsamo refrescante do grunge dos anos 90. Revitalização de um registo do rock que julgávamos adormecido nos estúdios de Seattle. Safe Haven é uma compilação de estórias que se foram integrando nos cenários das vidas de cada um deles, Tiago, Miguel e Manel.

“Profecia” do destino que quis que estes três “moços do oeste” se conhecessem nas ondas rebeldes da Ericeira. A construção de um Porto Seguro, num recobro de família, numa descoberta de que podem inovar na simplicidade do Rock’n roll. “Safe Haven” eleva-nos no minimalismo dos acordes que, quase em desespero da guitarra, gritam em contextos harmoniosos. O revivalismo do baixo, na grandiosidade da sua omnipresença em namoro com as baquetas ritmadas da bateria.

Os dez mandamentos (os 10 temas do álbum) levam as águas do rio no circuito natural e sem resistência ao outro lado, o do mar. “Komoberi” abre as hostes para 45 minutos de mergulho profundo no coral vivo. Ritmo repetido da bateria no baixo que conta segredos ao ouvido da guitarra, nos coros distorcidos que intercalam com as paragens para respirar, “WYCMN”. “Bring me back” o tema gingão, de acordes no refrão que entram para sarar as feridas e nos fazem lembrar que o Rock n’Roll é para dançar! “Springs Concrete”, o tema mais grunge de Safe Haven , pela distorção da guitarra (que sabe tão bem) e o arrojo do monocórdico.

Canções de amor com amor, em momentos de slow de anos 80, com sorrisos deliciosos de crianças, “It´s Yours”. Continuamos no registo de amor e dor, “Only the sadness brings me to you”, onde os violinos abraçam a guitarra numa relação simbiótica, quase perfeita – “Telesphorus”. Simplicidade nos registos e nos coros, que nos remetem definitivamente aos ritmos dos anos 90 e nos fazem sorrir, “These Lies”. Quando o conforto não nos apraz e a distância corrói a mente, o foco no caminho é desfocado no passo, “Home”. O barulho da agulha na marca certeira do vinil, rasgos cúmplices que se elevam até ao limite de um “Catchfire”. As baladas do rock deixam sempre aquele sabor agridoce nos ouvidos, uma mistura de valsa com guitarras estridentes. “Shine, goodbye” é uma balada dos Insch, que é uma coisa completamente diferente. O baixo arranca destemido e de peito cheio, sobrepondo-se na sua altivez à guitarra que o tenta perseguir. Caminha no despotismo da melodia, conseguindo quase até ao final a supremacia dos seus acordes. Deixa as últimas notas na companhia dos pratos irritadiços e mesmo no último suspiro a guitarra agradece-lhe. Magnifico.

Os Insch irão apresentar Safe Heaven dia 12 Maio no Espaço Timeout em Lisboa, os bilhetes podem ser adquiridos em http://ticketline.sapo.pt/evento/INSCH-SAFE-HAVEN-13766, e é uma recomendação Música em DX, considerado imperdível. O disco está também em pré-venda no itunes até à próxima 6ªfeira, dia 6 de Maio, data em que é lançado oficialmente nas plataformas digitais (clicar na imagem). No dia 13 de Maio, dia seguinte à apresentação ao vivo, é lançado oficialmente nas lojas físicas.

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Texto – Carla Sancho
Fotografia (capa) – Rodrigo Santos