Concertos Reportagens

White Hills, mitologia pós apocalíptica

Os White Hills estiveram em Portugal. Ego Sensation e Dave W estiveram em Lisboa. No Sabotage Club. No passado domingo ofereceram um concerto irrepreensível para uma casa a pouco mais de meio gás.

20170625 - Concerto - White Hills @ Sabotage Club

É verdade que isso não diminui em nada o seu trabalho. Tocaram para uma casa a meio gás como se estivessem num estádio cheio e com a garra característica da sua sonoridade encheram e preencheram todos os espaços livres do clube do Cais do Sodré e os presentes corresponderam à entrega da banda.

Fizeram estremecer paredes e corpos.

Actualmente em tour para promover o seu mais recente registo, Stop Mute Defeat editado há pouco mais de um mês, abriram as hostilidades pouco passava das 23 horas com uma faixa que neste momento ainda é difícil de encontrar, mas que caracteriza o momento pelo qual esta dupla criativa passa actualmente. VI X, lado B de Pulse, lançado ontem, 28 de Junho, é uma declaração inequívoca, quase uma denúncia de tudo o que de errado se passa actualmente, ou o seu somatório. “VI-X“, é o termo científico usado para se referir à sexta maior extinção na Terra, sendo esse o momento que actualmente vivemos. Ego Sensation trouxe consigo a névoa toda do mundo e fez questão de nos envolver nela ao longo de todo o concerto pisando com uma convicção fabulosa o pequeno pedal que a libertava e nos envolvia rapidamente a todos. We are what we Are, we are what you see, assim cantam em uníssono sobre o poderoso som que produzem,a abrir caminho às novas músicas e mostrando-se arautos de um psicadelismo que volta a pisar terrenos contestatários e controversos.

20170625 - Concerto - White Hills @ Sabotage Club

A postura combativa e desafiadora, o sorriso ora cerrado ora provocador de Ego Sensation e Dave não engana e acompanhados por um baterista ainda mais temíveis se tornam, como se de um só grito derrubassem meia cidade. Têm algo mais a dizer que aquilo que estamos na realidade a ouvir. Irão dizê-lo em Attack Mode, através dos ritmos compassados e dos quais é impossível distanciar a voz de comando de ambos. Regressam um pouco atrás e oferecem-nos Hand in Hand de H-p1 de 2011, carregando com intensidade no efeito quase ensurdecedor que nos remete para um psicadelismo industrial e negro. Pesado, de tal forma pesado como se quase ficássemos presos ao chão, num prelúdio que nos levaria novamente a 2017 com Entertainer, Overlord e Trick of the Mind num piscar de olho a um certo pós punk. Apesar de não terem a casa cheia que o seu trabalho merece, é um facto que souberam levar este contratempo com um glamour que poucos têm e presentearam o público com um pequeno encore que nos deixou um zumbido que se prolongará por toda a semana. Controversos, perturbadores da ordem, instigadores da revolução, a música dos White Hills ultrapassou-se a si própria, inserindo a banda num nicho tão à parte mas ao mesmo tempo tão mundano.

As noites de domingo tem o infeliz hábito de ser ingratas para as bandas. Neste caso a noite terá sido especialmente ingrata para quem faltou a este encontro.

 

Texto – Isabel Maria
Fotografia – Luis Sousa