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Apocalyptica, a sinfonia do heavy metal que elevou as almas

Numa noite de início de semana, em que a chuva não dava tréguas, o Coliseu dos Recreios cobriu-se, quase na totalidade, de um manto negro para receber os Finlandeses Apocalyptica.

Era terça-feira, dia 3 de Novembro e os rostos dos presentes iluminavam-se com uma ansia e sede de metal.

À hora marcada, os Australianos TRACER abriram um caminho, muito bem traçado, para os reis da noite. Com uma energia fora do normal e cheios de vontade de ver cabeças a abanar, o elo de ligação com público não tardou a ficar forte: os 40 minutos de espetáculo foram marcados por inúmeros apelos à diversão e a saborear a boa música que se fazia em cima do palco.

Apenas uma guitarra, um baixo e uma bateria foram necessários para proporcionar um concerto cheio de tons de rock’n’roll que por vezes tinha umas pinceladas de riffs de heavy metal. A voz, dona de uma versatilidade extraordinária, dava-se a tudo: tanto ouvíamos arrastamentos de heavy, como voz grave de stoner rock como uma melodiosa voz de rock.

O objetivo era apresentar o novo álbum lançado em Julho deste ano – Water For Thirsty Dogs. Ouviram-se “We’re Only Animals” (música, segundo o vocalista Michael, sobre drogas, álcool e passar bons momentos), “Water For Thirsty Dogs”, “Astronaut/Juggernaut” e “Us Against The World” e, remetendo ao passado: “Too Much”, “Devil Ride”, entre outras.

A verdade é que os corações ficaram acelerados, fez-se magia e criou-se empatia. Confirma-se que da Austrália vem muito boa música.

 

Já com a ansiedade no expoente máximo, veem-se entrar três violoncelos em palco carregados por homens vestidos de preto de cabelos compridos, eram os Apocalyptica.

A pergunta “Are You Ready?” não precisava de resposta. O Coliseu não podia estar mais preparado para os receber e ouvir.

Do violoncelo espera-se uma melodia sensível, pura e cristalina. Nesta noite provou-se que em comunhão, aqueles três, faziam lembrar autênticas guitarras! Os riffs de heavy metal, marcadamente possantes e imponentes de todo o respeito que merecem, foram, certamente, causadores de muitas dores de pescoço no dia a seguir.

Em duas horas os corações abriram-se e as almas elevaram-se. Durante o espetáculo, o imaginário dos presentes foi guiado a várias dimensões e por diversos caminhos. Assistia-se a uma construção musical brutalmente coesa e densa. Os dois violoncelos com acordes de guitarras em união com o violoncelo pelo qual saiam notas de baixo, faziam um compasso que, ora alinhado ora desalinhado, nos oferecia o verdadeiro e puro heavy metal carregado de brutalidade. A bateria, por sua vez, gigante e coberta de tambores e pratos, com um ritmo veloz e pesado acelerou os corações que quase subiram à boca.

Franky Perez, a voz convidada para o novo álbum de Abril deste ano – Shadowmaker – , ia aparecendo ao longo do concerto para cantar melodicamente e com rouquidão as músicas onde participa e outras como “I’m Not Jesus” e “I Don’t Care”. Do novo álbum ouviram-se “Shadowmaker”, “Hole In My Soul”, “House Of Chains”, “Riot Lights” e “Dead Men’s Eyes”. De Metallica ouviu-se “Master Of Puppets”, “Seek & Destroy” e “One”, momentos arrepiantes em que a voz era o público a cantar em uníssono. De Sepultura ouviu-se “Inquisition Symphony” e “Refuse”.

O concerto era acompanhado por um pano de fundo de imagens ancestrais, vitrais de igrejas, capas de álbuns e cruzes de fogo. O jogo de luzes, ajudava à vibração da sala e ao sentimento explosivo que guiava o concerto. Um dos pontos altos seria a projeção da bandeira de Portugal e um violoncelo a tocar “A Portuguesa”, cantada com firmeza e convicção pelos presentes. Seria porque, na minha opinião, não fez qualquer sentido no enquadramento do concerto não sendo, assim, um ponto alto.

Sem darmos conta chegam ao fim duas horas de concerto com um encore de três músicas. Ficou o sentimento de ter passado diante de nós uma noite de heavy metal como há algum tempo não se via.

Texto – Eliana Berto
Fotografia – Rita Justino
Promotor – Everything is New