Concertos Reportagens

Dollar Llama, o breu que ilumina

A mítica, generosa e companheira da música sala do Sabotage Rock Club recebeu mais uma grande noite. Para encerrar o mês da melhor maneira, no dia 30 de Janeiro, o menú continha apenas entrada e prato principal e a satisfação e saciedade predominaram nos canais auditivos de todos os que encheram e aqueceram a sala. Tratava-se de uma noite dedicada a bandas portuguesas onde compareceram My Master the Sun e Dollar Llama com a propensão a uma partilha de fortes energias.

Os My Master the Sun têm uma criação de estruturas fortes e pilares bem coesos. A construção é baseada em sons pesados, cobertos de um manto escuro e rendilhado com pontos grossos.

Defronte a uma sala cheia, durante cerca de 1h, os 4 senhores partilharam poesia tanto em forma falada como em forma instrumental. As faixas eram longas e vinham saturadas de conhecimento e maturidade. As letras, de intervenção, cruas e mórbidas tanto eram expulsadas em forma de berro como em composição melódica. Os instrumentos, seguiam todos pelo mesmo troço de estrada, caminhando de mãos dadas e com um único destino: uma floresta densa, pesada e atractiva.

Estes senhores conseguem construir algo único com base em vários estilos musicais como o sludge, que mistura o doom com o hardcore, e o heavy metal, explanado em alguns riffs existentes. Notam-se ainda pinceladas de Mão Morta.

Das 6 faixas tocadas, 4 pertencem ao novo álbum que será lançado ainda no primeiro semestre deste ano: “Assassimio”, “TV” “Arte da Desobediência” e “Cuspo”.

Os Dollar Llama tinham como objectivo gerar uma onda de caos e expulsão de demónios. Dão à luz um som forte, pesado e escuro e criam uma onda de desorganização e caos entre o público, que pouco tempo tardou a começar a gerar moche.

Já perto dos 14 anos de existência, não se podia esperar algo que não fosse sabedoria. As construções musicais criadas e desenvolvidas empurram-nos para forças destrutivas cobertas de um poder enérgico, contagiante e rebelde.

Ao longo de 1h de concerto foi criada bastante empatia com o público, que gritava e se empurrava continuamente. As faixas apresentadas eram curtas e vinham como que galope umas atrás das outras. Traziam também uma aura negra e cobriam-se de enérgicas dicotomias explosivas, que faziam com que o coração dos presentes bombeasse com mais rapidez que o normal.

Donos de um stoner rock potente que se entrelaça com um sludge agressivo, apresentam uma linha densa e compacta. O baixo é coeso e rebelde, como o seu próprio dono afirma ter sido na adolescência (“I was teenager fuck up”); as guitarras constroem riffs bem trabalhados e, por vezes, a roçar o heavy metal; na bateria mal se conseguem seguir as mãos de Pedro e a voz é tão forte e potente que arrepia.

Foi tocado quase por completo o último álbum da banda, lançado em Junho de 2015 – Grand Union – e foram dedicadas duas faixas: uma às bandas que tentam avançar – “Days of the Highwatt” e outra aos seguidores da banda – “Noisecreep”.

E assim se fez uma noite de hardcore com muito headbanging e satisfação.

Texto – Eliana Berto
Fotografia – Daniel Jesus