2015 Backstage Festivais Reportagens Reverence

Eu galgo, nós galgamos, eles galgam

O verão tem sido de sonho para eles. Andaram pelo Alive, foram dar um pulinho ao Sziget na Hungria e agora na próxima quinta vão dar um concerto no Reverence Valada. São os Galgo. Malta jovem de pés assentes no chão e com um EP à vista, foi sentados numa rodinha que conversámos, no meio do anfiteatro da Gulbenkian, sobre o presente, o passado e o futuro.

20150825 - Entrevista - Galgo @ Jardim Gulbenkian

Música em DX (MDX) – Conheci-vos no Alive. Como é que foi essa experiência?
Joana – Foi diferente. Nós não estávamos habituados a um palco tão grande, tanto espaço para nos mexermos. A ideia por detrás daquele espectáculo todo, que ninguém conhece.

MDX – E vocês também não conheciam bem o público. Vão apanhando de vários lados…
Joana – Por acaso tivemos sorte. Como nós somos de Lisboa, e temos muitos amigos cá, o pessoal foi puxando mais pessoas, e acabámos por ter um público com muitas pessoas que conhecíamos.

MDX – E agora vocês vão para o Reverence. Aí sim, já é um público que é da vossa onda.
Joana – Nem sei. Nós não conhecemos bem o festival.
Miguel – É um pouco difícil de dizer. Se calhar aproxima-se mais o público do que do Alive.
Alexandre – Se calhar encaixa-se melhor, dessa maneira. Também não conheço o Reverence nem bem as bandas que lá passam. Mas se calhar parece mais psicadélico. Algo que é mais a nossa cena.
Joana – Pode ser algo que o pessoal curta. É isso que a gente quer.

MDX – E vocês tiveram agora na Hungria. Que tal?
Miguel – Foi muito fixe. Foi a primeira vez que tocámos no estrangeiro.
Joana – O festival era muito grande. Tinha muitos palcos. E mais uma vez, nós não estamos habituados a esse tipo de palcos. Mas no dia anterior a tocarmos no festival, tocámos num barco, onde vão bandas porreiras, e foi uma experiência espectacular. Estavam lá imensos espanhóis e brasileiros que puxaram por nós.

MDX – Então o feedback foi positivo.
Todos – Sim.
Alexandre – O pessoal curtiu imenso.

MDX – E como é que vocês se conheceram? Falando agora daquelas perguntas clichés… E como é que formaram a banda?
Miguel – Secundário…
Alexandre – Eu já conhecia o Miguel, desde do 5º ano. Nessa altura não havia música, era futebol… Depois separámo-nos, fomos para diferentes escolas, conheci o [João] Figueiras e depois conheci a Joana e entretanto o Miguel foi para a nossa escola. Foi um pouco reencontro e tal… O Miguel era da turma dela, começaram a falar e não sei quê, fizeram uma banda… E depois chamaram-me a mim. Na altura havia uma outra rapariga, mas chamaram-me e pronto. Posteriormente, numa viagem de finalistas a Barcelona, a Joana teve a brilhante ideia de chamar o Figueiras para baixista.

MDX – E a coisa foi-se dando…
Alexandre – Algumas alterações e tal…
Joana – Houve chatices tipo Morangos com Açúcar [risos] mas pronto. Acho que conseguimos. Tivemos a sorte de encontrar um grupo consistente. Não é só trabalho, mas sim amigos.
Miguel – Sim, mais que trabalho amigos.
Alexandre – Um grupo de amigos a tentar criar arte.

MDX – E com um gosto musical semelhante.
Joana – Sim. Fomos aproximando.
Miguel – Também fomos crescendo juntos.
Joana – Já foi há muito, muito tempo, e já não me lembro nessa altura o que é que era música. E isto está a correr bem, também por isso. Porque nós crescemos juntos e porque fomos acompanhando as mesmas coisas.
Miguel – Cada um mostrava cenas novas e íamos ouvindo.
Alexandre – E isso acaba por facilitar a criação. E acaba por ser mais prático.

MDX – Quem vos ouve vê-se que vocês têm muitas influências. Eu identificava logo PAUS, ou Foals um bocadinho mais além. Mas no meio disto tudo, vocês conseguem fazer uma coisa única. Diferente.
Miguel – Não acho que directamente. Nós não pensamos nisso. Não é consciente.
Joana – Até houve um dia em que estávamos no carro a ouvir os primeiros álbuns dos Arctic Monkeys, e começámos a ver que tínhamos semelhanças. E nós: “Fogo… Como é que isto é possível?” Isto está ali no inconsciente. Nós fomos guardando várias coisas, várias influências e surgiu isso.

MDX – E como é que surgiu o nome de Galgo? Também foi uma coisa por acaso?
Joana – É assim, nós temos um grave problema com nomes.
Miguel – Por acaso de músicas não…
Joana – Sim, mais ou menos. Mas também é por não temos letras na maior parte das músicas. Galgo vem do verbo galgar. Também associamos isso um bocado ao nosso estilo, apesar de haver partes que não servem para isso. Mas também é um bocado a excitação das melodias, a agitação… A partir do galgar veio o galgo que também se associa a uma raça de cão que acabou por ser uma situação engraçada.
Alexandre – Esteve para ser o nome de uma música.

MDX – Falavam agora de tocar mais instrumental. Dá mais espaço para a improvisação ou são metódicos?
João – Acho que a nossa música é bem estruturada. Sabemos mais ou menos onde as coisas vão parar. Mas há espaço para isso. Mas não são jams, de todo.
Joana – Não improvisamos totalmente, mas há partes que nós nem temos as coisas bem definidas. Não temos os tempos para entrarmos todos. É um pouco na vibe do que se está a passar.
Miguel – É um bocado solto. Nós temos a cena rítmica. Não sou só eu ou eles. Somos todos. Damo-nos uns sinais uns aos outros.

MDX – Agora para além do Reverence, quais são os planos para o futuro?
Alexandre – Vamos lançar o EP.

MDX – E que tal isso está a correr?
Alexandre – Está a correr bem. Já gravámos e agora estamos na parte de mistura e falta pouco.
Joana – Vamos lançar o EP e depois é continuar a construir para lançar o álbum. Conseguir conciliar com os concertos.

MDX – É daquelas perguntas que espero voltar a repetir numa entrevista com vocês daqui a uns anos. Viver da música, gostavam da ideia?
João – Sim, gostávamos imenso.
Joana – Há pessoas que se lançam de cabeça e respeitamos isso. Mas sinto que tivemos alguma sorte por termos pessoas ao pé de nós a apoiar-nos e a saberem dizer: “Se calhar, aposta numa coisa que vos dê apoio. Ter um plano B.” Até porque cada um de nós está a tirar o seu curso. Mas claro, obviamente, sempre com isto na cabeça. Mas é fazer isto.

Os Galgo são uma das bandas que vão abrir o Festival Reverence Valada 2015, tocam hoje, 5ªfeira dia 27 de Agosto, no Palco Rio às 19h20, e o Música em DX lá estará para testemunhar o talento destes jovens no mais alternativo festival do verão português.

Mais informações sobre os Galgo:
Facebook oficial – https://www.facebook.com/galgogalgogalgo?fref=ts
Bandcamp – http://galgogalgogalgo.bandcamp.com/
Soundcloud – https://soundcloud.com/galgogalgo
Instagram – https://instagram.com/galgogalgogalgo/

Entrevista – Carlos Sousa Vieira
Fotografia – Luis Sousa