Backstage

Entrevista com Mark Steiner, Simplicidade e humildade em tom melancólico

No dia 25 de Junho Mark Steiner iniciava a sua tournée em Portugal para dar a conhecer o seu mais recente álbum, apelidado de “Saudade”. Nesse dia, estivemos à conversa com ele horas antes do concerto no Sabotage Rock Club. Falámos de Portugal, de melancolia, luta e esperança, em forma de espelho do álbum e do íntimo de Mark.

Música em DX (MDX) – Porquê o nome “Saudade”?
Mark Steiner (MS) – Porque adoro Portugal. Na verdade, a razão é pela palavra em si e pelo que significa e, também, por ser algo que penso que todos os seres podem entender, ou identificar-se mesmo que não haja tradução na maioria das línguas, exceto na Finlândia. Dei um concerto em Helsínquia no ano passado e quando estava a tentar explicar o que queria dizer Saudade, uma pessoa disse “nós temos uma palavra para isso, é Kaiho”, ao que parece é uma palavra muito antiga e eles não a usam muito, mas existe. É uma palavra extremamente bonita, muito forte e embora signifique perda, tristeza e dor, também tem bons sentimentos ligados a ela.

MDX – O álbum tem covers de Billie Holliday, Lou Reed, entre outros… Queres de alguma forma relembrar com saudade estes nomes?
MS – Sim! Há uma conexão com isso… As músicas originais das covers existentes no álbum foram feitas por pessoas que já não estão entre nós e algumas dessas pessoas até são desconhecidas como Rowland Howard, que conheci na Austrália, fiz uma tournée com ele um ano antes de falecer. Robert Soli Buras era meu amigo e faleceu em 2007. Já Bruno Adams, um Australiano que vivia em Berlim, também era meu amigo, conheci-o num bar famoso de Berlim Há duas razões pelas quais eu faço covers: a primeira é para ajudar a manter o artista vivo e a segunda é para fazer uma interpretação que não tem de ser igual à original. A minha ideia é que se as pessoas ouvirem, podem ter curiosidade de ouvir o original e abrir portas para um novo mundo musical que não conhecem, é uma pequena maneira de retribuir aos artistas o trabalho que fizeram.

MDX – E músicos mais conhecidos e já falecidos, como Jim Morrison ou Kurt Cobain por exemplo?
MS – Eu gosto imenso deles, claro! Mas covers deles já foram feitas inúmeras vezes. O problema de fazer uma cover de uma música muito conhecida é que as pessoas vão sempre julgar a tua versão em relação ao original e para mim isto não é sobre competição, é sobre preservação da memória, relembrar, respeitar e ganhar numa nova vida na reinterpretação.

MDX – O facto de a tournée começar em Portugal está de alguma forma ligado ao nome do álbum?
MS – Sim, em Portugal foi o primeiro país onde tive a oportunidade de fazer uma tournée internacional. Isso foi em 2006 e eu apaixonei-me pelo sítio, é um país lindíssimo com pessoas maravilhosas. Há algo relacionado com sensibilidade, a relação que as pessoas têm com o mar é muito parecida aquilo que eu sinto na Noruega. As pessoas precisam de saber que o mar está ali, mesmo que não vivam ao pé dele.

MDX – E porque motivos escolheste as cidades de Lisboa, Coimbra, Porto e Braga?
MS – Eu adoro Lisboa. Também já estive algumas vezes no Porto e nunca toquei lá, na última tournée em Portugal com Mick Harvey tocámos em Guimarães, Aveiro e Lisboa e fiquei com o sentimento de que faltavam cidades. Em relação a Coimbra também tenho uma relação muito próxima, conheço pessoas ali como por exemplo a Tracy Vandal.
Agora a banda é composta por 3 pessoas, Henry Hugo de Zurique, Pavel Cingl de Praga e eu… Na próxima vez que voltar espero que a banda seja maior e que toquemos em mais cidades. Os meus problemas estão sempre a mudar.

MDX – Qual foi a melhor experiência em Portugal?
MS – Há muito boas experiências aqui. Mas a melhor é a oportunidade de ter sido apresentado a Portugal. Quando vim a primeira vez senti um grande impacto em mim, as pessoas e a história… Eu acho que vocês são bastante interessantes tanto no geral como a nível histórico. Vocês têm muita integridade, conseguem ultrapassar as dificuldades, sobrevivem sempre sem desistir. Eu estive aqui antes da crise e agora após e sei que se perderam muitos postos de trabalho, as pessoas passaram e estão a passar por muitas dificuldades e continuam a lutar e a seguir o caminho. Eu admiro os portugueses e Portugal.

MDX – E em relação ao público português?
MS – Essa é outra razão. Musicalmente, Portugal é um país que aprecia o que eu faço e isso não acontece em todos os sítios. Por exemplo os Escandinavos são muito difíceis. Há uma diferença muito grande entre o norte e o sul da Europa no geral. Vocês são muito mais emocionais e não têm medo de mostrar isso. As minhas músicas são compostas por muitas emoções, tristeza, dor, alegria, humor e tudo o que a vida nos traz e o público português percebe isso muito bem.

MDX – Os vários projetos que tens tido ao longo dos anos: Mark Steiner and The Broken Men, Mark Steiner and The Debauchery, Mark Steiner and The Fallen Birds, Mark Steiner and The Fallen Little Birds e Mark Steiner and His Problems estão ligados a sentimentos tristes ou de perda, porquê? Sentes-te uma pessoa triste?
MS – Não diria que sou uma pessoa triste, acho que tenho tido a minha jornada de lidar com algumas dificuldades, perda e estados mais depressivos. A música sempre foi uma via de comunicação desses sentimentos e consigo remover essa dor e coloca-la nas músicas e as pessoas identificam-se também com isso, porque também já passaram ou passam por algo parecido ou igual. A música “Unbearable”, por exemplo, tem tido muitas reações por parte das pessoas, tenho uma amiga que chora sempre que toco essa música porque a lembra dos problemas emocionais que tem tido com a sua namorada. “Problemas” é apenas para ter algum nome mais negro relacionado com dificuldades, mas ao mesmo tempo que faça as pessoas rir sobre isso. Não é algo sobre depressão, é algo meio complicado.

MDX: O que podem os fãs esperar desta tournée?
MS – É uma tournée bastante pequena, são apenas 4 noites. Eles podem esperar música boa, com uma boa equipa de músicos internacionais, alguns convidados especiais, pessoas que gravaram comigo o álbum. Vamos ver, eu continuo a trabalhar em música que as pessoas gostem e espero receber convites para voltar cá mais vezes.

E assim foi, logo na primeira noite o público rendeu-se às músicas de Mark e, certamente, que vai voltar em breve.

Entrevista por – Eliana Berto
Fotografia – Rita Justino