Backstage

Entrevista com D’Alva, 1 ano de #batequebate

Humildade, crescimento, arte de fazer festa e de arrastar multidões tudo resumido a #somostodosdalva

Há um ano atrás os D’Alva saíam timidamente do estúdio e mostravam-se ao público. Nunca pensaram chegar aqui, pelo menos tão rápido. Há um ano atrás saía “batequebate” e o país virava-se do avesso. Este duo cheio de energia olha para trás e sente que passou uma eternidade, muitas coisas aconteceram, e outras tantas estão por acontecer. Para celebrar a data, os D’Alva estiveram dia 13 no Rivoli no Porto e vão estar sexta-feira, dia 19 de Junho, no CCB.

Música em DX (MDX) – Como é que se conheceram e como surgiram os D’Alva?
Alex – Eu era fã duma banda de punk que o Ben tinha. Na altura, organizava festivais e concertos na Moita e, numa dessas edições, convidei a banda do Ben, e mais uma vez eu estava sempre lá a frente e ia ter com ele. O Ben depois assistiu a um dos últimos concertos que dei e percebeu que havia algo de diferente em mim.

Ben – Quando vi que havia algo de especial, ofereci-me para gravar com a banda dele na altura. Começámos a trabalhar muito lentamente no início e fizemos o EP “Alex D’Alva Monteiro” mas a ideia era ele ficar como independente e eu ficar só por detrás. Estávamos a trabalhar no disco e percebemos que começou a ser criada uma identidade bastante própria, até diferente da do EP, percebemos que os dois estávamos a contribuir de igual modo e de repente essas coisas começaram a ser diferentes. No espaço de um ano, em que sai o EP e o disco, percebemos que somos D’Alva e ,dai vem o lema #somosdalva. Percebemos que era uma coisa que ia para além de nós os dois.

MDX – Agora que falaram da banda punk, como é que do punk vais para o pop?
Ben – A banda onde eu estava tinha origem punk-rock, um pouco mais pop, mas a música que me fez apaixonar por música foi o pop. Quando eu era miúdo, ouvia os 80’s e era o que havia. Na minha altura as bandas que ouvíamos na adolescência eram mais punk e grunge, era Nirvana, era Green Day, coisas mais pesadas. Depois isso abriram-se as portas a uma série de outras coisas, mas tanto para mim, como para o Alex, o que nos faz mover são as melodias que ficam na cabeça, é isso que nos entusiasma na música e é o que nos faz experimentar coisas novas. Decidimos fazer um disco exatamente como nós sempre quisemos fazer. Há canções nossas que são totalmente pop e há outras que vão beber a outras coisas. Para nós o caminho é fácil e toda a gente sempre ouviu pop, a verdade é essa. O pop comunica com muita gente.

MDX – Num dos vossos vídeos, dizem que mudou muita coisa de há um ano para cá e fizeram mais do que o que estavam a pensar fazer. O que é que fizeram e o que é que queriam fazer?
Alex – Não me recordo bem do que queríamos fazer, uma das coisas que queríamos era tocar no Alive e isso aconteceu logo. Queríamos de algum modo estar envolvidos no universo da moda que de alguma maneira tem uma ligação com a música e prevíamos que isso acontecesse só agora, por exemplo, ou daqui por mais um ano e aconteceu passado seis meses. Recebemos um convite do Luís Carvalho que nos viu no Alive e passado uns dias fomos convidados para fazer parte dum desfile e depois ainda fizemos uma parceria com a Opel e a Moda Lisboa.

Ben – Também queríamos estar associados a grandes marcas e isso também aconteceu. Queríamos tocar q.b. e aconteceu, queríamos pautar pelas performances ao vivo e fomos nomeados para melhor performance ao vivo e banda revelação no Portuguese Festival Awards. Para além de todas as pessoas que conhecemos. Já fizemos coisas que o comum dos mortais não vai fazer e só isso já vale muito mais que dinheiro.

MDX – O que significou irem ao Alive um par de meses depois do álbum de estreia sair?
Alex – Na altura era uma experiência assustadora. Deram-nos a escolher entre o Heineken e o Clubbing e nós preferimos tocar no palco mais pequeno. Era a primeira vez que íamos tocar num festival com aquela dimensão e para uma plateia tão vasta, diversa e numerosa e tudo era novo. Nem sequer sabíamos como é que o disco ia funcionar naquele ambiente…Mas correu muito bem. Havia pessoal de bandas que eu gosto muito a assistir e isso foi muito bom.

Ben – Correu exatamente como tinha de correr, quando acabou tínhamos estrangeiros a querer vir falar connosco no final a dizer “não percebo nada do que vocês dizem mas fui comprar o CD”. Eu acredito piamente que a música, quando consegue comunicar com as pessoas independentemente do contexto ou da língua, é porque está a fazer o seu trabalho. Não cabiam mais pessoas à nossa frente e foi nesse dia que ganhámos grande parte dos fãs que temos agora. No dia do Alive demos 16 entrevistas, passamos o tempo todo no backstage. Era muito bonito o que estava a acontecer e as pessoas queriam fazer parte disso e por isso é que há, também, a #somosdalva, não é uma coisa só nossa. Nós não estávamos aqui se não houvesse pessoas a ouvir a nossa música e a ir aos concertos e nós tentamos criar essa proximidade. Há amigos que nós fizemos em dias de concerto e continuamos a fazer.

MDX – O que é que preferem: sala ou festival?
Alex e Ben – Festival, óbvio. O festival é o nosso ambiente natural, é o que nós sabemos fazer bem.

Alex – Nós somos uma banda de festa, apesar de irmos fazer agora salas como o Rivoli e o CCB isso para nós é um desafio.

Ben – Já fizemos alguns auditórios mas percebemos que não podemos fazer a mesma coisa que fazemos em festival, não funciona da mesma maneira e ai também somos nós a crescer enquanto banda e enquanto entidade.

MDX – Com a fasquia elevada deste ano para cá, como é que vocês estão a preparar o novo álbum? Como é que se sentem? Têm medo? Como é que está a ser?

Alex – Há uma pressão, na medida em que este álbum correu mesmo muito bem, e então está toda a gente com curiosidade. Desde o início que estamos sempre a surpreender as pessoas e elas estão sempre a espera do que vamos fazer a seguir. Sentimos essa responsabilidade.

Ben – Nós também nos queremos surpreender e pautar por fazer coisas em que nós próprios nos sentimos entusiasmados. Eu tenho que acreditar que se eu e o Alex conseguirmos estar mentalmente no sítio onde estávamos quando estávamos a fazer o “batequebate”, seremos imparáveis, e é uma questão de confiar no que sabemos que fazemos bem. Mas para já não estamos a pensar nisso, estamos a pensar nestes concertos, neste verão. Queremos muito não só consolidar o que já fizemos até aqui mas também subir ainda mais a fasquia e depois pensamos no que vamos fazer com calma. Já estamos a pensar em músicas novas mas devagar.

MDX – Gostavam de, um dia, abrir algum concerto em especial?
Alex – Eu gostava de provocar situações, não gostava de abrir um concerto dum artista que goste bastante. Há uma banda que gosto imenso, os Astro, do Chile e gostava de dar um concerto com eles para eles poderem tocar em Portugal, era mais isso. Gostava que houvesse mais pessoas a ouvir a música deles. Mas abriria algo mais recente, os 1979.

Ben – Cansei de Ser Sexy, sem CCS não havia D’Alva. O Silva também, mas se calhar para fazer uma colaboração, era preciso haver um encontro entre os 2 mundos, ele teria de subir um pouco o nível e nós teríamos de baixar o nosso.

MDX – Como é que veem o panorama musical português na atualidade?
Ben – A nível criativo melhor que nunca. Não precisamos de grandes condições para fazer música, basta um Mac e o Youtube para ensinar. A nível da indústria está uma decadência. Se estamos a viver uma altura economicamente complicada no país, o primeiro sitio onde se sente é na música, na cultura…Não para todos, há sempre aqueles nomes grandes que não sentem isso, mas nós não somos um nome grande, embora estejamos em ascensão notamos muito isso. A maneira de trabalhar a música devia mudar urgentemente. Há um desfasamento muito grande entre bandas e isto é a indústria velha. Nós não somos anti indústria da música mas gostávamos que houvesse uma melhoria de como as coisas funcionam.

Alex – Resumindo, ouçam as Golden Slumbers e o Tiago Sá, é o que eu gosto mais de coisas novas. Mas há mais, Ana Cláudia, Isaura, Cave Story. O problema é que quando a música se torna competitiva, as pessoas não percebem que se não se ajudarem umas as outras as bandas não melhoram, logo a música portuguesa não melhora, logo a indústria da música não melhora.

MDX – Como foi trabalhar com a Capicua?
Ben – Foi um bocado assustador na altura, não éramos ninguém. O instrumental que lhe enviamos não era o que ela estava habituada a fazer, e havia o risco de ela dizer que não. Ficámos a perceber que ela é muito criteriosa com o trabalho dela e com o que faz. Depois de percebermos como é que ela trabalha, a participação dela tornou-se ainda mais especial. Hoje em dia canta a canção que fez connosco ao vivo numa versão um pouco diferente. É a nossa rapper favorita.

Alex – No início quando estávamos a fazer a música, ouvíamos a parte instrumental e pensávamos que era muito fixe ser um rapper a cantar. Fizemos uma lista de rappers que só tinha 2 pessoas, entre elas a Capicua. Também já existia a ligação pessoal e admiramo-la bastante.

MDX – A música da vossa vida? E o álbum?
Alex – (muito difícil) Mas a música: “Bang Bang Bang” da banda Big Bang, e o álbum, talvez o Homónimo do James Blake e o novo álbum da Bjork.

Ben – A música é “Tuna in The Brine” dos Silverchair, e o álbum “Diorama” dos Silverchair.

MDX – Qual é a coisa mais engraçada/pitoresca que vos aconteceu ao longo deste ano?
Ben – No Alive, para além do Clubbing, tocámos no Coreto e aí estreámos uma coisa que se chama D’Alva Redux, em que sou eu, o Alex, por vezes a Carolina e o baterista. Aqui temos versões das nossas canções mais dançáveis, uma espécie de Live Act, é mais festivo que outra coisa. Era a primeira vez que fazíamos aquilo e havia uma mesa gigante cheia de material, era um monte de coisas que estávamos a fazer pela primeira vez, muita coisa podia correr mal e estávamos com medo. Durante o tempo todo que estamos a tocar, há qualquer coisa que não está a correr bem no som, sentíamos o som estranho. Então aconteceram 2 coisas complicadas: havia mesmo um problema técnico que estava a acontecer que não era da nossa responsabilidade e quando estamos nós a tocar, com o instrumental em cima aquilo de repente pára. Nós ficamos “e agora?” já havia problemas e o som já estava estranho, de repente aquilo pára e ficamos a olhar um para o outro…Estava alguém no público a gritar “faz à capela”, então o Alex usou o instrumento dele de gravar em loop, fez uns batuques com as mãos e gravou, foi gravando umas camadas em cima e tocámos a música toda assim, felizmente tínhamos alguns instrumentos acústicos para ir tocando. Estávamos a suar por todos os poros e devo ter “morrido cinco vezes”, mas hoje toda a gente nos diz que foi o ponto alto. Hoje em dia ficamos a saber que há pessoas que esperam que a coisa corra mal para ver o que é que vai sair dali, mas é assustador.

MDX – Como se sentem em relação ao convite para tocar no concurso de bandas da Antena 3 em Setúbal?
Ben – É muito interessante! Já participei em vários concursos de bandas e há sempre um convidado musical. As bandas todas passam, chega o convidado, e depois há aquela coisa, aquela solidez já na performance, é completamente diferente. E agora somos nós os convidados em vez de participantes e é muito especial.

MDX – E para dia 19 no CCB, com o que podemos contar?
Ben – Não vai haver bolo mas vai haver uma coisa melhor, vai haver uma forma de celebração bastante particular, vai ser uma surpresa e não posso dizer o que é, mas quem lá estiver não vai esquecer de certeza. É algo que já estamos a preparar há imenso tempo, vai ser muito D’Alva. Vamos ter um alinhamento diferente, alguns convidados, vamos ter 2 amigos em palco, 2 artistas pop da nova geração, a Isaura e o Diogo Piçarra. Estamos também a fazer versões diferentes, está a ser interessante e achamos que vai ser uma coisa bastante especial. Estamos a planear não um concerto mas um espetáculo. Vamos ter a energia que as pessoas já associam aos nossos concertos e outros momentos bastante dignos. Estamos a apostar forte na produção, para ficar tudo como um todo e nada ao acaso, cada instante tem de ser pensado e criar uma viagem para quem for assistir. Não vamos trazer nenhuma canção nova, mas vamos revisitar muitas das nossas canções, estamos a fazer arranjos e vamos tocar coisas de outras pessoas também. Queremos que, quem pagou, saia de la a pensar que valeu mesmo a pena. Quem tiver dúvidas venha na mesma, porque vai ser mesmo especial.

Os D’Alva farão a sua estreia no CCB na próxima 6ªfeira, dia 19 de Junho, e pretendem apresentar ao vivo o álbum de estreia da banda, com muitas surpresas, e convidados à mistura. Prometem também que será um espetáculo inesquecível, assim esperamos.

Entrevista por – Eliana Berto
Fotografia – Luis Sousa